ARTIGO ESPECIAL: Romanos 13 – As “autoridades superiores” e o cisma de 1962 na Europa oriental (Parte 1)
Contribuído por Cristão Antitípico
Introdução
Muitas
Testemunhas de Jeová (TJs) em conexão com a Sociedade Torre de Vigia (STV), principalmente
aqueles que servem a Jeová junto com a organização há mais de duas ou três
décadas, já ouviram falar sobre o cisma (separação) que ocorreu na década de
1960 na Europa oriental, mais especificamente na Romênia. Atualmente, o
movimento se estende à Rússia, Moldávia e outros países, segundo afirmam os
membros do movimento separado da STV.
De
minha própria experiência, posso afirmar que apenas o que as TJs têm sido
informadas, desde a década de 90, sobre o cisma de 1962 é que ‘irmãos na
Romênia desconfiaram da liderança da organização’ [parafraseando] quando
houve a mudança sobre o entendimento de Rutherford quanto às “autoridades
superiores” (ou “potestades superiores”) mencionadas em Romanos 13:1; que “se
separaram da organização que Jeová usava”; e a causa disso foi que havia ‘agentes
do governo infiltrados nas congregações’. As TJs em conexão com a STV são
ensinadas a encarar os irmãos da True Faith Jehovah’s Witnesses (TJVF –
Testemunhas de Jeová – Verdadeira Fé) como “apóstatas”.[1]
Décadas
depois de 1962, alguns membros do Corpo Governante (CG) das Testemunhas de Jeová, dentre eles o
controverso Ted Jaracz,[2] tiveram uma reunião com os
representantes do grupo “Testemunhas de Jeová – Verdadeira Fé” na tentativa de
resgatar aqueles que julgaram ser ovelhas perdidas, tentando trazê-los
novamente à “organização de Jeová”, nas palavras do CG. Até mesmo um vídeo foi feito
para contar aos irmãos os feitos da organização neste assunto.[3] Entretanto, o membro do CG
que narra o vídeo contou apenas uma ínfima fatia doce de uma ampla história
amarga e ainda jogou a culpa nos irmãos da Romênia, dizendo que ‘eles tinham
de ser humildes’, quando, em mais plena verdade, quem deveria ter sido
humilde era a própria STV; ele também deu a entender que praticamente todos os
irmãos na Romênia retornaram à STV, sendo que apenas uma parte dos irmãos
retornou à Sociedade. A empreitada definitivamente não foi numericamente
triunfal.[4] O grupo que surgira com 5
mil publicadores em 1962 ultrapassa hoje o número de 100 mil, segundo afirmam
os próprios membros.[5]
A
finalidade do presente artigo não é explicar quem são as “autoridades
superiores” de Romanos 13:1. Antes, é contar a verdadeira história
envolvendo essa polêmica, a qual é adocicada pela organização antes de ser
informada aos irmãos TJs. Em outras palavras, a liderança das TJs conta aos
irmãos apenas parte da história e escolhe somente a fatia doce; ainda por cima,
coloca a culpa pelo cisma nos irmãos romenos e também nas autoridades
comunistas romenas, quando o único culpado pelo cisma de 1962 é a própria
Sociedade Torre de Vigia.[6] Eu aceito que erros
ocorram, mas espero que aquele que errou requeira humildade apenas de si mesmo
e assuma toda a responsabilidade pelo que fez. Desprezo profundamente a atitude
de repartir ao meio a responsabilidade que é totalmente de um dos lados. Muito
pior ainda é jogar toda a responsabilidade nos outros, culpando-os de não serem
“humildes” quando se revoltam por causa de erros sérios.
O conceito de C.T. Russell e dos Estudantes da
Bíblia
Conforme
falei acima, a liderança das TJs conta apenas parte da história, a fatia doce
de um bolo amargo, escondendo a seriedade, a intensidade de seu erro e também
ocultando o modo casual e despreocupado como o erro foi consertado em 1962 –
fizeram isso como se estivessem trocando fraldas (e pelos mesmos motivos); até
mesmo reinterpretam a história dizendo que houve “benefícios” no erro, os quais
‘protegeram as TJs durante a segunda guerra mundial’, dando a entender que
mesmo o erro de interpretação proveio de Jeová. Estas informações são todas pérfidas, conforme provarei.
