Fonte da ilustração: http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/2013766
“E continuaram a ler alto no livro, na lei do verdadeiro Deus,
fornecendo-se esclarecimento e dando-se o sentido dela; e continuaram a tornar
a leitura compreensível.” – Neemias
8:8.
A gramática é definida como “estudo
sistemático dos elementos constitutivos de uma língua (sons, formas, palavras,
construções e recursos expressivos)”. (Michaelis) Outro dicionário a define como “estudo
e tratado dos fatos de uma língua e das leis que a regem”. (Priberam) Por conseguinte, entender uma língua
depende de entender as regras que a regem, ou seja, sua gramática. Vejamos, à
base de alguns exemplos bíblicos, como o conhecimento da gramática nos ajuda a
entender a Bíblia.
Malaquias 4:1 prega a destruição da Terra?
Já por várias décadas, alguns evangélicos fundamentalistas
costumam citar o texto de Malaquias 4:1 para tentar provar que o planeta Terra
será destruído. Segundo a versão Almeida, Revista e Corrigida, o texto reza: “Pois
eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que
cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o
SENHOR dos Exércitos, de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo.”
À base do texto, alguns religiosos concluíram que
a destruição da Terra será tão abrangente que eliminará toda espécie de vida
sobre ela, não restando “nem raiz nem ramo” das árvores e de outras plantas. Contudo, a gramática mostra
que não é isso que o texto está dizendo. O texto diz que “não LHES deixará nem
raiz nem ramo”. “Lhes” é pronome oblíquo que significa “a eles”. Portanto, o
texto está afirmando que o dia do julgamento não deixará A ELES nem raiz nem
ramo. Eles quem? A parte inicial do versículo responde: “Todos os soberbos e todos os que cometem
perversidade.” Esses é que serão destruídos, e não o planeta Terra. Mas em que
sentido não será deixado deles “nem raiz nem ramo”?
Na Bíblia, árvores são usadas para representar
pessoas, inclusive dentro do contexto genealógico, semelhante ao nosso uso da
expressão “árvore genealógica”. Falando sobre os desaprovados por Deus, as
Escrituras dizem: “Sua própria raiz se tornará igual ao cheiro de
mofo, e a própria flor deles subirá como poeira, por terem rejeitado a lei de
Jeová dos exércitos e terem desrespeitado a declaração do Santo de Israel.”
(Isaías 5:24; veja também Gênesis 49:22; Isaías 11:1; Oseias 9:16.) “A
destruição sem deixar raiz nem ramos simboliza a extirpação da família”, tanto
de seus ascendentes, ou pais (a raiz) como de seus descendentes, ou filhos (o
ramo). – Veja a obra Estudo
Perspicaz das Escrituras (volume 3, p. 377), publicada pelas Testemunhas de
Jeová.
João 5:39 exorta a pesquisa das Escrituras?
Outro exemplo da importância do conhecimento da gramática
encontra-se na passagem de João 5:39, onde encontramos a seguinte declaração de
Jesus Cristo: “Pesquisais as Escrituras, porque pensais que por meio delas
tereis vida eterna; e estas mesmas são as que dão testemunho de mim.”
Alguns religiosos citam esse texto como se fosse uma ordem de
Jesus para pesquisar as Escrituras. No entanto, esse não é o sentido do texto.
Na realidade, Jesus estava apenas dizendo para os líderes religiosos de seus
dias que eles pesquisavam as Escrituras. Apesar disso, disse Jesus, eles não o
aceitavam como Messias nem tinham em si mesmos o amor de Deus. (João 5:39-42)
Como sabemos que esse é o sentido correto do texto? O
verbo "pesquisar", em João 5:39, está no presente do indicativo,
apenas descrevendo algo. Note abaixo o tempo presente:
Eu pesquiso
Tu pesquisas
Ele pesquisa
Nós pesquisamos
Vós pesquisais
Quando alguém diz: "Tu pesquisas", ele não está mandando
ou incentivando você a pesquisar. Apenas está dizendo que você pesquisa. De
modo similar, quando alguém diz: "Vós pesquisais", ou diz:
"pesquisais", ele apenas está dizendo: "Vocês pesquisam." O
verbo "pesquisar" no imperativo afirmativo não tem o "s" no
final. Fica assim:
Pesquisa (no caso de tu; exemplo: João 7:52.)
Pesquisai (no caso de vós)
Vamos exemplificar adicionalmente com o verbo “procurar”. No
imperativo afirmativo (quando é uma ordem ou exortação), tal verbo é conjugado,
na segunda pessoa do plural (vos), como “procurai”. À guisa de exemplo,
Sofonias 2:3 exorta: "Procurai a Jeová, todos os mansos da
terra, que tendes praticado a Sua própria decisão judicial. Procurai a
justiça, procurai a mansidão."
Por outro lado, quando conjugado como “procurais”, trata-se de uma
descrição; está no presente do afirmativo. Exemplo: "Vós me procurais,
não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e ficastes satisfeitos. – João
6:26.
Outros exemplos bíblicos poderiam ser citados. Contudo, os casos
mencionados neste artigo são suficientes para mostrar que o entendimento da
gramática ajuda na compreensão das Escrituras.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada pelas Testemunhas de
Jeová.
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a
fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Katalýo é diferente de katargéo, que significa "abolir", "levar ao fim", "fazer cessar". (2 Cor. 3:7, 11, 13)
Portanto, Jesus disse que não veio "destruir" ou atentar contra a Lei enquanto ela vigorava. No tempo devido, o próprio Jeová a tiraria do caminho por aboli-la. (Ef. 2:15)
Jesus afirmou que veio "cumprir" a Lei. A palavra grega usada aqui para "cumprir" (pleróo) tem o sentido de completar, terminar (algo iniciado), levar ao fim. Por sua conduta, Jesus fez com que a Lei o identificasse, atingindo assim um dos objetivos da existência de tal Lei. (Gál. 3:24, 25) Tendo cumprido seu propósito, a Lei foi abolida por Jeová.
Por outro lado, "cumprir" no sentido de "obedecer", "observar" e "guardar" é teréo, usada em Mt 28:20 e João 14:15, 21.
Espero que tais comentários possam elucidar a questão levantada pelo leitor. Felicidades!