Contribuído por Historiador JW.
O artigo anterior trouxe à luz a origem
e os fundamentos da teoria dispensacionalistas e da teologia do concerto. Este
artigo examinará se as Testemunhas de Jeová têm relação com quaisquer dessas
filosofias doutrinárias.
A
origem das Testemunhas de Jeová
As Testemunhas de Jeová não surgiram no
século XIX, como dizem alguns desinformados, mas muito antes desse século
inovador. Tanto é assim que, aproximadamente 2.700 anos atrás, os servos de
Deus foram chamados de “testemunhas” (ʽedh) pelo profeta Isaías
(43:10-13). Também, no primeiro século, o apostolo Paulo escreveu: “Estamos
rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas”, depois de citar o exemplo
notável de várias Testemunhas de Jeová que viveram antes de Cristo (Hebreus 12:1).
Assim, as evidências apontam que, antes mesmo da congregação cristã no primeiro
século, já existiam pessoas que defendiam o nome de Jeová [Testemunhas] e
exerciam fé em seus propósitos, como Abel (Gênesis 4:5; Hebreus 11:4), a
primeira Testemunha de Jeová.
O
desenvolvimento da apostasia
Como sabemos, depois que os apóstolos
de Cristo morreram, o Cristianismo foi corrompido pela apostasia (1 João 2:18,
19). Depois do primeiro século, ideias pagãs começaram a girar em torno do texto
sagrado, como o acréscimo muxibento das palavras “no céu: o Pai, a Palavra e o
espírito santo; e estes três são um” em 1 João 5:7, que não se encontram nos
manuscritos mais antigos. Outras doutrinas foram oficializadas quando o
Imperador Constantino se tornou “cristão”, ou seja, católico, como a famosa
Cruz que veio a ser o símbolo sagrado da cristandade até os dias de hoje.
Assim, temos de concordar com o Historiador Geoffey Blainey (2009, p. 107), que
escreveu: “O Cristianismo [Cristandade] lentamente adaptou alguns de seus rituais
vindos da vida cotidiana dos romanos.” Dessa forma, a potência mundial romana
multiplicou muitos clérigos e Igrejas (religiões).
Ao logo do tempo, suas terríveis
maldades só aumentaram, a exemplo da morte de centenas de pessoas nas
“fogueiras santas” e as torturas na “santa inquisição” no período histórico
conhecido como Idade Média, período denominado pelos iluministas como “Idade
das Trevas”. No século XIV, o inferno de fogo se “popularizou”, por assim dizer,
com o lançamento do famoso poema intitulado “Divina Comédia” de Dante de
Alighieri, além de outras obras nessa temática, como “as onze dores do
inferno”, influenciando muitas pinturas na época, como a pintura na Capela
Sistina, no Vaticano, de Miguel Ângelo.
Dessa forma, essa obra expressou o imaginário coletivo da cristandade
por popularizar no mínimo três mentiras: o inferno de fogo, a vida pós-morte e
a alma imortal. Nos séculos posteriores, os reformadores protestantes
mantiveram a mesma matriz de pensamento, tanto dispensacionalistas como teólogos
do concerto, etc. Assim, temos de concordar com o professor da Universidade
de Harvard, Blainey:
Por pelo menos quatro séculos, o
cristianismo foi como um metal quente despejado de fornos em moldes de formatos
variados. Às vezes, um forno quase explodia ou o fogo era apagado.
Frequentemente, os fornos eram remodelados e, muitas vezes, eram ampliados. Os
moldes eram mudados repetidas vezes, de forma que, se os primeiros seguidores
de Cristo tivessem voltado a viver, não teriam reconhecido muitas das crenças e
rituais da Igreja que eles tinham ajudado a fundar. (BLAINEY, 2009, p. 107).
O restabelecimento
das doutrinas bíblicas fundamentais
Assim, diante de tantas trevas, a luz
da verdade começou a brilhar no final do século XIX, com um grupo de estudos
bíblicos nos EUA e, à medida que foram florescendo em outros países, ficaram
conhecidos como Estudantes Internacionais da Bíblia, por iniciativa de Charles
Taze Russell, um zeloso estudante da Bíblia.
