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Debate com um comentarista sobre Atos 15:28 e 29
“Pois, pareceu bem ao
espírito santo e a nós mesmos não vos
acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as seguintes coisas necessárias: de persistirdes em abster-vos de
coisas sacrificadas a ídolos, e de
sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação. Se vos guardardes
cuidadosamente destas coisas, prosperareis. Boa saúde para vós!” – Atos
15:28-29.
Comentarista:
Não seria importante levar em consideração o contexto
histórico em que essa ordem foi emitida? O que vinha à mente daqueles que
tomaram essa decisão ao ordenar o abster-se
de sangue e também à mente daqueles que ouviram essa ordem? Não pensavam eles
exatamente e exclusivamente no sangue derramado por animais mortos?
Resposta:
Na exegese bíblica, deve-se naturalmente considerar o contexto
histórico. Contudo, isso não restringe a aplicação de um princípio a uma época
específica, uma vez que os princípios bíblicos valem para todas as épocas. O
princípio que rege a proibição do uso de sangue não tem a ver com o tipo de
sangue (animal ou humano) nem com a forma em que poderia ser introduzido no
corpo (por exemplo, pela boca), e sim com
O QUE ELE REPRESENTA: a vida, que de direito pertence a Deus. O mau uso do
sangue é um atentado contra a santidade da vida, do
mesmo modo que o assassinato o é, razão pela qual ambas as coisas foram
mencionadas juntas no mesmo contexto em Gênesis 9:3-6:
“Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de
alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a
carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer. E, além disso,
exigirei de volta vosso sangue das vossas almas. Da mão de cada criatura
vivente o exigirei de volta; e da mão do homem, da mão de cada um que é seu
irmão exigirei de volta a alma do homem. Quem derramar o sangue do homem,
pelo homem será derramado o seu próprio sangue, pois à imagem de Deus fez ele o
homem.” – Gênesis 9:3-6.
Comentarista:
De fato, os princípios bíblicos valem para todas as épocas,
isto não está em discussão; porém, quanto ao tipo de sangue, o versículo 29 de
Atos 15 parece referir-se apenas a ANIMAIS MORTOS: basta observar o contexto
para confirmar isso. A sua tradução exclusiva da Bíblia usa expressões como “coisas
sacrificadas a ídolos” e “coisas estranguladas”, entre a
palavra “sangue”; essas expressões são exclusivas para o sangue de animais
mortos.
Resposta:
Não podemos perder de vista que o motivo da proibição do
sangue está NO QUE ELE REPRESENTA: A VIDA, que de direito pertence a Deus.
(Gênesis 9:4; Levítico 17:11) Uma vez
que o sangue animal não pode ser colocado em nosso corpo por representar a vida
animal, o sangue HUMANO também não o pode, por representar a vida humana. O
sangue não deixa de representar a vida ao ser administrado pelas veias.
Portanto, a proibição bíblica ABRANGE a prática de infundir sangue humano pelas
veias.
Também, a proibição bíblica do sangue em Atos 15:28
e 29 não envolve somente o uso de sangue animal. O texto faz na realidade
menção do sangue duas vezes. Primeiro, na expressão “coisas estranguladas”, ou
sufocadas, está claro que a referência é à
carne animal não sangrada devidamente. No entanto, em seguida o mesmo texto
manda abster-se de sangue. Se a segunda referência fosse ao sangue animal, essa
menção seria redundante e desnecessária. É óbvio que a menção de “sangue”
significa o sangue de modo geral, incluindo o sangue HUMANO, uma vez que o
sangue animal já foi englobado na expressão “carne
sufocada”.
Comentarista:
Então o sangue representa a vida, mas a vida de quem? Do
doador? Acontece que o doador continua vivo após a retirada de seu sangue e
acaba por manter vivo aquele que recebe este sangue. Dizer que as transfusões
são totalmente desnecessárias em todos os casos seria falso.
Resposta:
O fato de um doador permanecer vivo é irrelevante sob o
aspecto bíblico. Primeiro, porque a Bíblia
não autoriza a introdução do sangue no corpo – e, por inferência, então, a
doação de sangue. Ao contrário, ela manda ‘abster-se de sangue’.
(Atos 15:28, 29) O motivo: “A alma [vida] da carne está no sangue.”
