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A excomunhão é um procedimento bíblico?

Fonte da ilustração:
https://www.jw.org/pt/publicacoes/revistas/w20061115/nunca-rejeite-disciplina-de-jeova/

O Dicionário Michaelis define excomungar como “separar da comunhão” e “isolar da comunidade”. Em consonância isso, The International Standard Bible Encyclopedia afirma:
  A excomunhão no sentido mais amplo é o ato deliberado pelo qual um grupo nega os privilégios de sua confraria a membros outrora em boa posição. . . . A excomunhão passou à era cristã referindo-se a um ato de exclusão por meio do qual uma comunidade religiosa nega aos infratores os sacramentos, a participação na adoração congregacional e, possivelmente, o convívio social de qualquer espécie.
As  Testemunhas de Jeová usam o termo “desassociação” em lugar de “excomunhão”.
No entanto, o procedimento da excomunhão (ou desassociação) tem se tornado cada vez mais raro nas religiões professamente cristãs. De modo que isso leva pessoas sinceras a se perguntar se tal proceder é realmente bíblico. Afinal, o que a Bíblia tem a dizer sobre a excomunhão?

Uma doutrina bíblica
Quando estava sob o arranjo do pacto da Lei, Jesus Cristo explanou como tratar um pecador irredutível, dizendo: “Se [ele] não escutar nem mesmo a congregação, seja ele para ti apenas como homem das nações e como cobrador de impostos.” (Mateus 18:17) Os judeus evitavam associação social e espiritual com os ‘homens das nações’, como é evidente de textos tais como João 18:28; Atos 10:28 e 11:3. Esse procedimento foi ademais incorporado no cristianismo. O apóstolo Paulo traçou, por inspiração, as diretrizes sobre a desassociação, nestas palavras: “Eu vos escrevo agora para que cesseis de ter convivência com qualquer que se chame irmão, que for fornicador, ou ganancioso, ou idólatra, ou injuriador, ou beberrão, ou extorsor, nem sequer comendo com tal homem. … ‘Removei o homem iníquo de entre vós.’” – 1 Coríntios 5:11, 13b.
Porém, isso não significa que, quando um cristão incorre em pecado grave, como os mencionados acima, ele seja automaticamente excomungado, ou desassociado. Notamos isso pelas palavras de Tito 3:10: “Quanto ao homem que promove uma seita, rejeita-o depois da primeira e da segunda admoestação.” Assim, em harmonia com essa diretriz, os anciãos da congregação procurarão primeiro prestar ajuda ao transgressor. É a atitude empedernida e irredutível do transgressor que leva à sua desassociação.

