Em geral, as traduções usadas pela cristandade traduzem assim o texto de 2 Pedro 1:1:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo,
aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.”
– Almeida Corrigida e Revisada Fiel;
grifo acrescentado.
Essa forma de verter tal texto coloca Jesus como
sendo o Deus dos cristãos. Por outro lado, a Tradução do Novo Mundo verte assim tal passagem:
“Simão
Pedro, escravo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que adquiriram uma fé tão
preciosa como a nossa por meio da justiça do nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo.” - Grifo acrescentado.
Nota-se que tal tradução distingue o Deus dos cristãos (“nosso
Deus”) do Salvador Jesus Cristo.
Em razão disso, essa tradução tem sofrido críticas por parte
dos que usam as traduções da cristandade e que acreditam que Jesus Cristo seja
o Deus dos cristãos.
Mas, a Tradução do Novo Mundo (NM) estaria gramática e biblicamente incorreta ao optar por
essa forma de verter o texto de 2 Pedro 1:1?
A questão gramatical –
uma regra ignorada pelos trinitaristas
O texto grego verte 2 Pedro 1:1 literalmente assim:
2 Pedro
1:1:
ἐν δικαιοσύνῃτοῦ θεοῦἡμῶν καὶσωτῆρος ἸησοῦΧριστοῦ
en
dikaiosýnei toû Theoû hemôn kaì sotêros Iesoû
Khristoû
pela
justiça do Deus
nosso e Salvador Jesus Cristo
Contudo, verter o texto desse modo conflita com o versículo seguinte.
Observe:
2 Pedro
1:2:
ἐν ἐπιγνώσει τοῦ θεοῦ καὶἸησοῦτοῦ κυρίου
ἡμῶν
en epignósei toû Theoû kaì
Iesoû toû kyríou hemôn
pelo
conhecimento exato do Deus e do nosso Senhor Jesus
Como vimos, a construção em 2 Pedro 1:2 repete o artigo definido antes
da segunda pessoa, fazendo clara diferenciação entre Deus e Jesus Cristo.
Todas as traduções da cristandade pesquisadas para este artigo vertem 2
Pedro 1:2 de modo a diferenciar Deus de Jesus Cristo.
Assim, as traduções que vertem 2 Pedro 1:1 de modo a identificar Jesus
com o Deus dos cristãos entram em contradição com o versículo seguinte, o qual
diferencia Jesus do Deus dos cristãos.
Algumas traduções católicas e evangélicas, reconhecendo essa clara
imprecisão, ou contradição, vertem 2 Pedro 1:1 de modo a diferenciar Jesus de
Deus.
A Bíblia na Linguagem de Hoje coloca a seguinte nota de rodapé a respeito da
primeira construção no versículo 1: “do nosso Deus … Cristo; ou do
nosso Deus e do nosso Salvador Jesus Cristo.”
“Simão
Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, pela justiça do nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo,
alcançaram por partilha uma fé tão preciosa como a nossa,graça e paz vos sejam dadas em abundância por um
profundo conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor!”
De modo similar, lemos na American Standard Version:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de
Jesus Cristo, aos que obtiveram uma preciosa fé semelhante à nossa na justiça
de nosso Deus e [o] Salvador Jesus
Cristo: Graça e paz sejam multiplicadas no conhecimento de Deus e de Jesus
nosso Senhor.” (Os colchetes e o artigo masculino definido são dessa tradução.)
Também, a Catholic Public Domain Version (Versão Católica de Domínio Público)
verte assim:
“Simão Pedro, servo e apóstolo de
Jesus Cristo, àqueles a quem foi atribuída a mesma fé conosco na justiça de nosso Deus e em nosso Salvador
Jesus Cristo. Graças para vós. E que a paz seja cumprida de acordo com o
plano de Deus e de Cristo Jesus nosso Senhor.”
Portanto, a bem da harmonia doutrinal entre os dois versículos, o que
ocorre em 2 Pedro 1:1 é a identificação de outra regra, a qual estabelece
verdadeiramente que, quando duas pessoas diferentes são
ligadas por “e” (καί), se a primeira pessoa for precedida pelo
artigo definido, não é necessário repetir o artigo definido antes da segunda
pessoa. Podemos chama-la de regra da elipse, ou omissão, do artigo.
