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Theós sem artigo e a expressão “a Palavra era divina” são erros de tradução?


 

Contribuído.

 

Um professor, em um vídeo na internet, afirma com todas as letras que a tradução “era divina” com referência ao Lógos não é correta. Aqui nós temos uma declaração que vai na contramão de alguns especialistas no grego koiné e, pior ainda, são trinitaristas – então fica a pergunta: Quem está certo? Exemplos:

 

Lourenço Stelio Rega, Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista, em sua obra “Noções do Grego Bíblico”, na página 168, admite que a referência ao Lógos significa que ele era de qualidade ou essência divina; sendo assim, a tradução “era divina” não está errada, como alega o referido professor.

Lourenço Stelio Rega

Jason BeDuhn, Professor Associado de Estudos Religiosos, na Universidade do Norte do Arizona, diz explicitamente: “A conclusão definitiva é que ‘A Palavra era um deus’ é exatamente o que o grego diz. ‘A Palavra era divina’ é um possível significado desta frase grega.”


Jason BeDuhn

Waldir Carvalho Luz (Doutor em Filosofia pelo Princeton Theological Seminary, Estados Unidos, lecionou Grego e Hebraico no Seminário Presbiteriano em Campinas e foi autor de diversas obras, entre elas a gramática grega Manual de Grego Neotestamentário e a tradução Interlinear do Novo Testamento Grego.  Na sua obra Novo Testamento Interlinear admite que uma alternativa seria “a palavra era divina”.


Waldir Carvalho Luz

O Dr. William Barclay (que é cristoteista), erudito bastante respeitado na área, disse: “Quando o artigo definido é removido de um substantivo em grego, como em inglês, o substantivo se torna o equivalente a um adjetivo.”


William Barclay

Ray Summers, professor do Seminário Teológico Batista do Sul, explica: “Com efeito, [a ausência do artigo definido na segunda instância de Theós] dá uma qualidade adjetiva ao segundo uso de Theós (Deus), de modo que a frase significa ‘A Palavra era divina.’” – Ray Summers, Essentials of New Testament Greek, Nashville: Broadman Press, 1950,129-130.

Quem são esses homens? Quem são Lourenço Stelio, Jason Beduhn, Waldir Carvalho Luz, por exemplo? São teólogos protestantes e, diga-se de passagem, autores de obras conhecidas sobre o grego bíblico, e isso não é um apelo à autoridade. Mas, quais são as credenciais do professor YouTuber?

Bem, prossigamos. Poderia citar outros, mas a pergunta é: Por que teólogos respeitados fariam as afirmações transcritas acima, já que não são unitaristas? Você e outros jamais poderia alegar que é por ter alguma ligação com as Testemunhas de Jeová, sendo assim a afirmação do professor em que descarta totalmente a tradução era divina pode ser questionada.

ATRIBUTIVO e PREDICATIVO

O referido professor usa o termo “atributivo” inúmeras vezes em lugar do correto “predicativo”, o que gera comicidades, tais como tentar diferençar “atributivo” de “adjetivo”, mas será que realmente são coisas distintas? Não! Não são coisas distintas – um é um tipo do outro.

Mas como “atributivo” também é um tipo de “predicativo”, vamos pensar que ele usou o termo correto: “predicativo”. Ainda assim vemos o erro grosseiro, que é insistir no óbvio fato de que theós é um substantivo e não um adjetivo; ele demonstra ignorância de uma diferença gramatical elementar: a diferença entre morfologia e sintaxe. “Adjetivo” e “substantivo” são classes (categorias) morfológicas, ao passo que “predicativo” é uma categoria sintática. E o cidadão confunde alhos com bugalhos. O fato gramatical, que ele desconhece, é que tanto um adjetivo quanto um substantivo podem exercer a função sintática de predicativos e – atente agora – SER EQUIVALENTES. Observe nos seguintes exemplos que TODAS as últimas palavras de cada oração são predicativos:

Fulano é um primor (substantivo), Fulano é primoroso (adjetivo); o quadro era uma beleza (substantivo), o quadro era belo (adjetivo); o quarto estava uma bagunça (substantivo), O quarto estava bagunçado (adjetivo). Notamos assim que é indiferente que um predicativo seja um substantivo ou um adjetivo, pois são equivalentes. Assim:

“A palavra era um deus.”

“A palavra era divina.”