Como tratar os excomungados e os motivos disso
Paulo usou a expressão “cesseis de ter convivência … nem sequer comendo com tal homem”. (1 Coríntios 5:11) O verbo traduzido por “ter convivência” é συναναμίγνυμι (synanamígnymi), e tem sido definido pelos léxicos do grego bíblico como “misturar-se junto com”, “manter companhia com”, “ter intimidade com”, “unir-se ou associar-se com”.  Ele ocorre apenas em 1 Coríntios 5:9, 11 e 2 Tessalonicenses 3:14. O uso desse verbo em 2 Tessalonicenses 3:14 ajuda a esclarecer o sentido desse mesmo verbo em 1 Coríntios 5:11.
2 Tessalonicenses 3:14 declara: “Mas, se alguém não for obediente à nossa palavra por intermédio desta carta, tomai nota de tal, parai de associar-vos com ele, para que fique envergonhado.” A expressão “parai de associar-vos com” inclui o verbo synanamígnymi. Para entendermos a abrangência desse corte na associação, temos o esclarecimento do versículo seguinte: “Contudo, não o considereis como inimigo, mas continuai a admoestá-lo como irmão.” (2 Tessalonicenses 3:15) Portanto, nesse caso específico, de ‘tomar nota’, mantém-se a associação espiritual com o referido desobediente. Assim, a restrição quanto à associação tem que ver com o contato social.
Já no caso da excomunhão, o corte da associação significa cortar o contato social e também o espiritual. A ordem “removei o homem iníquo de entre vós” significa evidentemente que tal homem (ou mulher) deixa de ser parte da comunidade cristã. (1 Coríntios 5:13b) Alguns excomungados se tornam ativistas e militantes contra a comunidade cristã, da qual foram expulsos. A respeito desses, o apóstolo João escreveu: “Todo aquele que se adianta e não permanece no ensino do Cristo não tem Deus. Quem permanece neste ensino é quem tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém se chegar a vós e não trouxer este ensino, nunca o recebais nos vossos lares, nem o cumprimenteis. Pois, quem o cumprimenta é partícipe das suas obras iníquas.” – 2 João 9-11.
Mas qual é o objetivo dessa ação disciplinar? Um dos motivos é descrito por Paulo no contexto de 1 Coríntios, capítulo 5: “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Retirai o velho fermento, para que sejais massa nova, conforme estiverdes livres do levedo.” (1 Coríntios 5:6b, 7a) Portanto, o princípio biológico de que algo podre estraga os demais alimentos ao redor também se aplica no campo moral e espiritual. Um pouco antes no mesmo capítulo, Paulo ordenou: “Entregueis tal homem a Satanás, para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor.” (1 Coríntios 5:5) Conforme mostrado pelo texto, a excomunhão (desassociação) resulta na remoção (“destruição”) da influência corrompedora (a “carne”, ou elemento carnal), preservando assim o “espírito” – a atitude dominante de boa condição espiritual – da congregação. (2 Timóteo 4:22) Dessa forma, o espírito de Deus – sua força ativa – é mantida na comunidade cristã, e tal comunidade, que leva o nome de Deus, Jeová, permanece como fiel representante Dele. – Atos 15:14.
Outro motivo tem a ver com o princípio da responsabilidade comunal – o princípio de que a tolerância deliberada de um mal dentro de uma comunidade incide na culpa da inteira comunidade. Vemos exemplos da aplicação desse princípio em diversas passagens bíblicas. Em seu discurso aos judeus e prosélitos presentes no Pentecostes de 33 EC, o apóstolo Pedro apontou a responsabilidade comunal que incorria sobre a nação judaica, usando a expressão “Jesus, a quem pregastes numa estaca.” (Atos 2:36) Mesmo pessoas que não haviam participado diretamente na morte de Cristo tinham culpa por causa responsabilidade comunal, quer por aceitação quer por omissão em relação ao ocorrido. (Veja outro exemplo da responsabilidade comunal no relato de 2 Samuel 20:1, 15-22.) Assim, por se remover transgressores impenitentes da comunidade cristã, os demais membros dessa comunidade mantêm sua aprovação perante Deus.
Outra razão da excomunhão está relacionada com a recuperação do próprio transgressor. Foi o que ocorreu com o transgressor tratado na primeira carta de Paulo aos coríntios, capítulo 5. A respeito do excomungado já arrependido, Paulo escreveu em sua segunda carta aos coríntios: “Esta censura [a excomunhão] da parte da maioria é suficiente para tal homem, de modo que agora, ao contrário, deveis perdoar-lhe bondosamente e deveis consolá-lo, para que tal homem não seja de algum modo tragado pela sua excessiva tristeza. Exorto-vos, portanto, a que confirmeis o vosso amor por ele. … Para que não sejamos sobrepujados por Satanás.” (2 Coríntios 2:6-8, 11a) Uma vez que tal homem mudou seu comportamento, ele podia ser reintegrado à comunidade cristã. Paulo mostrou que deixar de readmiti-lo seria uma demonstração de insensibilidade e injustiça da parte da comunidade cristã, levando-os a serem “sobrepujados por Satanás” e a cair no desfavor de Deus.