O artigo, nesse caso, estará subentendido. Isso está em harmonia com a
característica frequentemente elíptica da língua grega.
A questão contextual – quem é o Deus dos
cristãos?
O que torna
indiscutível a existência dessa regra na tradução de 2 Pedro 1:1 é a evidência bíblica
contextual, que mostra que o Deus dos cristãos não é o Senhor Jesus Cristo, e
sim o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
A crença de que existe um espírito
ou alma imortal (que para alguns é a mesma coisa) que sobrevive após a morte do
corpo é comum no meio da cristandade. E uma das “provas” que eles usam para
validar essa crença é o episódio da transfiguração, onde Jesus supostamente
conversou com o espírito (ou alma) dos já mortos Moisés e Elias.
Mas, será que Jesus conversou
mesmo com essas “pessoas”? Para entender que a resposta é NÃO, basta pensar no
seguinte:
Será que Jesus cumpriu
inteiramente a Lei Mosaica? Mateus 5:17 diz: “Não pensem que vim destruir a
Lei ou os Profetas. Não vim destruir, mas cumprir.” E Gálatas 4:4 mostra que
Jesus na Terra estava “debaixo da lei”, NVI.
Esses textos são claros em mostrar
que Jesus foi o único que cumpriu com perfeição a Lei. Será que algum
momento Jesus deixou de cumpri-la?
Dizer isso soa até como heresia,
não é mesmo? Mas é justamente isso que afirmam indiretamente aqueles que dizem
que Jesus conversou com os já mortos Elias e Moisés!
Sim, a Lei dizia em Deuteronômio
18:10-12: “Não permitam que se ache alguém entre vocês que...seja médium ou
espírita ou que consulte os mortos. O Senhor têm repugnância por quem pratica
essas coisas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, o seu Deus, vai
expulsar aquelas nações da presença de vocês.” – Nova Versão Internacional.
Será que Jesus descumpriu essa lei, conversando com os
mortos? Há quem possa dizer que eles estavam vivos no céu, mas Jesus é claro em
dizer que ninguémtinha ido para o
céu antes de ele descer para cá. Ele declarou: “Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o
Filho do homem [Jesus Cristo].” (João 3:13, NVI.) A Bíblia
também é clara em dizer que Cristo foi o primeiro a ganhar uma ressurreição
celestial, descrevendo-o como “o princípio e o primogênito dentre os mortos”. – Colossenses 1:18, NVI.
Sendo assim, ou Moisés e Elias
estavam mortos, inconscientes (conforme Eclesiastes 9:5, 10) ou teremos que invalidar
a declaração de Jesus em João 3:13, e ainda mais, dizer que ele pecou, descumprindo a
lei de Deus. Isso seria um atentado contra a doutrina central do Resgate!
“Pois os vivos sabem que morrerão,
mas os mortos nada sabem. O que as
suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na
sepultura [hebraico:Seol], para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria.”
– Eclesiastes 9:5, 10.
Sendo assim, pergunto: Vamos crer
que o episódio da transfiguração foi uma visão,
assim como Jesus disse (em Mateus 17:9) e que Moisés e Elias estavam realmente
mortos, sendo assim, nada de espírito ou alma imortal, assim como a Bíblia
ensina (em Ezequiel 18:4) ou vamos dizer que Jesus mentiu e descumpriu a lei?
“Enquanto desciam do monte,
ordenou-lhes Jesus: A ninguém conteis esta visão, até que o Filho do homem
ressuscite dentre os mortos.” – Mateus 17:9, Sociedade Bíblica Britânica; também Tradução
Brasileira.
“A alma que pecar, essa morrerá.”
– Ezequiel 18:4, Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada,publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
“Porque o reino dos céus é semelhante a um homem,
um dono de casa, que saiu cedo de manhã para contratar trabalhadores para o seu
vinhedo. 2 Tendo concordado com os trabalhadores em um
denário[1]
por dia, mandou-os ao seu vinhedo. 3 Saindo também por
volta da terceira hora,[2]
viu outros parados, sem emprego, na feira; 4 e ele disse
a estes: ‘Vós também, ide ao vinhedo, e eu vos darei o que for justo.’ 5 De
modo que eles foram. Ele saiu novamente por volta da sexta hora[3]
e da nona hora,[4] e fez o mesmo. 6 Finalmente,
por volta da décima primeira hora,[5]
saiu e encontrou outros parados, e disse-lhes: ‘Por que ficastes parados aqui o
dia todo sem emprego?’ 7 Eles lhe disseram: ‘Porque
ninguém nos contratou.’ Disse-lhes: ‘Ide vós também ao vinhedo.’