Em
1982 A Sentinela explicou parte do erro que fora consertado 20 anos
antes:
12 A maneira de se chegar ao entendimento correto de Romanos 13:1-7
oferece mais outro exemplo de “navegar” em direção ao conceito correto. Os primitivos Estudantes da Bíblia
entendiam corretamente que as “potestades superiores” ou “autoridades
superiores” eram os governantes deste mundo. . . À base desse entendimento,
chegaram à conclusão de que, se o cristão fosse convocado em tempo de guerra,
ele teria de servir no exército, usar uniforme e ir à batalha. Mas, admitia-se
que, quanto a realmente matar o próximo, o cristão atiraria para o ar em vez de
matá-lo.
13 Todavia, era bastante evidente que o apóstolo Paulo não podia estar
advogando tal proceder. Surgiu a questão: Referiam-se as “potestades
superiores”, então, a Jeová Deus e a Jesus Cristo? Por algum tempo, os do povo de Deus
adotaram tal conceito. E, durante os anos dificultosos da Segunda Guerra Mundial, isto pelo menos os fortaleceu a
‘obedecer a Deus como governante antes que aos homens’, estabelecendo uma
maravilhosa reputação de destemida neutralidade cristã em toda a terra. (Atos
5:28, 29) . . . Mas, são estes ao mesmo tempo as “autoridades superiores”
às quais precisamos ‘render imposto, tributo e honra’? — Romanos 13:714
Felizmente, no ano de 1962,
Jeová levou os do seu povo ao entendimento do princípio da sujeição
relativa. Viu-se que os cristãos dedicados precisam obedecer aos governantes
seculares como “autoridades superiores”, reconhecendo-os de bom grado como
“ministro de Deus”, ou servo de Deus, para o próprio bem deles. (Romanos 13:4)[7]
Russell
e os Estudantes da Bíblia entendiam que as “autoridades superiores” de Romanos
13:1 se referiam aos governos civis deste mundo. Em 1929, este conceito foi alterado
por Rutherford, conforme mostrarei mais adiante.
Mas
ao ler essa explicação em A Sentinela de 1982 sobre o que ocorrera de
1929 até 1962, qual foi a impressão que você teve sobre o entendimento errado
quanto às “autoridades superiores”? Pareceu um equívoco pequeno e
insignificante? O tom do autor lhe pareceu positivo? Claro que sim, foi esta a
impressão dada no artigo.
Não
obstante, toda a informação acima apresentada é uma tentativa de amainar a severidade do erro. Vejamos algumas
informações pérfidas apresentadas em A Sentinela de 1982.
O
autor do artigo disse que “felizmente, no ano de
1962, Jeová levou os do seu povo ao entendimento do princípio da sujeição
relativa.” (O itálico é do artigo.)
Esta
informação é inteiramente falsa e apenas desinforma o leitor, pois dá a
entender que o conceito de “sujeição relativa” fora uma luz dada à liderança da
organização em 1962. Entretanto, Russell já havia explicado sobre sujeição
relativa na obra Estudo das Escrituras (Studies in the Scriptures) que
havia originalmente sido escrita em 1886. Cito a seguir a reedição de 1914:
Eles ensinaram a Igreja a obedecer às leis e respeitar as
autoridades por causa de seu ofício, mesmo que não fossem pessoalmente dignos
de estima; pagar seus impostos designados e, exceto onde conflitassem com as leis de Deus (Atos 4:19;
5:29), não oferecer resistência a qualquer lei estabelecida. (Rom. 13:1-7; Mat.
22:21) [8]
Portanto, Russell já
havia, muitas décadas antes de 1962, entendido que a sujeição aos governos do
mundo era relativa, quer dizer, tinha exceções – as mesmíssimas exceções
apresentadas em 1962. Portanto, não foi Jeová quem deu “luz” em 1962; essa luz
já tinha sido dada por Jeová a Russell e seus associados mais de 70 anos antes.
Portanto, embora
seja verdade que os primeiros Estudantes da Bíblia “entendiam corretamente” que
as “autoridades superiores” de Romanos 13:1 eram “os governantes deste mundo”,
não é verdade que eles sustentavam que esses governantes deveriam receber
obediência irrestrita, nem mesmo é verdade que surgiu alguma informação nova em
1962; tampouco é verdade a alegação da liderança das TJs de que os Estudantes
da Bíblia não entendiam plenamente sua necessidade de se manter longe do campo
de batalha, inclusive em ameaça de execução governamental.