(Levítico 17:11) O ÚNICO USO APROVADO DO SANGUE é para expiar (cobrir)
pecados, não como alimento nem como remédio ou qualquer outro uso. –
Levítico 17:11; Hebreus 9:22.
Quando se questiona a necessidade
real de uma transfusão, tem-se presente a transfusão de sangue alogênico (de
outra pessoa). A Bíblia não condena terapias que usam técnicas de gerenciamento
e de conservação do próprio sangue num circuito fechado, como extensão do
sistema circulatório do paciente.
Comentarista:
É fato que não existe um estudo preciso que determine quando é
realmente necessário transfundir ou não; sabemos que, em alguns casos, um
médico insiste em uma transfusão totalmente desnecessária, mas em outros casos
o paciente não tem opção: ou recebe sangue ou morre.
Resposta:
Visto que “não existe um estudo preciso que determine quando é
realmente necessário transfundir ou não”, é questionável afirmar que “em outros
casos o paciente não tem opção: ou recebe sangue ou morre”. Mas, essa questão é irrelevante
aos olhos do Criador, que decretou a ordem de ‘abster-se de sangue’.
(Atos 15:19, 20) Ele colocou essa proibição no mesmo elevado nível moral
de se evitar a idolatria e a grave imoralidade sexual, pecados que podem
comprometer a vida eterna da pessoa.
Comentarista:
Por que, então, isso deixa Jeová tão irritado? Se o doador do
sangue não morreu em função da doação, se o sangue do doador, que significa
vida, ajudou a salvar outra vida e os dois, paciente e doador, continuam vivos,
o que afinal, no fato de o sangue significar vida, deixa Deus tão chateado?
Qual é o sentido disso?
Resposta:
Por ser o Criador, Jeová tem o direito inquestionável de
estabelecer o que quiser. (Apocalipse 4:11) No Éden, ele estabeleceu que
determinado fruto era proibido. É uma prerrogativa dele decidir isso. Quanto a
algo supostamente salvar uma vida, isso não justifica a
violação de uma lei divina nem torna tal violação moralmente aceitável. O texto
que ordena abster-se de sangue também ordena abster-se de idolatria e de
imoralidade sexual.
Os três hebreus que estavam em Babilônia poderiam ter salvado
sua vida por idolatrar a imagem feita pelo rei de
Babilônia. Isso salvaria a vida deles. Mesmo assim não fizeram isso. Foram
salvos por Deus, mas estavam dispostos a morrer para não violar uma lei Dele.
(Daniel 3:1-18) Alguém poderia salvar a própria vida por consentir numa
fornicação. Mas isso não justificaria a violação de tais leis divinas, nem
tornaria tais violações moralmente aceitáveis.
Comentarista:
Será que a decisão dos cristãos de Jerusalém não foi meramente
política? Uma maneira de encontrar um meio termo entre algo que incomodava os
cristãos gregos (circuncisão) e as regras que os cristãos judeus tanto zelavam
(evitar sangue de animais e alimento sacrificado a ídolos), e assim acalmar os
ânimos dos dois lados da questão?
Resposta:
Esse não seria o caso. A decisão foi baseada na operação do
espírito santo sobre os primitivos cristãos e nas Escrituras Sagradas,
inspiradas pelo espírito santo. – Atos 15:6-8, 12-21.
Assim, os apóstolos e anciãos de Jerusalém podiam corretamente
dizer: “PARECEU BEM AO ESPÍRITO SANTO e a nós mesmos não
vos acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as seguintes coisas necessárias:
de persistirdes em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e
de coisas estranguladas, e de fornicação. Se vos guardardes cuidadosamente
destas coisas, prosperareis. Boa saúde para vós!” – Atos 15:28, 29.
Comentarista:
É fácil perceber que o apóstolo Paulo não concordava muito com
a decisão dos cristãos de Jerusalém. Ele só levou essa controvérsia para lá
porque foi lá que tudo começou, e Paulo precisava cortar o mal pela raiz, mas
ele não era
submisso às decisões dos irmãos de Jerusalém. Para perceber isso basta comparar
Atos 15:29 com 1 Coríntios 8:4-13.
Atos 15:29: “… de persistirdes em
abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e de coisas
estranguladas, e de fornicação. Se vos guardardes cuidadosamente destas coisas,
prosperareis. Boa saúde para vós!”