8 “Quando anoiteceu, o dono do vinhedo disse ao
seu encarregado: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes o seu salário, passando
dos últimos para os primeiros.’ 9 Ao chegarem os homens
da décima primeira hora, cada um deles recebeu um denário. 10 Portanto,
ao chegarem os primeiros, concluíram que receberiam mais; mas eles também
receberam o pagamento à razão de um denário. 11 Tendo-o
recebido, começaram a murmurar contra o dono de casa 12 e
disseram: ‘Estes últimos fizeram uma só hora de trabalho; ainda assim os
fizestes iguais a nós, os que levamos o fardo do dia e o calor abrasador!’ 13 Mas
ele disse, em resposta, a um deles: ‘Amigo, não te faço nenhuma injustiça. Não
concordaste comigo em um denário? 14 Toma o que é teu e
vai. Eu quero dar a este último o mesmo que a ti. 15 Não
me é lícito fazer o que quero com as minhas próprias coisas? Ou é o teu olho
iníquo porque sou bom?’ 16 Deste modo, os últimos serão
primeiros e os primeiros, últimos.”
Explicação das siglas usadas:
it: obra Estudo Perspicaz das Escrituras, publicada pelas Testemunhas de Jeová. O número em sequência indica o volume.
Notas:
[1]Moeda romana de prata, que pesava cerca de 3,85 g, equivalendo a cerca de US$ 0,74. Levava a imagem da cabeça de César e era a “moeda do imposto por cabeça”, que os romanos exigiam dos judeus. (Mat. 22:19-21) Os lavradores recebiam em geral um denário por um dia de 12 horas de trabalho. (Mat. 20:2) – It-1, p. 683.
[2] Das 8 às 9 horas.
[3] Das 11 às 12 horas.
[4] Das 14 às 15 horas.
[5] Das 16 às 17 horas.
O
texto acima unificado da Bíblia Sagrada é baseado na Tradução do Novo Mundo das
Escrituras Sagradas,publicada pelas Testemunhas de
Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados,
desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
O artigo anterior considerou o
maravilhoso exemplo deixado pelo apóstolo cristão Paulo em usar seus talentos e
conhecimentos, bem como posição social, para disseminar o Evangelho de Cristo.
Neste artigo, consideraremos o
exemplo do discípulo e médico Lucas.
Lemos em Colossenses 4:14: “Lucas,
o médico amado, lhes manda saudações.” Observe que Paulo, escritor
da Carta aos Colossenses, mencionou Lucas como “o médico amado”, em vez de dizer ‘o irmãoamado’. Isso parece sugerir que o
irmão cristão Lucas era renomadamente conhecido no meio cristão por sua profissão,
evidentemente devido à prestação de assistência médica voltada aos discípulos
cristãos. Em decorrência disso, ele era amado, não apenas como irmão, mas
também como médico. Essa era uma forma indireta
de alavancar o cristianismo recém-formado, pois ajudava a restaurar e a manter a
saúde dos evangelizadores cristãos.
Inclusive, Lucas foi um
leal companheiro de evangelização do apóstolo Paulo. Ele acompanhou Paulo de
Trôade a Filipos, entre 49-52 EC, e à Judeia, por volta de 56 EC. Após isso
acompanhou Paulo (que já estava detido pelo sistema judicial romano) a Roma em
cerca de 60 EC. De lá, ele enviou por intermédio da Carta aos Colossenses seus
cumprimentos aos cristãos daquela cidade. – Veja Atos 16:10-17; 20:5-21:18;
27:1-28:16, e a obra Estudo Perspicaz das
Escrituras, volume 2, verbete “Lucas”, p. 722.
Quão maravilhoso era para o
apóstolo Paulo ter ao seu lado um cristão zeloso e que podia lhe prestar
assistência médica!