Na revista A
Sentinela de 1.º de setembro de 1915 (em inglês), Russell publicou
um artigo intitulado “O Dever Cristão e a Guerra”, que dizia:
Em ESTUDOS DAS ESCRITURAS, Vol VI, apresentamos uma
sugestão de que os seguidores de Cristo procurem todos os meios adequados para
evitar a participação na guerra. Nós havíamos sugerido a possibilidade, exceto
em caso de recrutamento, de os seguidores do Senhor usar toda a sua influência
para obter posições no Corpo Hospitalar ou no Departamento de Provisões do
exército, ao invés de na guerra real. Havíamos sugerido que, se fosse
impossível evitar entrar nas trincheiras, ainda assim não seria necessário
violar a exigência divina: “Não matarás”.
Desde então, temos nos perguntado se o curso que
sugerimos é o melhor. Nós nos perguntamos se tal curso não significaria
compromisso. Refletimos
que tornar-se membro do exército e vestir um uniforme militar implica os
deveres e obrigações de um soldado como reconhecidos e aceitos. Um protesto feito
a um oficial seria insignificante - o público em geral não saberia disso. O
cristão não estaria realmente fora de seu lugar sob tais condições?
“Mas”, alguém talvez responda, “se alguém recusasse o
uniforme e o serviço militar seria fuzilado.” Respondemos que se a apresentação
fosse feita corretamente poderia haver algum tipo de exoneração; mas se não, será que seria pior ser fuzilado por causa
da lealdade ao Príncipe da Paz e recusa em desobedecer sua ordem do que ser
fuzilado sob a bandeira desses reis terrenos, aparentemente dando-lhes apoio e,
pelo menos na aparência, comprometer os ensinamentos de nosso Rei celestial?
Das duas mortes, preferimos a primeira – preferimos morrer por causa da
fidelidade ao nosso Rei celestial.[9]
Em resumo, Russell
ensinou o seguinte: é melhor morrer
fuzilado pelo governo por recusar-se a ir a uma trincheira, mantendo-se fiel ao
Príncipe da Paz, do que ser fuzilado na trincheira, pelo exército do mundo, em
desobediência ao Príncipe da Paz.
Fica claro que o
entendimento de 1962 já havia sido estabelecido desde os tempos de Russell, e
que os cristãos verdadeiros já estavam, mesmo antes de 1929, esclarecidos sobre
a vontade de Jeová. No entanto, as implicações do fato de não haver
justificativas para o que ocorreu depois de 1929 são tão graves que fica fácil
ver por que a liderança das TJs suprime a verdadeira história até hoje.
Uma breve contextualização teológica Apóstatas e
inimigos da verdade bíblica defendida pelos verdadeiros cristãos têm o
costume de criticar as TJs por literalmente tudo que fazem e ensinam. Eu
me oponho a esses inimigos da verdade. Diferentes deles, minhas críticas
são pontuais, específicas, e têm a finalidade de produzir reformas na
organização das TJs, apelando para as consciências dos indivíduos por meio da
instrução correta ao povo de Jeová, os meus amados
irmãos. Portanto, embora
eu reconheça que houve um erro sério e não me refreie de apontá-lo e trazer a
público o que de fato aconteceu, devo admitir que houve um contexto teológico
muito forte que contribuiu para tal erro. O protestantismo e
o catolicismo têm ensinado que é justificável que o cristão vá à guerra e
mate seu próximo, e o argumento ou justificativa bíblica para tal heresia é
justamente Romanos 13:1 e a submissão às “autoridades superiores”.[10] Portanto, é compreensível que a Sociedade Torre de Vigia, em 1929,
decidisse reanalisar esse texto, embora isso não justifique o erro. O protestantismo é
herege porque defende que os cristãos podem ir a guerra, extrapolando o texto
de Romanos 13:1 e o resto do Novo Testamento. Foi por causa do apoio às
guerras por parte de católicos e protestantes com base em Romanos 13:1 que a
controvérsia surgiu na STV. Por mais que a
organização das TJs tenha cometido um erro, o ponto positivo na organização é
que, com ou sem erro, ela manteve suas mãos limpas do sangue nas guerras do
século XX, ao passo que o protestantismo e o catolicismo estão com sangue até
o pescoço. |
1929 – Um erro exercido com punhos de ferro
Rutherford foi o presidente que causou o primeiro cisma
entre os Estudantes da Bíblia, isto é, quando se tornou presidente da Sociedade
Torre de Vigia de forma conturbada e antidemocrática. Ele tinha qualidades e
defeitos, assim como todos nós temos. Ele tomou firme posição em favor de
Cristo, de seu reino e da pregação, e isso foi essencial para os Estudantes da
Bíblia e para a obra de pregação no início do século passado. Ele foi um
destemido defensor de Cristo e de seu reino. Todavia, o sucessor de Russell era
autoritário demais, e a organização livre e democrática dos dias de Russell
seria substituída gradualmente por uma organização com punhos de ferro e regras
incontestáveis. Ainda assim, existia mais liberdade no povo de Jeová se
compararmos aos dias atuais.