1 Coríntios 8:4-13: ”Ora,
acerca de comer alimentos oferecidos a ídolos, sabemos que o ídolo nada é no
mundo, e que não há Deus senão um só. Pois, embora haja os que se chamem
‘deuses’, quer no céu, quer na terra, assim como há muitos ‘deuses’ e muitos
‘senhores’, para nós há realmente um só Deus, o Pai, de quem procedem
todas as coisas, e nós para ele; e há um só Senhor, Jesus Cristo, por
intermédio de quem são todas as coisas, e nós por intermédio dele. Não
obstante, nem em todos há tal conhecimento; mas alguns, acostumados até agora
com o ídolo, comem o alimento como algo sacrificado a um ídolo, e a consciência
deles, sendo fraca, fica poluída. Mas, não é a comida que nos recomendará
a Deus; se não comermos, não seremos faltosos, e, se comermos, não teremos
méritos para nós mesmos. Sede vigilantes, porém, para que esta autoridade
vossa não se torne de algum modo uma pedra de tropeço para os que são fracos. Pois,
se alguém vir a ti, que tens conhecimento, recostado numa refeição num templo
de ídolo, não se edificará a consciência daquele que é fraco ao ponto de comer
alimentos oferecidos a ídolos? Realmente, pelo teu conhecimento está sendo
arruinado aquele que é fraco, teu irmão pelo qual Cristo morreu. Mas,
quando pecais assim contra os vossos irmãos e feris a sua consciência fraca,
estais pecando contra Cristo. Portanto, se o alimento fizer o meu irmão
tropeçar, nunca mais comerei carne alguma, para que eu não faça meu irmão
tropeçar.”
Resposta:
Paulo estava de pleno acordo com a
decisão apostólica, visto que esta se baseava nas Escrituras. Prova disso é o
que diz o livro de Atos: “Paulo selecionou Silas e partiu. … Enquanto viajavam
através das cidades, entregavam aos que estavam ali, para a sua observância, OS
DECRETOS DECIDIDOS PELOS APÓSTOLOS E ANCIÃOS, que estavam em Jerusalém.”
(Atos 15:40a; 16:4) Assim, ele também era contra comer “coisas
sacrificadas a ídolos”. – Atos 15:29; 1 Coríntios 10:14-22.
O que ele mostrou que era questão
de consciência, em 1 Coríntios capítulos 8 e 10, diz respeito a comer carne
fora da cerimônia religiosa, quando essa era vendida no açougue. – 1 Coríntios
10:25, 26.
Comentarista:
Se Paulo estivesse preocupado com as
Escrituras, ele não iria contra a circuncisão em primeiro lugar; naquele
momento a lei mosaica não tinha valor algum. Quanto à distribuição do decreto,
para Paulo aquilo representava uma vitória de certa forma, uma vez que derrubava
a circuncisão, mas não quer dizer que ele estivesse em acordo com tudo que
estava escrito nesse documento. Quanto ao texto, se fosse assim, a carta de
Paulo estaria em clara contradição.
Resposta:
Que Paulo se preocupava com as Escrituras, podemos ver pelo
que ele disse: “Não vades além das coisas que estão escritas.”
(1 Coríntios 4:6) Ele foi contra a circuncisão porque os fatos E AS ESCRITURAS
demonstravam que a introdução do novo pacto validado com a morte de Cristo
trouxe o fim da Lei mosaica, incluindo a lei da circuncisão, o que Paulo
demonstrou de forma clara em suas cartas. – Romanos 4:9-14; Hebreus 8:7-13.
Comentarista:
Em 1 Coríntios 8:4-13 ele fala claramente que não havia
problema algum em ingerir o alimento oferecido a ídolos, já em 1 Coríntios
10:14-22 ele condena a participação neste tipo de sacrifício e não a ingestão
do alimento em si; por isso que ele começa o versículo 14 dizendo: “Fugi da
idolatria”. Apenas comer um alimento não envolve idolatria, mas participar da
cerimônia de oferecimento deste alimento sim, aí é que
estava a idolatria, e era isso que Paulo condenava, não o comer o alimento.