Nas duas orações a última palavra é um predicativo, ainda que na primeira seja um substantivo e na segunda um adjetivo. São equivalentes. Para esclarecer de uma vez por todas: imagine que um tradutor precisa traduzir do português para o inglês a seguinte frase: “O quadro é uma beleza”

Como traduziria? Pode ser: “the painting is a beauty”. Ou, melhor ainda: “the picture is beautiful” (usando um adjetivo no lugar do substantivo, mas com o mesmo sentido). Não podemos ainda deixar de ressaltar que um substantivo anartro com função predicativa equivale a um substantivo indefinido nessa função e pode, com toda a naturalidade, ser trocado por um adjetivo. Exemplo.

José é homem. Isso equivale a dizer: José é um homem que, por sua vez, equivale a dizer: José é macho (ou: “viril”, “másculo”, “varonil”, “masculino” – todos adjetivos referentes ao substantivo “homem”).

Sendo assim todo esforço que o nobre professor fez para desqualificar a tradução a palavra era divina foi um desastre.

JOÃO 1:1 e GENESIS 1:1 

Um outro problema, que também é de lógica, é que, se ele reconhece ou admite que a expressão “no princípio” é uma referência a Gênesis; e, ao mesmo tempo, reconhece que ali em Gênesis fala da criação dos céus [como firmamento e não mundo espiritual] e da Terra, segue-se que não somente Jesus já estaria com Deus nessa narrativa, mas também, em certo sentido, todas as hostes celestiais já estariam.

Portanto, a defesa dele de eternidade para Jesus perde a força. E isso se concluiria não pelo verbo empregado, mas pela associação, feita por ele mesmo, do princípio de João 1.1 com o princípio de Gênesis 1.1. Logo, o aspecto verbal não é tudo e não determina tudo.

DEUS DEU A IGREJA PASTORES E MESTRES

Ele faz uso da falácia da autoridade e do ad populum ao sugerir que Deus deu à igreja pastores e mestres e que devemos segui-los. Mas o problema é: a quais pastores e mestres devemos seguir? Da linha teológica que ele abraça? Ele segue os padres e doutores católicos ou os pastores e doutores protestantes? Pois eles divergem entre si em diversos pontos. Quais dos que divergem entre si ele dirá que foi “Deus quem deu à igreja”? Se segue a um grupo e não a outro, o que o levou a escolher um e não o outro?

Se houve superintendentes (bispos, pastores), da antiguidade, que afirmaram o cristoteísmo, houve, também, os que afirmaram o monoteísmo estrito. Então, o autor do vídeo não pode dizer que os mestres antigos da igreja não ensinaram o verdadeiro monoteísmo. Podemos citar uma significativa quantidade desses bispos unitarianos.

 

Contato: oapologistadaverdade@gmail.com

 

Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org

 


Comentários

  1. Gostei do artigo. Acho que poderia ser mais direto sobre o YouTuber em questão. Poderia colocar o link e transcrever algumas frases. Isso dá mais realidade ao texto.

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𝐄𝐒𝐓𝐄 É 𝐔𝐌 𝐒𝐈𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐍Í𝐕𝐄𝐋 𝐀𝐂𝐀𝐃Ê𝐌𝐈𝐂𝐎. 𝐀𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓𝐀𝐑, 𝐔𝐒𝐄 𝐋𝐈𝐍𝐆𝐔𝐀𝐆𝐄𝐌 𝐀𝐂𝐀𝐃Ê𝐌𝐈𝐂𝐀, 𝐒𝐄𝐌 𝐈𝐍𝐒𝐔𝐋𝐓𝐎𝐒, 𝐒𝐄𝐌 𝐏𝐀𝐋𝐀𝐕𝐑𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐁𝐀𝐈𝐗𝐎 𝐂𝐀𝐋Ã𝐎. 𝐍Ã𝐎 𝐑𝐄𝐏𝐈𝐓𝐀 𝐎𝐒 𝐀𝐑𝐆𝐔𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐁𝐀𝐓𝐈𝐃𝐎𝐒, 𝐍Ã𝐎 𝐃𝐄𝐒𝐕𝐈𝐄 𝐃𝐎 𝐀𝐒𝐒𝐔𝐍𝐓𝐎. 𝐒𝐄 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐒 𝐑𝐄𝐆𝐑𝐀𝐒 𝐍Ã𝐎 𝐅𝐎𝐑𝐄𝐌 𝐂𝐔𝐌𝐏𝐑𝐈𝐃𝐀𝐒, 𝐒𝐄𝐔 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓Á𝐑𝐈𝐎 𝐒𝐄𝐑Á 𝐑𝐄𝐏𝐑𝐎𝐕𝐀𝐃𝐎.

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