Contribuição com informações técnicas às Escrituras
A respeito da contribuição
de Lucas para descrever com exatidão quadros clínicos relatados nas Escrituras
Gregas, temos o comentário do Dr. C. Truman Davis:
Onde
é dada uma descrição médica, ela é meticulosamente exata. Lucas usa um total de
vinte e três palavras técnicas gregas, encontradas em Hipócrates, Galeno e
outros escritos médicos daquela época.[1]
Outra fonte afirma que
Lucas utilizou mais de 300 termos médicos ou palavras com sentido médico, que
não são usados do mesmo modo pelos demais escritores do chamado “Novo
Testamento”.[2]
Observe sua sensibilidade nesse
respeito nas passagens abaixo:
“Mas Jesus o censurou [o demônio], dizendo:
‘Cale-se e saia dele.’ Assim, depois de lançar o homem no chão no meio deles, o
demônio saiu dele sem feri-lo.” – Lucas 4:35.
“Depois de sair da sinagoga, ele [Jesus] entrou na
casa de Simão [Pedro]. A sogra de Simão estava sofrendo, com uma febre alta,
e pediram a ele que a ajudasse.” – Lucas
4:38.
“E havia ali uma mulher que tinha um espírito de fraqueza havia 18 anos; ela
estava encurvada e não conseguia de modo algum se endireitar.”
– Lucas 13:11.
“E na frente dele estava um homem que sofria de hidropisia [“Ou:
‘edema’, uma acumulação excessiva de líquido no corpo”, nota].” –
Lucas 14:2.
“Mas um mendigo, chamado Lázaro, costumava ser
colocado junto ao portão dele, e estava coberto
de feridas.” – Lucas 16:20.
Embora a escrita das Escrituras
tenha sido feita sob a inspiração divina, isso não excluiu a permissão, dentro
de certa latitude, para que os escritores usassem seu próprio estilo de escrita
e conhecimentos que detinham. – Veja Eclesiastes 12:10.
O acalentador exemplo deixado pelo
discípulo e médico Lucas sem dúvida merece ser seguido, bem como o do apóstolo
Paulo, descrito no artigo anterior. Evidentemente, muitos outros personagens
bíblicos poderiam ter sido citados. E o exemplo deles nos incentivam a usarmos
nossos dons, talentos, conhecimentos, posição e condição socioeconômica para
incrementar a divulgação do Evangelho.
Notas:
[1]— Arizona Medicine (Medicina do Arizona), março de 1966, “Medicine and the Bible” (A Medicina e a Bíblia), p. 177; apud “Estudo Perspicaz das Escrituras”, vol. 1, verbete “Doenças e tratamento”, p. 736, , publicado pelas Testemunhas de Jeová.
[2]The Medical Language of Luke, 1954, W. K. Hobart, páginas xi-xxviii; apud “Toda a Escritura É Inspirada e Proveitosa”, p 187, publicado pelas Testemunhas de Jeová.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada,publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Dois excelentes exemplos em usar a
capacitação profissional para disseminar o Evangelho foram o apóstolo e
operador do Direito Paulo e o discípulo e médico Lucas.
Paulo, também conhecido como Saulo
de Tarso, teve excelente formação cultural e profissional no Direito de sua
época. Havia sido instruído pelo renomado erudito Gamaliel, o primeiro a
receber o título de Rabban (superior a Rabi [instrutor]”).
Assim, o notável conhecimento de
leis que veio a adquirir, somado ao seu status
social de cidadão romano, fez de Paulo um valioso expoente do recém-formado
cristianismo. Acrescente-se a isso o seu domínio do hebraico (sua língua nativa), bem como do grego, e possivelmente do
latim.
Obviamente, o conhecimento que
Paulo tinha do Direito Hebraico o ajudou a entender doutrinas profundas, como a
da justificação pela fé e o resgate, as quais são profundamente fundamentadas
pela Lei de Deus dada a Israel. Embora sua carta aos Romanos não tenha sido a
primeira a ser escrita por ele, essa carta foi colocada em primeiro lugar na
ordem das cartas bíblicas, devido a ser fundamental para se entender as duas
doutrinas já mencionadas.