A responsabilidade que recai sobre os dirigentes da congregação
Os registros inspirados mostram um exemplo, no fim do primeiro século EC, da má aplicação e do abuso da prática bíblica da excomunhão, ou desassociação. Lemos em 3 João 9, 10: “Escrevi algo à congregação, mas Diótrefes, que gosta de ocupar o primeiro lugar entre eles, não recebe nada de nós com respeito. É por isso que, se eu for aí, farei lembrar as obras dele, que ele prossegue fazendo, parolando acerca de nós com palavras iníquas. Também, não contente com estas coisas, nem ele mesmo recebe os irmãos com respeito, e, os que querem recebê-los, ele procura impedir e lançar fora [excomungar] da congregação.” A expressão “ele procura impedir e lançar fora” no texto grego literal reza assim:  “Ele está impedindo e está lançando fora [desassociando].” Ambos os verbos – “impedir” (kolúo) e “lançar fora” (ou “expulsar” = ekbállo) estão no presente do indicativo, descrevendo uma ação em andamento, que de fato estava sendo executada.
Essa trágica situação que existia naquele tempo salienta a pesada responsabilidade que repousa sobre os que têm a autoridade e jurisdição de julgar e decidir sobre excomungar ou manter um suposto transgressor na congregação cristã. (Tiago 3:1; Lucas 12:48b) Um erro no julgamento constituiria uma grande injustiça, colocando os envolvidos na decisão numa condição altamente desfavorável perante Deus e na certeza de se tornarem alvo da execução de Seu julgamento condenatório.  – Romanos 14:12; Hebreus 4:13; Jó 31:14.
Por outro lado, quando exercida de forma justa, em harmonia com os padrões do cristianismo, a excomunhão (desassociação) é tanto correta como necessária, a fim de manter a pureza moral e espiritual na comunidade cristã e, acima de tudo, para essa comunidade estar à altura do Deus Santo, o Todo-poderoso e Soberano Senhor Jeová, que declarou: “Tendes de ser santos, porque eu sou santo.” – 1 Pedro 1:16; Levítico 20:26.

A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradaspublicada pelas Testemunhas de Jeová.

Contato: oapologistadaverdade@gmail.com

Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org


Comentários

Saga disse…
Apologista, veja [site de membros da cristandade]

O que acha?

Eu acho que tem uma falha aqui, que é de entender que o 14 Nisã começa na quinta de noite e termina na sexta de dia, então Jesus morreu no mesmo dia que comeu a páscoa. O autor acima parece ser ignorante quanto a isso.

Mas ele diz algo interessante, que é que a morte de Jesus só poderia cair no ano 31 (15 Nisã), não em 30 e nem em 33 (14 de Nisã). Senão a cronologia adventista não fecha.

O que me diz?
O texto de Mateus 26:17 diz: “No primeiro dia dos Pães não Fermentados, os discípulos vieram a Jesus, dizendo: ‘Onde queres que preparemos para comeres a páscoa?’” A NM tem uma nota sobre a expressão “no primeiro dia dos”. A nota diz: “Ou: ‘No dia antes dos.’ Esta tradução da palavra gr. πρω̃τος (pró•tos), seguida pelo caso genitivo da palavra seguinte, concorda com o sentido e a tradução duma construção similar em Jo 1:15, 30, a saber: ‘existiu antes [pró•tos] de mim’. Segundo LS, p. 1535, col. 1, ‘πρω̃τος é [às vezes] usado onde esperaríamos πρότερος [pró•te•ros]’.”
Assim, na quinta-feira durante o dia (13 de nisã), Jesus fez preparativos para a Páscoa. (Mt 26:17) O dia 14 de nisã começou após o pôr do Sol daquela quinta-feira e terminou no pôr do Sol de sexta-feira, quando Jesus já havia morrido. Mas, pelo que parece, o autor do referida matéria citada por você desconhece a gramática grega nesse aspecto. De qualquer modo, ele admite que a morte de Jesus Cristo no dia 14 de nisã só poderia ocorrer no ano 33 EC, ano em que de fato aconteceu.

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