No entanto, nesse mesmo período os paradigmas teológicos ganharam ímpeto
em muitos lugares, até mesmo nos EUA, induzindo muitos a afirmar que os
Estudantes da Bíblia (Testemunhas de Jeová, a partir de 1931) foram
influenciados pelos paradigmas teológicos dispensacionalistas e dos teólogos do
concerto.
As Testemunhas de
Jeová foram influenciadas pela doutrina dispensacionalistas e da teologia do
concerto?
Citaremos agora os principais
argumentos e críticas dos antagonistas das Testemunhas de Jeová para tais
afirmações. Depois responderemos a cada uma delas:
·
As Testemunhas de Jeová acreditam que o reinado milenar será
literal, uma ideia dispensacionalista;
·
As Testemunhas de Jeová dizem que o Israel natural não é
mais o povo pactuado de Jeová atualmente, pois foram substituídos pelo Israel
de Deus, isto é, um Israel espiritual, uma ideia da teologia do concerto;
·
C. T. Russell tinha
ideias dispensacionalistas porque tinha uma tabela que apontavam para as “eras
escatológicas” e a pirâmide de Gizé, conceitos dispensacionalistas com ideias
correntes;
·
A crença de que estamos no “final dos tempos” pregado pelas
Testemunhas de Jeová, é a mesma compartilhada pelos dispensacionalistas, porque
acreditam que “[...] as guerras mundiais, o terrorismo, os tsunamis, doenças
como malária, influenza, e AIDS são evidência empírica que o fim deve estar
perto”. (DEMAR traduzido por FELIPE SABINO, 2008, p. 1).
Primeiro, a crença do reinado milenar literal não é uma ideia
dispensacionalista, mas bíblica. Tanto é assim que Apocalipse, capítulo 20,
descreve detalhes desse vindouro reino, não de forma alegórica como acreditava
Agostinho de Hipona (354-430 EC). Se as Testemunhas de Jeová são
dispensacionalistas, como afirmam os críticos pelo fato de elas acreditarem que
o Reino Milenar será literal no
futuro por transformar a terra num paraíso, então, os mesmos críticos afirmam indiretamente
que Pápias de Hierápolis (70-155 DC) também foi um dispensacionalista porque
acreditava que o Reino Messiânico será literal. Assim, fazer uma afirmação
dessas é no mínimo cometer um anacronismo.
Outra prova de que as Testemunhas de
Jeová não são dispensacionalistas é o fato de que nem sempre interpretam a Bíblia
literalmente, mas de acordo com o contexto escriturístico. Por exemplo,
acreditam conforme as Escrituras que os “dias” criativos de (Gênesis, capítulo
1) não são “dias” literais de 24
horas, mas dias que abrangem determinado período de tempo (2 Pedro 3:8).
Diferentemente dos dispensacionalistas, que acreditam na literalidade dos dias
criativos. Outro exemplo de que não interpretamos a Bíblia de forma literal,
como os dispensacionalistas, está em Mateus 26:26-28. Não somos como Lutero,
que cria que o corpo e o sangue de Cristo estavam milagrosamente presentes no
pão e no vinho na Comemoração.
Veja os motivos pelos quais as
Testemunhas de Jeová não acreditam como os dispensacionalistas, isto é, de
forma literal cada passagem bíblica. A revista A Sentinela (2005) responde:
Líderes da Reforma Protestante também
foram contra o conceito de que o Sol era o centro do Universo. Entre eles
estavam Martinho Lutero (1483-1546), Philipp Melanchthon (1497-1560) e João Calvino (1509-64). Lutero disse a
respeito de Copérnico: “Esse louco quer inverter toda a ciência da astronomia.”
Os Reformadores baseavam seu argumento numa interpretação literal de certos textos bíblicos, tais como o relato
no capítulo 10 de Josué, que menciona que o Sol e a Lua ‘ficaram imóveis’.