Resposta:
E é justamente isso que o decreto apostólico condenou:
participar da cerimônia na qual o alimento oferecido a ídolos era comido. A
Bíblia inteira é a Palavra de Jeová Deus, e ela não se contradiz. (2 Timóteo
3:16, 17) Uma vez que Paulo exortou seus irmãos a ‘falar de acordo e não ter
divisões’ (1 Coríntios 1:10), ele próprio não iria agir contrário a isso. Assim, Paulo
estava de pleno acordo com o decreto apostólico.
Comentarista:
De modo algum, você sabe perfeitamente bem que o texto não
fala em abster-se da cerimônia, mas sim das coisas sacrificadas nessas cerimônias, ou
seja, ‘a carne dos animais mortos com o seu sangue, de coisas estranguladas e
de fornicação’. Sinceramente não me sinto estimulado a conversar com você sobre
isso, simplesmente porque acho que você, talvez sem plena consciência disso,
tenta se enganar com uma interpretação obviamente baseada num raciocínio falso,
e assim manter a ilusão de que essa interpretação da passagem
de Atos 15:28 e 29 é a correta.
Resposta:
O que você chama de “raciocínio falso” é a interpretação que
coloca as Escrituras em plena harmonia. Já o seu raciocínio faz com que as Escrituras
se contradigam, como se elas fossem uma coleção de pensamentos humanos contraditórios,
uma passagem proibindo algo e outra aprovando. Se assim fosse, a Bíblia não
seria realmente “inspirada por Deus e proveitosa”. – 2 Timóteo 3:16.
A nossa interpretação de Atos 15:28 e 29 tem total respaldo
bíblico. As bases apresentadas em nossas publicações sobre evitar transfusões
alogênicas têm lógica e clareza para as pessoas sinceras
que querem a verdade e que não têm medo do homem.
Comentarista:
No passado as Testemunhas de Jeová ensinavam que tomar vacina
e transplantar órgãos eram práticas que desagradavam a Deus e depois (após a
morte de muitas pessoas inocentes que acreditaram nesse erro de interpretação)
voltaram atrás e reconheceram que estavam
equivocados. Não existe qualquer possibilidade da interpretação sobre a questão
do sangue estar igualmente equivocada?
Resposta:
Na questão dos transplantes e das vacinas, a posição das
Testemunhas na época refletia a postura médica predominante, que também era
contra tais procedimentos, que eram altamente perigosos. Essa postura – das
Testemunhas E DOS
MÉDICOS – mudou assim que tais terapias se tornaram seguras. (Veja os artigos “Transplantes”,
“Testemunhas de Jeová e os transplantes de órgãos” e “Vacinas”.)
Já no caso das transfusões, a
posição das Testemunhas não reflete a postura médica predominante, e sim o
ensinamento bíblico. Portanto, não há como usar a questão dos transplantes e
das vacinas para argumentar contra a posição bíblica das Testemunhas sobre o
sangue.
Comentarista:
E se essa interpretação estiver errada? Quais seriam as
chances de a liderança reconhecer isso hoje em dia? Quantas
pessoas já morreram por obedecer a essa ordem? A quantos processos judiciais a liderança
teria que responder caso reconhecesse um possível erro de interpretação neste
campo? Até que ponto ficaria abalada a credibilidade do Corpo Governante das
Testemunhas de Jeová perante aqueles que acreditam nele?
Resposta:
Primeiro, você está equivocado na questão do ponto de vista
cientifico. Você deveria colocar: quantas pessoas PRESERVARAM SUAS VIDAS por
obedecer a essa ordem?
Toda ciência é desvendada progressivamente através de
pesquisas, equívocos e correções. Não é diferente com a ciência bíblica. O
importante é a disposição dos pesquisadores de corrigir conceitos errados. Só
assim se atinge a verdade sobre o assunto pesquisado. As Testemunhas de Jeová
têm mostrado sinceramente tal disposição.
Contudo, as pesquisas trazem à tona verdades fundamentais, que
não estão sujeitas a correções. Algumas dessas verdades são sobre
a santificação do nome de Deus, Jeová, da real condição dos mortos, da
ressurreição, da vida eterna na Terra etc. A verdade sobre a santidade da vida
e do sangue, que leva à proibição do uso do sangue, também é fundamental. Veja o
artigo “A ciência
bíblica – como devemos encará-la?”.
Próximo artigo: “As ‘curas pela fé’ são fundamentadas na Bíblia? ”.
