“Nessa
passagem qual o termo grego que nossas traduções portuguesas vertem por
‘isto’?” – Pergunta de um
leitor.
Resposta:
A palavra
“isto” é tradução de tοῦτο (pronome demonstrativo do gênero neutro), que significa
literalmente “isto” (“esta coisa”). Seguem abaixo alguns exemplos do uso desse
pronome:
João 6:61: “Mas Jesus, sabendo em si mesmo que seus discípulos
estavam resmungando sobre isso [τούτου; genitivo], disse-lhes:
‘Causa-vos isso [tοῦτο, nominativo] tropeço?’”
João 6:65: “Prosseguiu assim a dizer: ‘É por isso [tοῦτο; acusativo] que eu vos
tenho dito: Ninguém pode vir a mim, a menos que isso lhe seja concedido pelo
Pai.’”
Judas 10: “Contudo, estes homens estão falando de modo ultrajante
de todas as coisas que realmente não conhecem; mas, em todas as coisas que eles
entendem naturalmente, como os animais irracionais, nestas coisas [τούτοις;
dativo, plural] prosseguem em corromper-se.”
Mateus 8:9:
“Pois eu também sou homem sujeito à autoridade, tendo soldados sob as minhas
ordens, e digo a este: ‘Vai!’ e ele vai, e a outro: ‘Vem!’ e ele vem, e ao meu
escravo: ‘Faze isto [tοῦτο]!’ e ele o faz.”
Mateus 26:26:
“Ao continuarem a comer, Jesus tomou um pão, e, depois de proferir uma bênção,
partiu-o, e, dando-o aos discípulos, disse: “Tomai, comei. Isto [τοῦτό] significa meu
corpo.”
Strong alista
321 usos de toûto. Desses, 3 são de textos espúrios, reduzindo o
número a 318, que, na expressiva maioria, se aplica a coisas, e não a pessoas,
como mostram os exemplos abaixo:
Abaixo seguem as declinações e suas respectivas ocorrências:
Strong's Greek
Ταῦτα — 240 Occ.
ταύταις — 11 Occ.
ταύτας — 9 Occ.
ταύτῃ — 33 Occ.
ταύτην — 53 Occ.
ταύτης — 33 Occ.
τοῦτ' — 17 Occ.
Τοῦτο — 321 Occ.
τούτῳ — 89 Occ.
τούτων — 72 Occ.
τούτοις — 19 Occ.
Τοῦτον — 61 Occ.
τούτου — 69 Occ.
τούτους — 28 Occ.
ταύταις — 11 Occ.
ταύτας — 9 Occ.
ταύτῃ — 33 Occ.
ταύτην — 53 Occ.
ταύτης — 33 Occ.
τοῦτ' — 17 Occ.
Τοῦτο — 321 Occ.
τούτῳ — 89 Occ.
τούτων — 72 Occ.
τούτοις — 19 Occ.
Τοῦτον — 61 Occ.
τούτου — 69 Occ.
τούτους — 28 Occ.
Toûto é aplicado a uma ovelha, visto que a palavra grega para
“ovelha” (próbaton) é neutra. (Mateus 12:11). É também
aplicado a uma “criança”, porque a palavra paidíon (“criança”,
em grego) é neutra. (Mateus 18:4; Lucas 1:66; 9:48) Assim, estritamente
falando, o pronome neutro toûto é um recurso gramatical e não
um endosso doutrinal. No entanto, o uso dele para uma pessoa é extremamente
raro. Na sua aplicação ao espírito santo, além de concordar gramaticalmente,
pelo fato de “espírito” ser uma palavra neutra, também concorda semanticamente,
pelo fato de o espírito santo ser algo impessoal – a força ativa de Jeová Deus.
RESUMINDO:
1) A expressiva maioria dos usos de toûto (“isto”) na Bíblia é para coisas impessoais.
2) Embora seja um recurso gramatical, na aplicação ao espírito santo
– que é impessoal – também concorda semanticamente, isto é, com o fato
indisputável da impessoalidade do espírito santo.