Por que os Reformadores tiveram essa atitude? O livro Galileo’s Mistake (O Engano de Galileu) explica que a Reforma
Protestante livrou-se do jugo papal, mas não “se livrou da autoridade básica”
de Aristóteles e de Tomás de Aquino, cujas idéias foram “igualmente aceitas por
católicos e protestantes”. (w05, 1 de abril, p. 6. Grifo acrescentado).
Portanto, uma interpretação SEMPRE
literal como dos dispensacionalistas entra em contradição. Em contraste com
isso, as Testemunhas de Jeová adoram a Deus com lógica. – Leia Romanos 12:1.
Segundo, acreditar que o “Israel
natural” foi substituído pelo “Israel espiritual” por Jeová Deus não nos faz
teólogos do concerto ou algo do tipo, mas Estudantes da Bíblia, pelo simples
fato de que essa ideia é apresentada pelas Escrituras, sobretudo, nas cartas
paulinas. Sabemos que o ungido de Jeová, Jesus Cristo, foi rejeitado pelos
judeus; por isso, Paulo escreveu: “Não que a palavra de Deus haja faltado,
porque nem todos os que são de Israel são israelitas.” (Romanos 9: 6) Por isso,
o Israel espiritual não é composto por judeus naturais, mas por servos fieis de
todas as nações (Romanos 9:24). (Cf. 1 Pedro 2:9; Gálatas 3:29; 6:16;
Gênesis 22:18). Assim, fica claro que não seguimos uma ideia de teólogos da
cristandade, mas uma ideia apresentada e defendida pelas Escrituras Gregas
Cristãs (“Novo Testamento”).
Terceiro, dizer que C. T. Russell foi
dispensacionalista é cometer um grave erro. Como o século XIX influenciou os
Estudantes da Bíblia? Primeiro de tudo, é digno de nota que o movimento moderno
dos Estudantes da Bíblia não foi “derivado” de nenhum movimento teológico do
século XIX, embora C. T. Russell foi influenciado por alguns colegas adventistas.
Mas, isso não permite concluir que Russell adotou as doutrinas teológicas de
época. Tanto é assim, que doutrinas fundamentais da cristandade, como Trindade,
Inferno de fogo e imortalidade da alma foram rejeitadas imediatamente por
aqueles zelosos Estudantes da Bíblia em suas primeiras publicações.
Os Estudantes da Bíblia, durante algum
tempo, também pensavam que a pirâmide do Egito representava algo especial no
plano de Deus; mas, à medida que a luz do conhecimento foi clareando mais e
mais, ficou claro que tal monumento pagão não tinha nada a ver com a Bíblia
(Provérbios 4:18). O mesmo ocorreu com a Cruz e a celebração antibíblica do Natal.
C. T. Russell era muito metódico em seu estudo das Escrituras. Por isso, em
suas primeiras publicações, havia algumas tabelas cronológicas bíblicas.
Isso significa que ele era
dispensacionalista? Se ele era dispensacionalista porque usava tabelas
cronológicas, então, aplicando a mesma regra, a História positivista do século
XIX também era, pois criava várias tabelas cronológicas para interpretar os
períodos historiográficos. O positivismo teorizava os três estados – (1º)
Teológico, (2º) Metafísico e (3º) o Positivo/ científico. Esse era seu
principal quadro cronológico, e nem por isso eram dispensacionalistas.
Até mesmo o marxismo ateu criou quadros
cronológicos para interpretar a sociedade baseado na teoria de Karl Marx, como
o famoso comunismo. Assim, ninguém em sã consciência afirmaria que esses
paradigmas historiográficos dos séculos XIX e XX eram dispensacionalistas, ou
que se baseavam em alguma corrente teológica. Desse modo, estabelecer uma regra
para determinado grupo em determinado século é muito complicado. Assim, fica
claro que os quadros cronológicos não são característica exclusiva da teologia,
mas, sobretudo, da Historiografia enquanto ciência do século XIX. Portanto, afirmar que C. T. Russell era
dispensacionalista é cometer uma grande falácia, coisa da muxibenta apostasia
contemporânea.