Tão profundo era o seu entendimento
das doutrinas bíblicas, que os anciãos de Jerusalém só vieram a entender anos
depois a doutrina da justificação pela fé à parte de obras da Lei mosaica.
(Veja Atos 21:21-24, e o artigo “Como lidar com dúvidas e desapontamentos”.)
Ademais, o conhecimento material
e processual que Paulo tinha do Direito Romano o ajudou a ter acesso à mais
alta autoridade da época – o imperador de Roma. Ele sabia em que fase
processual do julgamento ele podia, qual cidadão romano, apelar para o
imperador, e fez eficiente uso desse conhecimento. (Veja Atos 25:8-12.) Assim,
ele cumpriu a vontade divina, de que deveria levar o nome de Jesus “a reis”. –
Atos 9:15.
Seus conhecimentos e a ampliação
de seu entendimento por meio do espírito santo de Deus, conjugados com sua
nobre humildade, prestaram um não dimensionável serviço a toda a humanidade,
desde aquele tempo. Paulo foi utilizado por Deus para escrever a maior
quantidade de livros bíblicos – escreveu 14 cartas apostólicas.
Certamente, Saulo Paulo de Tarso
deixou um admirável exemplo de alguém que usou tudo o que tinha – conhecimento
profissional, status, idiomas, bem
como tempo e energia – na promoção do Evangelho.
A pergunta que fica é esta: Será
que estamos fazendo o melhor que podemos neste sentido?
O próximo artigo discorrerá sobre
o exemplo deixado pelo discípulo e médico Lucas.
E, enquanto saía, chegou correndo certo governante;
e, aproximando-se, se pôs de joelhos diante dele, perguntando-lhe: “Bom
Instrutor, que preciso fazer de bom, para herdar a vida eterna?” Jesus
disse-lhe: “Por que me chamas de bom [e] por que me perguntas sobre o que é
bom? Ninguém é bom, exceto um só, Deus. Há um que é bom. Se queres, porém,
entrar na vida, observa continuamente os mandamentos.” Disse-lhe ele: “Quais?”
Jesus disse: “Ora, sabes os mandamentos: não deves assassinar, não deves
cometer adultério, não deves furtar, não deves dar falso testemunho, não
defraudes, honra a teu pai e a tua mãe; e, tens de amar o teu próximo como a ti
mesmo.”[1]
O jovem disse-lhe então: “Instrutor, tenho guardado
a todos estes desde a mocidade; que me falta ainda?” Jesus olhou para ele e
sentiu amor por ele, e disse-lhe: “Há ainda uma coisa que falta a respeito de
ti: Se queres ser perfeito, vende todas as coisas que tens e distribui aos
pobres, e terás um tesouro nos céus; e vem ser meu seguidor.” Quando o jovem
ouviu estas palavras, ele ficou triste e se afastou profundamente contristado,
pois tinha muitas propriedades.
Jesus olhou para ele e, depois de olhar em
volta, disse aos seus discípulos: “Quão difícil será para os que têm dinheiro
abrirem caminho para entrar no reino de Deus!” Mas os discípulos ficaram
surpresos com as suas palavras. Em resposta, Jesus disse-lhes novamente:
“Filhos, quão difícil é entrar no reino de Deus! Novamente, eu vos digo: É mais
fácil para um camelo passar pelo orifício duma agulha de costura, do que para
um rico entrar no reino de Deus.” Quando os discípulos ouviram isso, eles
ficaram ainda mais assombrados e disseram-lhe: “Quem, realmente, pode ser
salvo?” Olhando diretamente para eles, Jesus disse-lhes: “Aos homens isto é
impossível, mas não é assim para Deus, pois para Deus todas as coisas são
possíveis.”
Pedro disse-lhe então, em resposta: “Eis que
abandonamos todas as nossas próprias coisas e te temos seguido; o que haverá
realmente para nós?” Jesus disse-lhes: “Deveras, eu vos digo: Na recriação,
quando o Filho do homem se assentar no seu glorioso trono, vós, os que me
seguistes, também estareis sentados em doze tronos, julgando as doze tribos de
Israel. E todo aquele que tiver abandonado casas, ou esposa, ou irmãos, ou
irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por causa do meu nome e pela causa
das boas novas do reino de Deus, receberá de algum modo muitas vezes mais
agora, neste período de tempo, casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e
campos, com perseguições, e no vindouro sistema de coisas herdará a vida
eterna. Porém, muitos que são primeiros serão últimos, e os últimos,
primeiros.”
