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O gênero gramatical aplicado ao “Espírito Santo” prova que ele é uma pessoa?



Fonte: jw.org

 Um leitor comentou:

Eu coloco a questão na seguinte linha: o gênero gramatical de um substantivo prova que o ser a que se refere é uma pessoa ou não? Claro que não, independentemente do gênero gramatical de que estamos falando. É verdade que o gênero gramatical de um substantivo determina inevitavelmente o sexo biológico do ser que ele nomeia?

Um abraço. 

Resposta:

O artigo O ‘Espírito Santo’ é uma pessoa?” (8 de julho de 2012) teceu o seguinte comentário:

Vale ressaltar em tudo isso que “gênero” é um aspecto linguístico que permite classificar certas classes gramaticais (substantivos, verbos, adjetivos etc.) em um número fixo de categorias. Trata-se de um recurso gramatical e não um indicador de personalidade. 

Por exemplo, a palavra “sol” em grego (hélios) é masculina, mas o sol não é uma pessoa. O amor (agápe) está no gênero feminino, mas se trata, não de uma pessoa, e sim de uma qualidade – algo abstrato. Por outro lado, “criança” (paidíon) está no gênero neutro, mas se refere a uma pessoa. A palavra “espírito” (pneúma) é gramaticalmente neutra, mas semanticamente pode se referir a uma pessoa, quando se aplica a Deus e a anjos, e pode se referir a algo impessoal, quando, por exemplo, se refere ao vento.[7] – João 3:8. 

[…] 

Não podemos confundir gênero gramatical com semântica. O primeiro conceito está ligado à flexão de categorias de palavras, ao passo que o segundo, ao significado ou sentido das palavras dentro do contexto em que são empregadas. Assim, como já demonstrado, uma palavra gramaticalmente masculina (ou feminina) pode semanticamente se referir a algo impessoal (como é o caso do substantivo masculino parákletos), ao passo que uma palavra neutra, se o contexto permitir, pode se aplicar a seres pessoais. 

No caso do espírito santo, o contexto bíblico o apresenta uniformemente como sendo impessoal, e o uso de atributos pessoais com referência a ele não passam de personificação, figura de estilo que consiste em atribuir sentimentos e ações próprias de seres humanos a seres inanimados, impessoais e a conceitos abstratos.[8] (Negrito acrescentado.)

O referido leitor perguntou: “O gênero gramatical de um substantivo prova que o ser a que se refere é uma pessoa ou não?Com base na explicação acima, fica claro que o gênero gramatical (masculino, feminino ou neutro) não determina personalidade, ou pessoalidade. Palavras gramaticalmente masculinas (a exemplo de hélios, palavra grega para “sol”), e palavras gramaticalmente femininas (a exemplo de agápe, palavra grega paraamor”) podem se referir a coisas impessoais.

O mesmo leitor também perguntou: “É verdade que o gênero gramatical de um substantivo determina inevitavelmente o sexo biológico do ser que ele nomeia?” Com base nos exemplos acima, a resposta é “não”. Coisas impessoais não têm sexo.

A diferença entre gênero e sexo foi bem explanada por José Maria da Costa, Mestre e Doutor em Direito e ex-Professor de Língua Latina:

2) Uma primeira distinção deve ser feita: a) quando se fala em sexo, quer-se referir à "conformação particular que distingue o macho da fêmea, nos animais e nos vegetais, atribuindo-lhes um papel determinado na geração e conferindo-lhes certas características distintivas" (FERREIRA, 2010, p. 1.927); b) já quando se fala em gênero, está-se no campo da estruturação que dispõe os nomes de determinada língua em classes (masculino, feminino e neutro), classifica-os de acordo com a referência pronominal (o menino/ele, a casa/ela) […] 

3) Em suma: sexo é questão biológica; gênero é classificação gramatical.[1]

Ou seja, seres biológicos sexuados podem ser caracterizados como macho e fêmea, e mesmo isso não prova personalidade, haja vista que os termos “macho e fêmea” são aplicados a animais irracionais, além de aos seres humanos. Por outro lado, gênero constitui, como explicado acima, uma classificação gramatical, a qual não tem necessariamente a ver com seres racionais (que têm personalidade), mas também podem ser aplicados a coisas impessoais (exemplos: o livro [palavra masculina], a cadeira [palavra feminina]); e também a seres irracionais, que não são seres pessoais (exemplos: o jacaré, a onça).

Portanto, a discussão em torno do gênero gramatical para tentar provar a personalidade do espírito santo é inútil, do mesmo modo como usar a personificação como prova de personalidade. A evidência quanto à natureza do espírito santo é contextual, baseada no que a Bíblia diz sobre tal espírito, e não na gramática.


Nota:

[1] COSTA, José Maria da. Gênero ou sexo - De onde vem? Gramatigalhas. 14/8/2018, às 14:07h. disponível em: <https://www.migalhas.com.br/coluna/gramatigalhas/285559/genero-ou-sexo---de-onde-vem>. 


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