Por último, o fato das Testemunhas de
Jeová acreditarem estar vivendo nos últimos dias ou “final dos tempos” por
conta das guerras mundiais, terrorismo, crimes, doenças, etc. não prova que
elas são dispensacionalistas, como afirma Garry Demar erradamente. Pelo
contrário, prova que elas baseiam suas crenças na Bíblia:
“Nação se levantará contra nação e reino
contra reino... Todas essas coisas são um começo das dores de aflição.” – Mateus
24: 7,8.
“Surgirão muitos falsos profetas, que
enganarão a muitos; e, por causa do aumento do que é contra a lei, o amor da
maioria esfriará.” – Mateus 24: 11, 12.
“Quando ouvirem falar de guerras e notícias
de guerras, não fiquem apavorados. Essas coisas têm de acontecer, mas ainda não
é o fim.” – Marcos 13: 7.
“Haverá grandes terremotos e, num lugar
após outro, falta de alimentos e pestilências; e as pessoas verão coisas
atemorizantes e grandes sinais do céu.” – Lucas 21: 11.
O texto de 2 Timóteo 3: 1-5 complementa a ideia de que estamos nos últimos
dias. Portanto, fica claro que as Testemunhas de Jeová não se baseiam em
paradigmas teológicos da cristandade – dispensacionalistas, teólogos do
concerto, etc. Mas, baseiam-se exclusivamente nas Escrituras. Por isso, até hoje
são conhecidas como zelosos estudantes da Bíblia.
Mas, se você continua discordando do
nosso posicionamento, terá de discordar também da SOCIEDADE EVANGÉLICA, porque
eles reconhecem claramente que as Testemunhas de Jeová não possuem nenhum
vínculo com os “princípios fundamentais do protestantismo”. – Diário
do Paraná (CURITIBA, QUINTA- FEIRA, 26 DE FEVEREIRO DE 1959, p. 4), Segundo
caderno. Confira na imagem:
Reprodução do texto em foto:
Testemunhas
de Jeová não é Sociedade Evangélica
RIO, … (Meridional) – A Confederação
Evangélica do Brasil enviou uma nota à Imprensa onde declara que a Sociedade
Torre de vigia das bíblias e tratados, cujos adeptos se chamam Testemunhas de
Jeová, não é evangélica, nem está vinculado a qualquer movimento protestante,
quer do país, quer do estrangeiro. Muito pelo contrário, conclui a nota, os
testemunhas de Jeová são mundialmente conhecidos como divorciados dos
princípios fundamentais do protestantismo.
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Diário completo disponível na Hemeroteca digital.
REFERÊNCIAS:
A SENTINELA, anunciando o reino de Jeová. Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. 15 de janeiro, 1993.
A SENTINELA, anunciando o reino de Jeová. Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. 1 de abril, 2005.
BARROS, José
D’Assunção. Teoria da História.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
BIBLIA
SAGRADA. Tradução de João Ferreira de
Almeida. Edição corrigida e revisada.
BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do mundo. São Paulo,
SP: Editora Fundamento Educacional, 2009.
DEMAR, Garry. Eram os dispensacionalistas batendo na
minha porta?. (Tradução de Felipe Sabino de Araújo Neto), Março, 2008.
DIÁRIO
DO PARANÁ. Curitiba, quinta- feira, 26
de fevereiro de 1959, p. 4, Segundo caderno.
SCHULER, Arnaldo. O Dicionário
Enciclopédico de Teologia. Canoas: Ed. ULBRA, 2002.
TRADUÇÃO
DO NOVO MUDO DAS ESCRITURAS SAGRDAS. Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Edição de 1989.
TRADUÇÃO
DO NOVO MUNDO DA BÍBLIA SAGRADA. Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Edição de 2015.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
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fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
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