A menos que haja uma indicação, todas as
citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem
ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Tão querendo tornar a congregação selada do primeiro século na confusão de igrejas divididas da Cristandade que é hoje, cheia de desunidos "ungidos", "apóstolos", "bispos", "missionários" e "profetas" que discordam mutuamente entre si ao mesmo tempo que admitem para todos eles aprovação divina e o chamado do Senhor?
Isto que irei postar eu postei originalmente no site TNMD.
Sinta-se a vontade para modificar e postar se achar que foi util.
(Este texto é 100% original. Eu criei do "0").
UMA CONVERSA SOBRE A BÍBLIA — A BÍBLIA É CONTRA TRANSFUSÕES DE SANGUE?
(Leia a seguir uma típica conversa que uma Testemunha de Jeová pode ter com uma pessoa. Imaginemos que Carlos questiona seu colega de trabalho, Pedro, sobre algo que ele ouviu a respeito das Testemunhas de Jeová.)
CARLOS - Bom dia Pedro!
PEDRO - Bom dia Carlos! E ai, como foi seu final de semana?
CARLOS - Tranquilo. Eu fui passear com minha família e aproveitamos pra fazer uma visita ao meu sogro.
PEDRO - Que bom!
CARLOS - Estivemos conversando bastante. Mas teve uma coisa sobre o qual nós conversamos que me deixou chocado. Me diz uma coisa Pedro, aquela vez que você disse que ia se ausentar por causa de um Congresso; bem... você disse que era... Testemunha de Jeová não é?
PEDRO - Isso. É como eu te expliquei, é um evento que acontece uma vez por ano em todo mundo.
CARLOS - Certo. Era sobre isso que eu e meu sogro estávamos conversando. As Testemunhas de Jeová. Bem, eu não conheço muito bem a sua religião. Já ouvi falar que elas pregam de porta em porta. Como eu moro em um condomínio fechado eu nunca as vejo. Achei que era só mais uma religião evangélica. Mas dai o meu sogro que é Evangélico estava me contando que as Testemunhas de Jeová não doam sangue e nem recebem transfusão de sangue. Ele me disse que elas preferem morrer do que tomar sangue. Ele até me contou um caso em que uma mãe deixou a filha morrer porque ela disse que Deus não queria que sua filha recebesse sangue. Eu fiquei revoltado com isso! Ele me disse que vocês na verdade são uma seita e que a bíblia não fala nada sobre transfusão de sangue. Eu fiquei confuso. Pedro, porque vocês são contra Transfusões de Sangue? Qual o problema em querer salvar um vida? Será que Deus é tão cruel assim?
PEDRO - Bem Carlos, antes de eu te explicar nossa posição com relação ao sangue, eu gostaria de fazer algumas observações. Infelizmente existe um histórico grande de oposição á nossa religião em diversos lugares por onde nós pregamos. Às vezes esta oposição vem em forma de boatos e calunias. E em alguns lugares nós sofremos até violência física. Acredito que a informação que chegou até o seu sogro está incompleta e foi distorcida. Mas eu quero agradecer por você sinceramente vim até a mim pra entender mais sobre essa questão. Eu percebo sua boa motivação.
CARLOS - Acho importante ouvir os dois lados. Talvez uma Testemunha de Jeová explique melhor o assunto.
PEDRO - Pois bem. Quero deixar claro que do ponto de vista médico, isso é apenas uma questão de LIBERDADE DE ESCOLHA DE TRATAMENTO. Nós não somos suicidas. Não queremos morrer nem deixar nossos filhos morrerem. A prova disso é que nós procuramos ajuda médica sempre que ficamos doentes, mesmo quando acontece uma doença grave ou um acidente. Nós amamos a vida e queremos continuar vivendo. Eu gostaria até de te contar COMO nós somos tratados sem sangue. Mas antes deixe eu te explicar o PORQUE nós não fazemos uso do sangue.
CARLOS - Tudo bem. Faz sentido. Agora fiquei curioso. Continue.
PEDRO - Tudo o que as Testemunhas de Jeová procuram fazer está baseado na Bíblia. Nós procuramos harmonizar todos os aspectos de nossa vida com o ponto de vista bíblico. E por isso nós estudamos constantemente a bíblia. Se nós evitamos transfusão de sangue, é porque há algo na bíblia que indica isso. Deixe eu te mostrar um texto bíblico aqui no meu celular. Veja aqui, Atos 15:29;
Diz assim: "(...) de persistirdes em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, E DE SANGUE, e de coisas estranguladas, e de fornicação. Se vos guardardes cuidadosamente destas coisas, prosperareis. Boa saúde para vós!”