A edição de A Sentinela de 1º de junho de 1929
trazia um artigo de estudo com PARTE 1 e PARTE 2 intitulado “AS
AUTORIDADES SUPERIORES” (The Higher Powers), e mostrou que tais
autoridades não seriam os governos seculares, civis, mas Jeová e Jesus; este
como governante da igreja.
Após ler cuidadosamente esses dois artigos, admito
algumas coisas: eu não concordo com a tese geral de que a referência em Romanos
13:1 seja a Jeová e a Jesus, este como cabeça da organização; entretanto,
admito que o artigo é belamente escrito, é grandemente edificante e, apesar de
a conclusão estar errada, julgo eu, o foco da organização estava em Cristo, não
em homens. Estava errado, mas o amor intenso por Jeová e por Cristo da parte do
autor do artigo é contagiante. Não é por menos que todos os leitores da época
foram persuadidos pela tese do autor.
Várias conclusões interessantes e vários argumentos
(alguns deles muito bons, diga-se de passagem), foram usados por Rutherford. Ainda
que eu discorde da tese do autor, é inegável que o artigo é belo, profundo e
muito bem escrito. Era um tempo em que a liderança das TJs se preocupava em persuadir
os irmãos da verdade por meio de argumentos, raciocínios e fatos; atualmente as
informações são apenas apresentadas de forma simplória e ordena-se obediência. Vale
a pena ler o artigo na íntegra! Listo a seguir uma paráfrase resumida das teses
e dos argumentos usados em A Sentinela de 1929, PARTE 1 e, em
seguida, PARTE 2.
RESUMO DE A SENTINELA DE 1º DE JUNHO DE 1929, PARTE 1 1. Argumento: Se as autoridades superiores fossem os
governos seculares, Jeová estaria julgando os povos durante os tempos dos
gentios; mas a Bíblia diz que ele fará isso em um dia designado. – Atos 17:31
[Parágrafo 2]; 2.
Tese: Paulo ensinou que os cristãos deveriam ser obedientes a
Deus; não que devessem desobedecer aos governos civis, mas deveriam
obedecê-los apenas quando estes obedecem a Deus e porque as leis deles estão
certas quando estão em harmonia com as leis de Deus; [Parágrafo 3]; 3. Argumento: “Todo poder que é
legitimamente exercido é aquele que é delegado por Jeová à criatura que
exerce esse poder. Segue-se, então, que não há criatura ou criaturas que possam
legitimamente fazer e executar leis ou regras de ação que sejam contrárias à
lei de Deus.” [Parágrafo 4] 4. Argumento: Vários
países possuem leis contraditórias até mesmo sobre guerra, bebidas e conduta.
Se as ‘autoridades superiores ordenadas por Deus’ são os governos do mundo,
estes não poderiam agir em desarmonia com a lei de Deus. Portanto, tais
autoridades devem se referir ao arranjo teocrático. [Parágrafo 6]; 5. Argumento: As nações mandam os civis ir à guerra,
matar; mas Deus ordena: “Não matarás.” Será que Deus teria ordenado tais
autoridades civis para descumprirem sua lei? Esperar-se-ia que, caso Deus
tivesse ordenado tais autoridades, estas fizessem a vontade Dele, mas não
fazem; logo, as autoridades superiores não podem ser os governos civis.