Nota:
[1]
Êxo. 20:12-16; Deut. 5:16-20; Lev. 19:13, 18.
O
texto acima unificado da Bíblia Sagrada é baseado na Tradução do Novo Mundo das
Escrituras Sagradas,publicada pelas Testemunhas de
Jeová.
Certo leitor deste site apresentou
uma argumentação em favor da tradução “a Palavra era um deus” (João 1:1, NM), utilizando uma frase do erudito
bíblico William Barclay, frase essa que reza:
“Quando o grego se refere a Deus
ele não diz simplesmente theós [“deus”];
ele diz ho theós [“o deus”]”[1].
Diante disso, tal leitor recebeu
uma contra-argumentação de um trinitarista, a qual foi enviada a este site.
A matéria abaixo é uma refutação a
algumas afirmações desse trinitarista, as quais estão em itálico. Ele afirmou:
“Acima citei um texto do NT [Novo Testamento] em que fica claro que
isso [a declaração de Barclay] não procede. Eu disse: ‘2 Cor. 1:3 (é ele Deus
de Consolação ou [um] Deus de consolação?). No grego consta: ‘και Θεος πασης
παρακλησεως (Kaì Theós pasês parakleseôs [os erros de acentuação no grego são
desse trinitarista]: e Deus de toda consolação). Pela lógica proposta pela TNM [Tradução
do Novo Mundo] para Jo[ão] 1:1, deveríamos inserir na tradução [de 2 Cor 1:3] o
artigo indefinido ‘um’ antes do substantivo ‘Deus’, porque no grego não consta
o artigo defino ‘hó’ (‘o’), mas a TNM 2015, não só não faz isso, como INSERE UM
ARTIGO DEFINIDO num texto que no grego NÃO TEM ARTIGO ALGUM, assim traduzindo: ‘O
Deus de todo o consolo.’”
Resposta:
Barclay declarou: “Quando o grego
se refere a Deus ele não diz simplesmente theós
[“deus”]; ele diz ho theós [“o
deus”]”.
Essa declaração de Barclay, a meu
ver, só poderia ter sido feita dentro do contexto de João 1:1. Como o tal comentarista
trinitário demonstrou com 2 Coríntios 1:3, há textos – e são diversos – que
usam théos anartro (sem artigo) referindo-se
ao Pai.
Contudo, tal trinitário peca em
suas conclusões subsequentes, ao afirmar:
“Pela lógica proposta pela TNM [Tradução do Novo Mundo] para Jo[ão]
1:1, deveríamos inserir na tradução [de 2 Cor 1:3] o artigo indefinido ‘um’
antes do substantivo ‘Deus’, porque no grego não consta o artigo defino ‘hó’
(‘o’).”
Errado! A Tradução do Novo Mundo não insere artigo indefinido (“um”) por ser theós um substantivo anartro em João
1:1, e sim porque a passagem contém outro theós
articulado – assim sendo, para distinguir
um theós do outro theós e porque o contexto bíblico
permite tal inserção.
Notadamente, as traduções usadas
pela cristandade usam a expressão “um deus” em Atos 28:6:
“Mas eles esperavam que ele
[Paulo] viesse a inchar ou a cair morto de repente. Mas, depois de muito
esperar, vendo que nenhum mal lhe sucedia, mudando de parecer, diziam ser ele um deus.” – Almeida Revista e Corrigida; veja também ACF, ARIB, NVI,
SBB, Ave Maria, ASV, KJ, Darby, Webster, Valera, BJ, NAB, Douay-Rheims, RSV.
As traduções da cristandade em
geral vertem “um deus”, embora não ocorra o artigo definido “o” antes de theós:
ἔλεγοναὐτὸνεἶναιθεόν.
Dizendo-o ser deus.
Usando o argumento do comentarista trinitário acima,
poderíamos afirmar, em função do uso universal de “um deus” pelas traduções da
cristandade ao traduzir o theós anartro,
que pela lógica deveriam igualmente traduzir o theós anartro em João 1:1c como “o Verbo era um deus”.