Neste texto há uma ordem clara de se ABSTER de sangue. Carlos, você sabe o que significa a palavra 'ABSTER'?
CARLOS - Não usar. Não utilizar algo.
PEDRO - Exatamente!
(continua)
CARLOS - Mas isso não faz sentido. Naquela época nem existia transfusão de sangue. Nem hospital existia. Como é que Deus estaria proibindo um procedimento médico? Faz mais sentido acreditar que não era pra comer sangue.
PEDRO - Novamente é preciso entender o significado da palavra ABSTER. Deixe eu te dar um exemplo. Se um médico disse-se para você se abster de álcool, você injetaria ele na veia?
CARLOS - Com certeza não! Ninguém faria isso.
PEDRO - Isso também se aplica à outras coisas. Por exemplo, se abster de cigarro: você não vai fumar, evitará sempre que possível ser um fumante passivo, nem mascar tabaco, nem inala-lo sob qualquer forma.
Lembre-se TUDO que nós comemos e introduzimos via oral ou nasal vai para nossa corrente sanguínea. Injetar na veia é apenas uma maneira de encurtar o caminho.
Já sobre a sua afirmação de que a ordem de Atos 15:29 teria apenas uma implicação nutricional de 'não comer' mas não teria uma relação médica como 'transfusão de sangue', saiba que desde antes do primeiro século o sangue humano já era usado como tratamento. Os médicos egípcios usavam sangue para tratar lepra. Existiam até médicos romanos do primeiro século que utilizavam o sangue de gladiadores mortos para tratar epiléticos. O escritor do livro de Atos também sabia disso, porque ele era médico.
O fato de que algo passou a ser utilizado de uma maneira diferente não remove a restrição de seu uso. Sempre existe um principio por trás de uma ordem ou uma proibição.
Se você se abstêm de drogas é porque elas causam dependência e graves problemas de saúde. Estará seguindo o principio do respeito a vida.
Nós evitamos transfusões de sangue pelo mesmo motivo que não usamos sangue como alimento e não comemos carne de animais não-sangrados. Há um principio por detrás dessa ordem.
CARLOS - E que princípio é esse?
PEDRO - O principio da santidade do sangue. A bíblia deixa evidente esse princípio em diversas partes. Por exemplo, ela relaciona o sangue com a vida. (Lev. 17:11). Ela ordenou há muito tempo que Noé não deveria utilizar sangue. O sangue deveria ser derramado. Havia apenas um único uso do sangue aprovado por Deus, e era para sacrifícios. Mas para os cristãos não existe mais esta obrigação.
Porém, quando um cristão se abstém de sangue, ele está, na verdade, expressando sua fé em que APENAS o sangue derramado de Jesus Cristo pode realmente redimi-lo e salvar a sua vida. (Ef. 1:7).
CARLOS - Mas então COMO um cristão vai ter sua vida salva se precisar de uma transfusão de sangue?
PEDRO - Essa é uma pergunta interessante. Mas lembre-se que, como criador, Deus sabe melhor do que ninguém o que nos prejudica e o que nos beneficia. E as pesquisas médicas tem mostrado que quem evita transfusão de sangue, também evita diversas complicações. Por exemplo, nenhuma transfusão de sangue está 100% isenta do risco do vírus da AIDS, da Hepatite e de incompatibilidades.
(continua)
CARLOS - Mas é melhor correr o risco do que a certeza da morte.