[Parágrafos 7-9]; 6. Argumento: A Rússia e os EUA afirmam ser países
cristãos ordenados por Deus. Inclusive citam Romanos 13:1 para sustentar tal
visão. Na Rússia, proíbe-se a pregação do evangelho, nos EUA não; como podem
as autoridades dos dois países terem sido ordenadas por Deus se ordenam
exatamente o oposto um do outro? [Parágrafo 10]; 7. Tese: Faz mais sentido crer que as palavras de Paulo se
refiram às autoridades ordenadas/estabelecidas por Deus, isto é, dentro da
organização de Deus, não nas nações gentias no mundo de Satanás. [Parágrafo
11]; 8. Tese: A organização de Jeová, isto é, abaixo Dele, consiste
de Jesus Cristo, dos anjos, dos cristãos ressuscitados no céu, e dos membros
da igreja que se esforçam em agradar a Deus; a “autoridade” ou “potestade” se
refere àquela que é exercida na organização de Deus; Jesus Cristo é a
“potestade superior” e Jeová é a “potestade suprema”. [Parágrafo 12]; 9. Argumento: “Ele está à direita de Deus, pois foi para o céu; e anjos, autoridades
e poderes foram sujeitos a ele.” (1 Pedro 3:22) Essas autoridades e
poderes não são os governos gentios, mas esta é uma ordem para que cada
membro da igreja seja submisso a Jesus Cristo. [Parágrafo 13]; 10. Tese: A igreja compõe a organização de Deus. A igreja, com
cada indivíduo em sua função específica, obedece fielmente a Cristo como
cabeça designado por Deus. [Parágrafo 14-16]; 11. Tese: Cristo conferiu autoridade aos apóstolos. (João
20:21-23) A outros discípulos foram conferidos poder/autoridade. [parágrafos
17, 18]; 12. Argumento: Cada cidadão respeita a autoridade de seu
país e está sujeito às leis de seu país. Visto que os cristãos possuem sua
cidadania nos céus, não na Terra, Paulo direciona os cristãos em Romanos 13 a
obedecer a Deus, não às nações gentias. [Parágrafos 19, 20] 13. Tese: Paulo dirigiu suas palavras à organização de Jeová. A
visão de Ezequiel foi sobre a organização de Jeová. (Ez 1:16, 17, 19, 21, 23, 24.) Essa
organização é ampla e deve ser pura no coração, obedecendo à autoridade
superior, Jesus Cristo, o rei designado pela autoridade suprema, Jeová.
[Parágrafos 21-25]; 14. Tese: Cada cristão é membro da Sociedade na organização de
Deus e possui função nela. Eles cometem erros, entretanto, pois são imperfeitos.
Como saber se uma direção de fato procede de Deus e está em harmonia com a
lei de Deus? Apenas pela fé com base na observação dos frutos de tais obras.
Se um cristão devoto, com o espírito do Senhor, cumpre sua tarefa e suas
obras dão bons frutos, o Senhor está com ele. Se a “Sociedade”
está seguindo o curso errado, então todo o povo de Deus deve depender do
Senhor para corrigir tal curso. Não é prerrogativa de qualquer indivíduo se colocar como juiz para agir e
se opor à obra do Senhor.
[Parágrafos 26-28]; 15. Tese: Romanos 13 se aplica à igreja, mas isso não significa
que os anciãos e diáconos, enquanto indivíduos, possam determinar o rumo da
igreja. Nenhum indivíduo recebeu tamanha autoridade. [Parágrafos 29, 30]; 16. Argumento: 1 Coríntios 15:28 prova que as autoridades
superiores de Romanos 13:1 são Jeová e Jesus Cristo, e se estende ao corpo de
cristãos na Terra sob a direção do Senhor. Efésios 5:23, 24 mostra também que
as autoridades superiores são Jeová e Jesus Cristo, pois “a congregação está
sujeita ao Cristo”, diz o texto. [Parágrafos 31-33]; 17. Tese: As palavras de 1 Pedro 2:13, 14 se referem à igreja,
não aos governos do mundo, e 1 Pedro 2:17 prova isso. [Parágrafos 34-38]; 18. Tese: Os apóstolos eram autoridades comissionadas pela
autoridade superior, Cristo, na igreja. Todos devem obedecer à igreja e andar
para o mesmo destino junto com a igreja que está sob Cristo, a autoridade
superior. [Parágrafos 39-43]; |
Posso estar errado,
mas creio que o erro no argumento de Rutherford tenha sido concluir que “ser
ordenado por Deus” fosse equivalente a “fazer tudo e apenas o que Deus quer”.
