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O Logos – quem é ele? (Parte 6)

Contribuído por A Verdade É Logica.

O artigo anterior demonstrou como a visão do Logos por Filo se harmoniza coerentemente com a visão joanina de Logos criado e inferior ao Pai. Este artigo passa a mostrar o erro de os trinitários atribuírem eternidade passada ao Logos.

Como o artigo anterior mencionou, alguns talvez aleguem que, visto que o Logos foi gerado como “o primeiro”, então nunca houve um tempo em que o Logos não existia (pois o tempo começa com o Logos), e que, por tal razão, ele é eterno e igual a Deus. Esse pensamento, porém, contém três erros:

1. Isso não tornaria o Logos da mesma essência (ousia, ser) que o Pai. Esta não é uma perspectiva trinitária, mas biteísta – dois Deuses supostamente idênticos, coeternos – não duas pessoas, hipóstases, do mesmo Ser.

2. Tudo que vem a existir (vem a ser) precisa de uma causa. E se o Logos veio a existir como o primeiro movimento de Deus, ele tem uma causa – Deus, o Pai. E a causa não pode depender de seu efeito para existir. Portanto, a causa do Logos é independente dele. E sendo a Causa do Logos independente deste, é também ontologicamente superior. – Compare com João 5:26; 6:57.

3. Por presumir que, para que algo venha a ser ou existir, seria necessário que houvesse um tempo transcorrente anterior ao Logos durante o qual tal entidade não existia. Errado! Vir a ser, vir a existir não requer que exista um tempo decorrente anterior durante o qual o Logos não existia. É correto que, caso se defina “sempre” como “durante todo o tempo”, aleguemos que o Logos “sempre” coexistiu com o tempo, mas não que ele seja eterno. A eternidade passada pertence a Jeová, o Pai, não ao Filho. (Veja Salmo 90:2 e compare com Judas 25.) O Logos e os escritores do Novo Testamento identificam claramente o Deus do Antigo Testamento como sendo exclusivamente o Pai. (Veja João 8:54; 17:3; Atos 3:13; Hebreus 1:1-3.) Assim, somente o Pai é de passado eterno e atemporal.

Alguns trinitaristas argumentam que não se pode separar “a Palavra” de Deus do próprio Deus, e que o “Verbo” é parte inerente do próprio Deus, e, portanto, incriado ou eterno. Isso é nada além de uma falácia da ambiguidade (Veja https://pt.wikipedia.org/wiki/Anfibologia.) Na verdade, esse jogo de palavras é antigo. A revista A Sentinela de 1º de Junho de 2010, na página 30 alegou que

Desde o começo, esse ensino foi distorcido por Justino, que como um filósofo fez um jogo de palavras com os dois possíveis significados do termo grego logos: “palavra” e “razão”. Ele disse que os cristãos haviam recebido a palavra na forma da pessoa do próprio Cristo. No entanto, logos no sentido de razão é encontrado em cada homem, incluindo os pagãos. Assim, ele concluiu que aqueles que viviam em harmonia com a razão eram cristãos, mesmo os que se diziam ou eram conhecidos como ateus, como Sócrates e outros.

O Logos, conforme citado por Frederick Copleston, no livro “A History of Philosophy”, Volume I, Greece and Rome, “não é a Palavra consubstancial do Pai, a Segunda pessoa da Bendita Trindade”. Assim sendo, em qual sentido o Logos é “a Palavra” de Deus?

Façamos uma análise do que a Bíblia nos diz sobre a “palavra de Deus”.

“Bendizei a Jeová, vós anjos seus, poderosos em poder, cumprindo a sua palavra, Por escutardes a voz da sua palavra.” – Salmo 103:20, Tradução do Novo Mundo Com Referências.

Certamente, os anjos não cumprem a Jesus Cristo. “A palavra” que os anjos cumprem não é uma pessoa, mas a declaração, a ordem de Jeová.

Os “Dez Mandamentos”, dados ao povo por Moisés, na verdade são ditos literalmente em hebraico como “Dez Palavras”. Será que Moisés escreveu “Dez Jesus Cristos” em pedras? Claro que não. A Bíblia é dita como sendo a “palavra de Deus” para nós. (Deuteronômio 12:32; 2 Reis 7:1, Jeremias 2:1) Significa isso que a Bíblia é o próprio Jesus Cristo? Nem de longe. Jesus disse que os fariseus invalidavam “a palavra de Deus” com as tradições deles. (Mateus 15:6) Será que Jesus se referia a si próprio como invalidado pelos fariseus? Definitivamente, não. Nós vemos claramente que Jesus Cristo não é literalmente a palavra como parte inerente de Deus, e o próprio Jesus fez afirmações quanto a isso que esclarecem tal história acima de qualquer dúvida.

“Quem não me ama não obedece às minhas palavras. A palavra que você ouve não é minha, mas pertence ao Pai, que me enviou.” – João 14:24.

“O que eu ensino não é meu, mas pertence àquele que me enviou.” – João 7:16.

“[...] eu o conheço e obedeço à sua palavra.” – João 8:55.

“Pois não falei de minha própria iniciativa, mas o Pai, que me enviou, ele mesmo me deu um mandamento sobre o que dizer e o que falar.” – João 12:49.

Nesses textos citados vemos claramente, acima de quaisquer dúvidas, que Jesus não é a palavra de Deus que é inata a Ele. Do contrário, a declaração de que ‘o Pai lhe deu um mandamento sobre o que dizer e falar’ e de que Jesus ‘obedece a palavra de Deus’ são totalmente sem sentido. (Eu postulo isso presumindo que alguns talvez se importem quanto a se faz sentido ou não.) Se Jesus fosse literalmente a palavra de Deus, então ele seria algo, não alguém.

Então, em que sentido Jesus é a “Palavra de Deus”? Esse é um título que Jesus possui. Títulos não raro descrevem a função exercida ou o dever realizado por seus portadores. Lembre-se também de que Deus fez de Arão a palavra ou “boca” de Moisés, dizendo: “Ele tem de falar por ti ao povo; e tem de dar-se que ele te servirá de boca e tu lhe servirás de Deus.” (Êxodo 4:16) O Logos era a Palavra de comunicação de Deus para transmitir informações e instruções aos outros filhos espirituais e humanos do Criador.

As Testemunhas de Jeová não baseiam suas crenças no que Filo alegava, mas puramente na Bíblia Sagrada. Não obstante, as similaridades entre o que Filo e a Bíblia atestam a respeito do Logos são, no mínimo, curiosas. Prossigamos com a análise de Filo sobre o Logos.

O artigo seguinte continuará a consideração sobre a identidade do Logos à luz do subtema:

A NECESSIDADE DE HAVER UM FILHO ESPECIAL


A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada pelas Testemunhas de Jeová.




Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org



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