PEDRO - Não, porque como eu disse, o sangue não é nem a melhor, nem a unica alternativa. Por exemplo, existem maquinas chamadas cell-saver que dispensam bolsas de sangue. Isto porque ao invés de repor o sangue perdido, esta maquina lava e reinjeta o próprio sangue. Existem técnicas que fazem com que os glóbulos vermelhos surjam com mais rapidez, como o uso de eritropoietina e solução de ferro. E também já se descobriu que não existe um 'mínimo', que seria o limiar entre a vida e a morte. Por exemplo, ao invés de se determinar o mínimo de glóbulos vermelhos, é mais importante manter a pressão e o volume sanguíneo. Por exemplo, se a companhia de água fizesse um racionamento, o que você faria? Diminuiria o consumo de água e tentaria captar água de outras formas não é? Talvez coletando água da chuva. Da mesma forma isso é feito com relação aos sangue perdido. Como o mais importante é manter a pressão, o volume perdido é reposto com uma solução salina, um tipo de soro. Depois, pode-se reduzir o consumo de oxigênio por meio de coma induzido. E aumenta-se a demanda de oxigênio por meio de ventilação mecânica ou câmara de oxigenação hiperbárica - um ambiente de 100% oxigênio e duas vezes a pressão atmosférica. Nesse meio tempo, certos medicamentos vão entrar em ação pra restaurar os níveis dos fatores sanguíneos, por exemplo, a eritropoietina acelera a produção de hemácias. Também existem medicamentos que estimulam o surgimento de glóbulos brancos e plaquetas. E na verdade o nosso corpo resiste a 'extremos' mais do que se imaginava. Antes os médicos achavam que o numero de hemácias não podia cair para mais de 10dg/L. Mas já se sabe que quando esse nível cai bruscamente, o corpo usa mecanismos de compensação, como a aceleração dos batimentos cardíacos e diminuição da viscosidade do sangue. E isso faz com que o sangue circule bem mais rápido que o normal. Dai a importância de se manter o volume. Para que esse sangue possa chegar em todos os tecidos.
Já quando o sangue é armazenado, para ser transfundido, as hemácias sofrem deformação e prejudicam a micro circulação. A consequência disso é que há o risco de derrame, falência hepática, falência renal ou embolia pulmonar.
Também há o risco de um choque anafilático por incompatibilidade. Mesmo se o tipo ABO ou Rh forem compatíveis, ainda há este risco. Na verdade é mais fácil encontrar duas impressões digitais idênticas do que dois tipos sanguíneos idênticos.
Há ainda o risco de uma reação transfusional como a TRALI, uma lesão pulmonar aguda com alta taxa de mortalidade. Pode ocorrer pelo contato do sangue com qualquer substância que contenha plasma.
CARLOS - Puxa, nunca tinha ouvido falar disso na minha vida. Eu realmente achava que as transfusões de sangue eram a unica maneira de salvar uma vida. E também não sabia de todos estes riscos.
PEDRO - Você também mencionou um suposto caso em que uma filha de Testemunha de Jeová morreu. Na verdade Carlos, ninguém morre porque não tomou sangue, assim como o sangue não é garantia de sobrevivência. Apesar das cirurgias sem sangue serem mais seguras, nenhum tratamento é isento de riscos. Mas o que geralmente acontece é a NEGLIGÊNCIA e INCAPACIDADE médica. Mas lhe garanto que casos como estes são isolados. Todos os dias, milhares de cirurgias sem sangue são feitas. Não há restrições pra isso. Pode ser realizadas tanto em um campo de batalha como em um campo de refugiados. Num pais de primeiro mundo até um pais de terceiro mundo. Não há limites pra estes procedimentos.
CARLOS - Não tinha pensado neste ponto.
PEDRO - E com relação a declaração da mãe desta menina que você citou, bem, posso lhe dizer que não passou de uma colocação indevida. Por exemplo, uma mãe pode afirmar que prefere morrer do que ver seus filhos indo para o tráfico. Mas isso não significa que esta mãe queira morrer. Apenas ela tem uma firme determinação de manter seus filhos longe do tráfico.
Assim também se dá conosco, Apesar de ser indevido afirmar desta maneira, pois passa uma impressão errônea, nós estamos determinados a se manter fiéis ao nosso Deus Jeová, o dador da vida. Pode ter certeza que os mandamentos dele não são um fardo, pelo contrario, são uma PROTEÇÃO.
Espero que você tenha entendi nossa posição. Lembre-se: Nós amamos a vida e não queremos perde-la. Por isso que escolhemos os MELHORES tratamentos para nós e nossos filhos.
CARLOS - Olha, muito obrigado pela sua explicação. Quantas informações que eu não sabia! Depois eu vou querer saber mais sobre estes Tratamentos Alternativos.
PEDRO - Claro, será um prazer! Você vai encontrar mais informações também no nosso site site: JW.ORG. Lá tem vários artigos interessantes que falam sobre isso.
CARLOS - Tudo bem, eu vou acessar sim.