Então, toda a tese dele se fundamenta nesta premissa. E visto que as
autoridades civis não fazem a vontade de Deus, elas não poderiam ter sido
ordenadas por Ele. Logo, as “autoridades superiores” que foram “ordenadas por
Deus” devem ser Jesus Cristo e a organização como um todo, o sistema
organizacional que se estende desde os céus até à igreja na Terra. Um problema
que vejo nisso é que, assim como os governos do mundo não fazem a vontade de
Deus, a igreja, por muitas vezes, tampouco fez. Portanto, a premissa da tese de
Rutherford não parece sustentável. Posso estar errado, mas acho isso razoável.
Entendo que uma coisa
não implica a outra necessariamente; “ser ordenado por Deus” pode significar
que Deus apenas usa tais autoridades a fim de evitar o completo caos e que, no
momento em que Ele desejar, tais autoridades farão sua vontade em situações
pontuais. Isso pode ser inferido com base nos tratos de Deus com Nabucodonosor.
A Parte 2 deste assunto contém mais detalhes e
mais argumentos para a tese de Rutherford.
Notas:
[1]
Eu encaro os membros de ambos os grupos como irmãos de fé, e ambos são o povo
de Jeová. Minha vontade é que chegue o dia em que todos nós estejamos unidos
novamente.
[2] Eu uso o adjetivo
“controverso” para Ted Jaracz devido ao fato de ele não ter tido nenhuma
qualificação formal para ocupar qualquer função de instrução. Segundo sua
própria biografia resumida em A Sentinela de 15 de novembro de 2010,
página 23, há incerteza sobre se ele concluiu o ensino médio. Irmãos que o
conheceram relatam que ele era bastante limitado intelectualmente, não gostava
de irmãos inteligentes e achava que o servo de Jeová não poderia ser
intelectualizado. Ele era autoritário e gostava de criar regras extrabíblicas.
A postura de Ted Jaracz tornou-se o garoto propaganda da atual STV.
[3]
O vídeo está disponível no link: https://www.jw.org/en/library/videos/#en/mediaitems/VODIntExpEndurance/pub-jwb_201901_6_VIDEO
[4]
O narrador diz que o número que se separou da organização era de “5 mil
publicadores”. Depois ele diz também que ‘5 mil publicadores voltaram à
organização’, dando assim a entender que praticamente todos os que se
afastaram retornaram. Essa informação é absolutamente falsa.
[5] Infelizmente, embora eu tenha
tentado contatar mais de uma vez os membros desse grupo, eles não me
responderam. Portanto, ainda que pareça plausível que realmente o número passe
de 100 mil membros, tal informação não pode ser tomada como absoluta.
[6]
Esta não foi a única vez em que a Sociedade Torre de Vigia cometeu erros,
dividiu grupos, famílias e amigos, e depois jogou a culpa nos outros. Um
exemplo clássico desse comportamento foi a visão deturpada sobre “porneía
dentro do casamento”, de 1974, que dividiu famílias; quatro anos depois, em
1978, a liderança das TJs alterou a visão, mas não assumiu a culpa; ao invés
disso, lançou a culpa nos anciãos congregacionais por terem obedecido a
liderança da organização ao ‘agirem como policiais’. (Leia o artigo.)
[7] A Sentinela de 1º de
agosto de 1982, pp. 29-30 pars. 12-14. (Em português.)
[8]
Studies in the Scriptures, Vol. l, edição de 1914, p. 266.
[9]
A Sentinela de 1915, reimpressão, p. 5755. (Em inglês)
[10]
Um artigo que defende 3 visões hereges no protestantismo sobre Romanos 13:1
pode ser observado neste
link.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou
republicados, desde que seja citada a fonte: o site
www.oapologistadaverdade.org
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