Mas sabemos que não é o caso de regra gramatical. O tradutor
precisa determinar quando traduzir um theós
anartro como “um deus” pelo contexto, não por regra gramatical. É o que a NM faz em João 1:1.
Vejamos outra afirmação do
trinitário:
“Mas a TNM 2015 não só não faz isso [insere artigo indefinido], como
INSERE UM ARTIGO DEFINIDO num texto que no grego NÃO TEM ARTIGO ALGUM, assim
traduzindo: ‘… O Deus de todo o consolo’.”
Tal argumentação mostra que tal
pessoa não entende mesmo de tradução da Bíblia. Afinal, não somente a NM, mas outras traduções acrescentam o
artigo definido “o” antes de “Deus de todo o consolo”: ACF, KJ, NIV, Webster, Valera, La Sainte Bible de Augustin Crampon 1923, Douay-Rheims, Christian
Community Bible, NJB.
O argumentador acima também mostra desconhecimento da língua
grega usada na Bíblia, que é caracteristicamente elíptica. Assim, há casos em que o
artigo (ou outra palavra) não precisa ser repetido na construção seguinte, mas
já está subentendido, quando
a conjunção copulativa kaí (“e”) liga
dois nomes ou expressões, sendo o primeiro nome precedido pelo
artigo ho. Isso pode ocorrer entre
coisas ou seres distintos ou com a mesma identidade.
Exemplos
dessa construção no texto grego são encontrados nas passagens abaixo:
Judas 4:
τὸνμόνονδεσπότηνκαὶκύριονἡμῶνἸησοῦνΧριστὸν
o único dono e
senhor de nós, Jesus Cristo
Óbvio que está subentendido o
sentido de ‘o único dono e [o único] Senhor, Jesus Cristo’, não sendo
necessário repetir a mesma expressão “o único” antes de “Senhor” por esta estar
subentendida.
ΕὐλογητὸςὁθεὸςκαὶπατὴρτοῦκυρίουἡμῶνἸησοῦΧριστοῦ
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo
Novamente, é evidente que está
subentendido o sentido de ‘o Deus e [o] Pai de nosso Senhor Jesus Cristo’.
Ninguém traduziria “o Deus e um Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”
pela ausência do artigo antes do segundo substantivo.
Nos casos acima, a elipse do
artigo ou da expressão é suprida pela inteligência do leitor como estando
subentendida.
O comentarista trinitário afirmou:
“Diversos textos da TNM DIVERGEM DO GREGO (com acréscimos e omissões).”
O comentarista não citou qualquer
exemplo disso. Se ele está se baseando em textos no mesmo viés de 2 Coríntios
1:3, então não é caso de divergência com o texto grego, mas apenas de adaptação
à língua portuguesa ou à outra língua, algo feito em geral pelas traduções
usadas pela cristandade. Na realidade, a NM não diverge em nada do texto grego.
Ele afirmou:
“As traduções trinitaristas não alteram aqueles textos que parecem ser
contrários ao credo trinitarista.”
Isso não é verdade. Pelo que
parece, o argumentador trinitário desconhece as alterações feitas por traduções
trinitaristas. Veja exemplos abaixo:
Mateus 24:36: omissão da expressão “nem o Filho”.
“A respeito daquele dia e daquela
hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, mas somente o Pai.” – NM.
Entre as traduções que fazem tal
omissão estão ACF, Ave Maria, Darby,
Webster, Valera, Elberfelder, Novo Testamento da Sociedade Bíblica Trinitariana
do Brasil,La Sainte Bible de
Augustin Crampon 1923, Douay-Rheims, KJ,
Catholic Public Domain Version.
A nota de rodapé da Tradução do Novo Mundo Com Referências indica
que os manuscritos e versões mais antigos colocam a frase “nem o Filho”:
א°: Códice Sinaítico,
grego, quarto século EC, Museu Britânico, Escrituras Hebraicas, Escrituras Gregas.
B: Ms. Vaticano
1209, grego, quarto século EC, Cidade do Vaticano, Roma, Escrituras Hebraicas, Escrituras
Gregas.
D: Códices Bezae,
grego e latim, quinto e sexto séculos EC, Cambridge, Inglaterra, Escrituras Gregas.
