Esta série de artigos está analisando a expressão τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ (tèn martyrían Iesoû [“o testemunho de Jesus”]), que ocorre em Apocalipse 1:2, 9; 12:17; 19:10, e 20:4.
Sobre a referida expressão, encontramos
quatro elementos a serem analisados: 1) o verbo “ter”; 2) o substantivo
“testemunho”; 3) o nome próprio Jesus no genitivo; 4) o fato de a expressão
estar no acusativo, e 5) o contexto no qual ocorre tal expressão.
O primeiro artigo fez referência
aos dois primeiros elementos retrocitados, ao passo que que a parte 2 iniciou a
consideração do terceiro elemento, a saber, o nome próprio Jesus no genitivo (Iesoû [“de
Jesus”]). (Queria ler os artigos precedentes.)
Como mostrado no artigo anterior, o genitivo pode ser subjetivo ou
objetivo. No primeiro caso, a ação é atribuída ao sujeito (‘o testemunho
produzido por Jesus’). No último caso, Jesus se torna o destinatário da ação, e
a expressão seria entendida por ‘o testemunho sobre Jesus’. Determinar a subjetividade ou a objetividade do
genitivo não depende da gramática, e sim da semântica[1].
Este artigo prosseguirá com o elemento n.º 3: O genitivo do nome
“Jesus”, demonstrando como diversas obras de referência conceituam a expressão τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ (tèn marturían
Iesoû [“o testemunho de Jesus”]) com
relação à subjetividade ou à
objetividade do genitivo Iesoû (“de Jesus”).
3. O
genitivo do nome “Jesus” (continuação)
A obra This Is True Grace: The Shaping of Social Behavioural Instructions byTheology in 1 Peter (“Esta é a verdadeira graça: a formação das instruções de comportamento social
pela teologia em 1 Pedro”, p. 194) segue na linha do entendimento de um
genitivo pleno:
Eu concordo com estudiosos tais
como Knight, Revelação, 31 e Beale, Revelação, 183-184 que Ἰησοῦ (Χριστοῦ) da frase τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ (Χριστοῦ) (1:2, 9; 12:17; 19:10; 20:4) pode fazer ambas as nuances [variações]
de um genitivo subjetivo e objetivo
(isto é, Jesus Cristo é tanto o agente quanto
o conteúdo do testemunho. João está mantendo a ambiguidade para ressaltar a
identificação dos cristãos com Cristo ao testemunhá-lo. (Negrito acrescentado.)
This Is True Grace: The Shaping of Social Behavioural Instructions by
Theology in 1 Peter
A obra Revelation 1-5: Word Biblical Commentary, Volume 52A (“Apocalipse
1-5: Comentário sobre Palavras Bíblicas”) aceita tanto a possibilidade da subjetividade quanto da objetividade do
genitivo Ἰησοῦ (Iesoû [“de
Jesus”]), privilegiando o sentido subjetivo. Esta obra afirma:
2.c. Na frase τὸν λόγον τοῦ θεοῦ, o gen. [genitivo] τοῦ θεοῦ poderia ser tanto um
genitivo objetivo (“a mensagem sobre Deus”) ou um genitivo subjetivo
(“a mensagem de Deus” [dada por Deus]); o último sentido
parece mais apropriado neste contexto revelador.
2.d. O kaí aqui é epexegético em vez de correlativo, de modo que “a palavra de Deus” e “o testemunho de Jesus” não são duas coisas diferentes, mas em vez disso a segunda é um aspecto da primeira. Veja Comentário sobre 1:2.
2.e. Na frase τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ Χριστοῦ, “Jesus Cristo” poderia ser ou um genitivo objetivo, e assim traduzido “o testemunho sobre Jesus Cristo” ou “testemunho (até à morte) a Jesus (Vassiliadis, BT 36 [1985] 133), ou um genitivo subjetivo, “o testemunho dado por Jesus Cristo”; em linha com Nota 2.c.*, o genitivo subjetivo é também preferível aqui, particularmente se o kaì (Note 2.d.*) é epexegético. A frase μαρτυρία Ἰησοῦ ocorre cinco vezes em Revelação [Apocalipse] (1:2, 9; 12:17; 19:10; 20:4). Na maioria dos casos nos quais um genitivo é dependente de marturía em Revelação, o genitivo é subjetivo (1:9; 11:17; 12:17; 19:10[2x]; 20:4). (Negrito acrescentado.)
Porém, em Apocalipse 12:17, esta
obra opta pelo sentido objetivo do genitivo, com fundamento na
comparação de Apocalipse 12:17 com 14:12:
12:17 τῶν τηρούντων τὰς ἐντολὰς τοῦ θεοῦ
os que guardam os mandamentos de Deus
καὶ ἐχόντων τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ:
e mantêm seu testemunho para
com Jesus
14:12 οἱ τηροῦντες τὰς ἐντολὰς τοῦ θεοῦ
os que guardam os mandamentos de Deus
καὶ τὴν πίστιν Ἰησοῦ.
E mantêm a fidelidade a
Jesus
Após a alusão à comparação acima, a referida obra
comenta sobre Apocalipse 19:10:
Finalmente, variações na
frase “o testemunho de/para Jesus” ocorrem duas vezes em 19:10:
τῶν ἐχόντων τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ
os que mantêm o testemunho
com relação a Jesus
ἡ γὰρ μαρτυρία Ἰησοῦ ἐστιν τὸ πνεῦμα τῆς
προφητείας.
porque o testemunho a
respeito de Jesus é o espírito de profecia.
Continua a obra:
A segunda frase, τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ Χριστοῦ, “meu
testemunho sobre Jesus”, poderia ser entendido como também um genitivo objetivo, e assim ser traduzido “o
testemunho sobre [ou: ‘o testemunho
para’] Jesus” ou “testemunho (até à morte) para Jesus” (Vassiliadis, BT 36 [1985] 133), ou um genitivo subjetivo, “o testemunho dado por Jesus.” A frase μαρτυρία Ἰησοῦ
ocorre cinco vezes em Revelação [Apocalipse] (1:2, 9; 12:17; 19:10; 20:4). Em
vários casos em Revelação, um genitivo é dependente de μαρτυρία e deveria ser construído como subjetivo (1:2; 11:17; 12:11
cf. 6:9), mas há outros casos nos quais parece contextualmente apropriado
construir o genitivo como objetivo
(12:17; 14:12; 17:6; 19:10[2x]; 20:4). (Negrito acrescentado.)
Revelation 1-5: Word
Biblical Commentary, Volume 52A
O próximo artigo desta série considerará os dois últimos elementos a
serem analisados com relação ao tema em pauta: 4) o fato de a expressão
estar no acusativo, e 5) o contexto no qual ocorre tal expressão.
Nota:
[1] Ramo da linguística que estuda o significado das palavras, frases e textos de uma língua.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados,
desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
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