Pular para o conteúdo principal

O Logos – quem é ele? (Parte 1)



Contribuído por A Verdade É Lógica.

Esta série de artigos trará à tona provas documentais de que o filósofo judeu Filo, de Alexandria, não contribuiu para a doutrina da Trindade, pois a versão que ele tinha do Logos não se harmoniza com o conceito trinitário.

Fonte da imagem: myjewishlearning.com

É de conhecimento geral entre aqueles que se interessam nas Escrituras que o apóstolo João começa o evangelho que leva seu nome tratando de um personagem – o Logos [a Palavra ou o Verbo]. Mas, afinal, por que João usa o termo “Logos” em referência ao personagem que se tornou carne e morreu por nós, Jesus Cristo, o Filho de Deus? As Testemunhas de Jeová adotam o conceito de sola scriptura, isto é, a Bíblia tem primazia sobre a tradição da igreja, e também o conceito de nuda scriptura, onde se entende que a Bíblia é autointerpretativa, sem a necessidade de fontes externas para que se chegue ao conhecimento exato da verdade. (1 Timóteo 2:4) O apóstolo Paulo, em Colossenses 2:8, nos aconselha a tomar cuidado com a filosofia desse mundo, e todos os cristãos devem acatar seriamente tal conselho. Aliás, foi exatamente por desacatarem tal conselho que doutrinas antibíblicas tais como a Trindade, a imortalidade da alma e até mesmo a da pré-existência humana corromperam a igreja cristã pouco tempo após Cristo.  Isso, no entanto, não significa que não possamos analisar e tirar proveito de alguns preceitos filosóficos contemporâneos da época apostólica que, embora contenham erros óbvios em relação à sã doutrina cristã, possuem também características em comum com a verdade. “Até um relógio parado está certo duas vezes por dia”, disse em verdade Marie von Ebner-Eschenbach, escritora austríaca.

Nesta série de artigos, será feita uma análise sobre a palavra “Logos” com base nos conceitos de um filósofo que não aparece na Bíblia, e que provavelmente nunca nem mesmo ouviu falar de Jesus Cristo: Filo de Alexandria (30? AEC – 50? EC). Apesar de uma aparente separação total entre Filo de Alexandria e o conhecimento do Cristo, e por mais que devamos primariamente prestar atenção ao que os apóstolos entendiam ao invés da filosofia da época, entender os conceitos de Filo sobre o Logos poderá contribuir quanto à identificação da real identidade do personagem mais ilustre que já pisou nesta Terra: o Logos, o Filho de Deus.

Quem foi Filo de Alexandria?

Filo de Alexandria, um judeu helenista (também chamado Filo da Judeia), é uma figura que abrange duas culturas, a grega e a hebraica. Quando o pensamento hebraico se deparou com o pensamento filosófico grego no século antes de Cristo, não demorou muito para que alguém tentasse desenvolver uma justificativa especulativa e filosófica do judaísmo em termos da filosofia grega. Dessa forma, Filo produziu uma síntese de ambas as tradições, desenvolvendo conceitos para uma futura interpretação helenística do pensamento judaico. Filo tinha não apenas grande respeito por Platão, mas também é dito como sendo o primeiro neo-platonista.

Ele defendia que a Septuaginta e a lei judaica são um modelo para a busca da iluminação individual. Uma das doutrinas centrais dos escritos de Filo era sobre o Logos. Ao criar tal doutrina, ele uniu conceitos filosóficos gregos com conceitos judaicos. O termo “Logos” era amplamente usado na cultura greco-romana e no judaísmo. Na Septuaginta, o termo “Logos” era usado para descrever as declarações de Deus, não o próprio Deus. “Logos” é usado apenas como uma figura de linguagem indicando a atividade de Deus. Na literatura judaica, pode-se achar o conceito da Sabedoria (Sophia), que, em até certo grau, possui uma individualidade personificada e separada, mas é geralmente contrastada com a estupidez humana.

O conceito grego e metafísico do Logos é claramente oposto ao conceito de um Deus pessoal descrito em termos antropomórficos, típico do pensamento hebraico.  Filo fez uma síntese do sistema grego e do sistema hebraico e tentou explicar o pensamento hebraico em termos da filosofia grega, tomando emprestadas porções do conceito estóico do Logos no judaísmo. No processo, o Logos se transformou de uma entidade metafísica a uma extensão de um ser divino e transcendental antropomórfico e mediador entre Deus e os homens. Filo ofereceu várias descrições do Logos, muitas delas aparentemente contraditórias. De Heráclito, ele absorveu o conceito de que o Logos traz os objetos à existência por combinações de contrastes. Do Estoicismo, ele tomou o conceito do Logos como força ativa e vivificante. Mas ,de Platão, Filo pegou emprestado a ideia do Logos como a “ideia das ideias”, ou a “ideia arquétipa”.