Vg: Vulgata
latina, de Jerônimo, originalmente produzida em c. 400 EC (Iuxta Vulgatam Versionem, Württembergische
Bibelanstalt, Stuttgart, 1975).
Arm: Versão
Armênia, do quarto ao décimo terceiro século EC; E.H., Escrituras Gregas.
1 João 5:7, 8:
acréscimo.
“Porque três são os que testificam
no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito
Santo; e estes três são um. 8 E três são os que testificam na terra: o
Espírito, e a água, e o sangue; e estes três concordam num.” – Almeida Revista e Corrigida; veja também
ACF, KJ, Webster, Catholic Public Domain
Version, Douay-Rheims.
A própria história do Texto
Recebido explica sua fragilidade, pois foi produzido às pressas com objetivos
comerciais. Por essa razão, muitos erros foram inseridos nele. Um exemplo se
encontra em Judas 4, que acrescenta a palavra “théos” (“deus”) antes de “despótes”
(“dono”, “amo”). No entanto, o Mss Vaticano 1209, do 4.º século EC, no qual se
baseia a The Emphatic Diaglott, não usa a palavra “théos”.
O mesmo comentarista trinitário afirmou:
“Observe que os textos que aparentemente referendam a doutrina da
Trindade, nas Bíblias unicistas, costumam ser alterados, descaracterizando uma
doutrina que seus tradutores rejeitam. Pense naqueles textos que os
trinitaristas citam para defender que Jesus é Deus, ou é adorado. Na TNM, por
exemplo, insere-se palavra entre colchetes, ou opta-se por um sentido menos
contundente ou coisas do tipo. Basta comparar para perceber isso.”
Alterar um texto é dar um sentido
diverso do objetivado pelo escritor bíblico, como demonstrado acima nas
omissões e inserções trinitaristas. Esse não é o caso da NM. O verbo proskynéo,
vertido “adorar” pelas versões trinitárias quando se refere a Jesus, tem
primariamente sentido civil, não religioso. O contexto bíblico mostra que, no
caso do uso para Jesus Cristo, tem o claro sentido de “prestar homenagem”. Veja
o artigo “Proskyneo - Sempre ‘Adoração’?”no blog Testemunhas de Jeová Defendidas.
E os colchetes a que esse
comentarista se refere evidentemente ocorrem em Colossenses 1:16. Contudo, o
contexto imediato e da Bíblia como um todo mostra que tais colchetes apenas dão
o sentido já implícito. Veja o artigo “Jesus é o Criador ou um Ser criado? – Exame de Colossenses 1:15-20”.
Como se pode ver facilmente, as
alegações trinitárias estão impregnadas de vícios conceituais, teológicos e
violação gramatical do texto bíblico.
Explicação
das siglas usadas:
ACF: Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
ARC: Almeida Revista e Corrigida.
ARIB: Almeida Revista Imprensa Bíblica.
ASV:
American Standard Version.
Ave Maria: tradução católica.
BJ: Bíblia de Jerusalém.
Catholic Public Domain Version: Versão Católica de Domínio Público da Bíblia,
concluída em 2009, baseada principalmente na Vulgata.
Darby: The ‘Holy Scriptures’ (Edição de 1949), de
John Nelson Darby.
Douay-Rheims: tradução da Bíblia da Vulgata latina para
o Inglês feita por membros do Colégio católico Inglês Douai. O Novo Testamento parte foi publicada em Reims ,
França, em 1582.
Elberfelder: tradução
alemã.
KJ: King James Version.
La Sainte Bible, de Augustin Crampon; 1923.
NAB:
The New American Bible.
NJB: New Jerusalem Bible
NM: Tradução do Novo Mundo
da Bíblia Sagrada.
NVI: Nova Versão
Internacional.
RSV: Revised Standard Version.
SBB: Bíblia da Sociedade Bíblica Britânica.
Trinitariana: Novo Testamento da Sociedade Bíblica Trinitariana do
Brasil.
Valera: versão em espanhol Reina-Valera, de Casiodoro de Reina e de Cipriano
de Valera.
Webster: Tradução de Noah Webster, século 19.
Nota:
[1]Baclay, William. The Gospel of John, Revised Edition (1975), pp. 39, 74.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada,publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
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