Em outras palavras, se a Bíblia apresentasse o espírito santo como
sendo uma pessoa (ser) espiritual, o uso de toûto (pronome
neutro) para tal espírito seria apenas gramatical, visto que pneúma (espírito)
é palavra gramaticalmente neutra. No entanto, visto que a Bíblia apresenta o
espírito santo como algo impessoal – a força ativa de Deus – o uso de “isto”
não apenas concorda gramaticalmente, mas também semanticamente.
Note que, ao se referir a Jesus, o versículo anterior (Atos 2:32)
usa o pronome “este”, que é tradução do pronome toûton,
que é masculino, não neutro. Gramaticalmente, concorda com o substantivo
masculino Iesoûn (Jesus).
Mas, visto que Jesus Cristo é uma pessoa, tal pronome também concorda
semanticamente com esse fato.
Na linguagem cotidiana, quando queremos apresentar alguém,
dizemos: “ESTE é o Fulano.” Mas nunca dizemos: “ISTO é o fulano”, pois tal uso
seria inadmissível para uma pessoa!
Assim, não seria errado usar Atos 2:33 para afirmar a
impessoalidade do espírito santo, visto que tal argumentação concorda com a
gramática grega e com o inteiro contexto bíblico, o qual apresenta o espírito
santo como algo impessoal.
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Apologista, creio eu, que se o espírito santo fosse um Deus Pessoal, se convinha que "Ele" fosse quase que referido por pronomes pessoais independente desse fato da palavra pneuma ser neutra.
ResponderExcluirO que quero dizer, pensemos em Jeová Deus, Jesus Cristo ou no anjo Gabriel, eles são espíritos e a palavra grega para espírito é neutra, imaginemos eles sendo referidos como espíritos numa versículo hipotético e na continuação da leitura serem referidos com pronomes pessoais, imaginaram isso? Pois bem, isso aconteceria pois embora o autor tenha usado um termo neutro para o ser espíritual citado, na sua cabeça ele é um ser pessoal masculino e é assim que é referido, não falaria dele enquanto espírito neutro e sim enquanto alguém com um nome próprio pessoal. Então usaria "este", "ele" e etc pensando naquele que se chama RAFAEL e não num anônimo e indefinido "espírito". (Aí penso que entra o fato de que não existe uma pessoa chamada "Espírito Santo" e sim um espírito que provém de Deus e que é santo)
Se os escritores bíblicos eram trinitários deveria incomoda-los serem irreverentes ao "Terceiro Ser de Deus" por escolher quase que totalmente apenas termos impessoalizantes, poderiam tentar remendar a situação lhe outorgando outros títulos mais pessoais,por exemplo, podiam chama-lo frequentemente de "Senhor", de "Deus", de "O Santo" e mesmo do pouco usado "Parakletos", que são todos termos masculinos, não são? "O Santificador"? Que tal "O Deus Espírito", "Senhor Espiritual", "O Deus Espírito Santo", a "Terceira Pessoa Divina" (Os termos "Pai", "Cristo" e "Filho" são masculinos certo?).
Eu vejo uma ampla gama de opções para que a pessoalidade do espírito santo ficasse evidente a todos tanto na nomeação quanto na descrição e no tratamento dado ao mesmo: preferência por substantivos e pronomes masculinos; uso de nome próprio; não inserir o mesmo entre qualidades, objetos e afins e sim entre pessoas; representa-lo usando sinais ilustrantes de personalidade como se fosse um homem humano e não como fogo, vento, liquido; evitar de coloca-lo em antítese com coisas impessoais e óbvio, lhe conceder os mesmo títulos que recebem o Pai ou mesmo o Filho e nem excluí-lo de contextos onde a dupla Jeová-Cristo é destacada vez após vez. Conclusão: Não foi feito um esforço por parte dos cristãos do primeiro século em clarificar a pessoalidade da suposta Terceira Pessoa da Divindade Triuna, se não fossem algumas prosopopeias, pela citação do mesmo junto as pessoas Deus Pai e seu Filho em alguns versos (Ex: Mt 28:19 e na espúria Comma Joanina) e pelo uso em João do termo "Paracletos" já no finzinho de seu evangelho, o mesmo estaria 100% do tempo falado como se fosse algo e não alguém.