O Logos como a Razão/Mente Divina:

Em termos bíblicos, o conceito do apóstolo Paulo se distanciava do conceito de Heráclito e dos estoicos sobre o Logos ser a “razão”, ou uma suposta mente de Deus.

“Pois ‘quem chegou a conhecer a mente de Jeová, para poder instruí-lo’? Mas nós temos a mente de Cristo.” – 1 Coríntios 2:16.

Nessa passagem fica mais que claro que Paulo não entendia que Cristo era a própria mente de Jeová. A declaração de Paulo é incompatível com o conceito de Heráclito sobre o termo “Logos”. Note que Paulo diz abertamente que a mente de Cristo é diferente da mente de Jeová (ou “do Senhor” - uma referência a Deus). Alguns talvez argumentem aqui que “a mente de Cristo se refere aos seus ensinamentos”. Essa é uma falácia que chamo de “Observação Irrelevante”. Isso ocorre quando aquele que tenta responder ao argumento proposto, ao invés de focar no ponto central do argumento feito, acaba rebatendo os acessórios contidos neste, mas não o foco principal. No texto em questão, Paulo claramente contrasta a mente de Jeová com a mente de Cristo, não os ensinamentos de Jeová com os de Cristo. Ademais, Cristo abertamente expôs:

“... O que eu ensino não é meu, mas pertence àquele que me enviou...” – João 7:16

Ele também disse abertamente:

“... falo aquilo que o Pai me ensinou.” – João 8:28.

Portanto, é impossível que o Filho seja literalmente a mente de Jeová. Essa crença (i.e., de que o Logos é a mente de Deus) é incompatível com o Novo Testamento inteiro. Assim, a ideia de Jesus Cristo ser a suposta “mente imutável”, “razão suprema” é claramente refutada pelo apóstolo Paulo. O texto citado transmite a ideia de que Cristo é, de forma inteligível, aquele que o Ser Supremo nos deu, mas não o Próprio. Veja também o que Paulo falou na questão de Jesus como a “Sabedoria”.

“Pois os judeus pedem sinais, e os gregos procuram sabedoria, 23 mas nós proclamamos Cristo morto na estaca, que para os judeus é motivo de tropeço, e para as nações é tolice. No entanto, para os chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus.” – 1 Coríntios 1:22-24.     
 
É claramente visto aqui que Paulo faz uma referência a Jesus como sendo a sabedoria de Deus. No entanto, mais a frente, nesse mesmo conceito de sabedoria, Paulo não diz que Jesus é a própria sabedoria eterna, inerente a Jeová. Antes, ele explica em qual sentido Jesus é a sabedoria:

“Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção.” – 1 Coríntios 1:30, Almeida Corrigida e Revisada Fiel.

Paulo nunca chegou a conhecer Jesus pessoalmente enquanto este era humano. No entanto, João, de fato, o conhecia. João sabia que a mente do Logos é limitada ou inferior e separada da do Pai. O apóstolo Mateus e o discípulo Marcos fizeram declarações que deixam claro que a mente do Logos é limitada e separada da mente do Pai.

“A respeito daquele dia ou daquela hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, mas somente o Pai.” – Marcos 13:32; veja também Mateus 24:36.

Se o Logos (Jesus Cristo) fosse a mente eterna e imutável do próprio Deus, como poderia Deus saber de algo sem que o Logos também o soubesse? Será que os chamados “filósofos” da cristandade acreditam que Deus possui uma “mente reserva”, uma espécie de “estepe sapiencial”, à parte do Logos – a suposta mente eterna e imutável de Deus? É óbvio que não. Caso se argumente que Jesus não sabia o dia por causa de sua natureza humana, surge aqui a grande pergunta: O Logos – a suposta “razão suprema” - deixou de ser sábio por um instante de tempo? Aquilo que é perfeito – a mente de Deus – tornou-se falho? Aquilo que é imutável – mudou? Tal “lógica” trinitária faz tanto sentido quanto perguntar: “Quando termina a vida eterna?” A mera ideia disso é absurda, e João sabia disso quando declarou:

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu [...].” – Apocalipse 1:1.
 
Veremos no próximo artigo desta série um conceito contemporâneo ao ministério apostólico a respeito do Logos de Filo.


A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada pelas Testemunhas de Jeová.



Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org


Comentários

MAIS LIDOS

“Sinal dos pregos” no corpo de Jesus – o que indica?

Por que a ressurreição de Lázaro ocorreu no 4.º dia e a ressurreição de Jesus ocorreu no 3.º dia?

O que é Lilith em Isaías 34:14?

Diferença entre “criar” e “fazer”

O espírito volta a Deus – em que sentido? (Eclesiastes 12:7)

Quem são as “outras ovelhas”?

DIREITO OU “USURPAÇÃO”? (Filipenses 2:6)

Refutando acusações apóstatas (Parte 1)

Quanto tempo durou a escravidão dos israelitas no Egito?

Quem é o Criador – Jeová ou Jesus? (Parte 1)