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‘Meu nome Jeová não dei a conhecer a eles’ – em que sentido?


Fonte: jw.org


Deus disse a Moisés: “Eu costumava aparecer a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-Poderoso [Hebr.: be’Él Shad·daí], mas com respeito ao meu nome, Jeová [Hebr.: u·she·mí Yehwáh], não me dei a conhecer a eles.” – Êxodo 6:3.

Será que esse texto indica que Abraão, Isaque e Jacó não conheciam a Deus pelo seu nome pessoal? Este não poderia ser o sentido de Êxodo 6:3, pois as Escrituras revelam claramente que os antepassados de Moisés usaram o nome divino, Jeová.

Já nos primórdios da História humana, a primeira mulher, Eva, declarou: “Adquiri um homem com o auxílio de Jeová.” (Gênesis 4:1, TB) Posteriormente, nos dias de Enos, Gênesis 4:26 destaca outra ação de fazer uso do nome divino. Lemos sobre isso: “A Set também nasceu um filho, e chamou seu nome de Enos. Então se começou a invocar o nome de Jeová(Bíblia Reina Valera 1989); “Então os homens começaram a ser chamados pelo nome de Jeová.”Spanish Reina Valera.

Também, lemos a respeito do que Abraão fez: “Edificou um altar a Jeová, e invocou o nome de Jeová.” (Gênesis 12:8, SBB) Inclusive, Abraão usava o nome divino quando falava com Deus. Sobre isso, lemos em Gênesis 15:2, 7, 8: “E Abrão disse: Ó Senhor Jehovah, o que tu queres me dar, visto que eu vou sem filhos, e aquele que será possuidor da minha casa é Eliezer de Damasco? E ele lhe disse: Eu sou Jehovah que te tirei de Ur dos caldeus, para te dar esta terra para herdá-la. E ele disse: Ó Senhor Jehovah, por meio de que saberei que a herdarei?”  (ASV) Lemos adicionalmente: “E Abraão chamou o nome daquele lugar Jehovah-jireh; como é dito nos dias de hoje: No monte de Jeová será providenciado.” – Darby Bible.

A respeito do filho de Abraão, Isaque, temos a seguinte narrativa que comprova que ele também conhecia e usava o nome divino: “Naquela noite, Jeová apareceu a Isaque. Disse Jeová: Eu sou o Deus de teu pai Abraão. Não tenhas medo, porque estou contigo. Eu te abençoarei e aumentarei o número de teus descendentes por amor de meu servo Abraão. Isaque construiu um altar ali e adorou a Jeová.” (Gênesis 26:24, 25, New Simplified Bible; “invocou o nome de Jeová”, TB.) E sobre Jacó, filho de Isaque, lemos que Deus manifestou a ele Seu nome, num sonho, em Gênesis 28:13, que declara: “E eis que Jehovah estava em pé em cima dela e disse: Eu sou Jeová, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque; a terra em que você está deitado eu dou para ti e tua semente.” (VW) O versículo 18 declara: “E Jacó despertou de seu sono, dizendo: ‘Certamente Jehova está neste lugar, e eu não o sabia.’” – Bíblia Elberfelder 1871 (em alemão).

Portanto, dos textos bíblicos acima, é evidente que os antepassados de Moisés e de seus contemporâneos conheciam e usavam o nome divino, Jeová. Diante disso, perguntamos:

Em que sentido Deus não se deu a conhecer pelo seu nome aos antepassados de Moisés?

“Conhecer” envolve mais do que saber o Nome


A frase “não me dei a conhecer a eles” em hebraixo é lō nō·w·ḏa‘·tî lā-hem. O verbo “conhecer” usado nesta frase é yada‘, que envolve também “reconhecer”, “estar familiarizado com”, conforme a Concordância Exaustiva de Strong; também “saber por experiência”, “admitir”, “confessar”, “ser bem conhecido (com confiabilidade implícita)” (The Brown-Driver-Briggs Hebrew and English Lexicon [“Léxico Hebraico e Inglês, de Brown-Driver-Briggs”]).[1] Esta última obra também afirma: “especialmente de conhecer a Deus; … envolvendo adoração inteligente, obediência, etc.” 

Vejamos exemplos que tornam claro o uso mais profundo e abrangente do verbo “conhecer”:

“Os filhos de Eli eram corruptos. Eles não conheciam a Jeová.” (1 Samuel 2:12; New Simplified Bible; veja também SBB, TB.) É óbvio que os filhos de Eli, por serem sacerdotes, conheciam o nome divino, Jeová. Porém, a passagem fala de conhecer no sentido de ser amigo de Jeová, sendo obediente a ele.

“Samuel ainda não conhecia a Jeová, cuja palavra ainda não lhe havia sido revelada.” (1 Samuel 3:7, SBB) Visto que cresceu no tabernáculo, Samuel conhecia o nome de Deus, mas “ainda não conhecia a Jeová” no sentido de ter tido um contato mais achegado como ele, como o capítulo 3 de Primeiro Samuel passa a mostrar que veio a ocorrer.

“Suas obras não lhes permitem voltar a seu Deus, porque há um espírito de prostituição no meio deles, e não conhecem a Jehovah” (Reina Valera 1989); “não reconhecem a Jeová” (NM). Essa declaração foi dirigida ao povo de Deus, Israel, a seus “sacerdotes” e à “casa do rei”. Todos eles conheciam o nome divino, Jeová. Mas suas obras mostravam que, infelizmente, não o reconheciam como o seu Deus.

 “Portanto, o meu povo saberá o meu nome, por esta causa, naquele dia, porque eu mesmo sou o que digo: Eis-me aqui.” (Isaías 52:6, ARC) Essa passagem diz respeito à libertação dos israelitas do exílio em Babilônia. Quando isso ocorresse, os israelitas conheceriam, não o nome “Jeová” (o qual já conheciam) mas sim entenderiam mais profundamente o significado de tal Nome.

“De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; portanto eu vos punirei por todas as vossas iniquidades.” (Amós 3:2, ACF) É evidente que Jeová conhece todos os povos e toda pessoa na Terra. Mas, “conhecer” neste texto tem o sentido de ter tratos, ter afinidade, estar pactuado com.

De que modo os antepassados dos israelitas não conheceram a Jeová?

Robert Santos, batista confesso, comentou:

Ele [Deus] não fala das letras ou sílabas, mas do que é significado por esse nome. Para que denota toda a sua perfeição, e, entre outros, a eternidade, constância e imutabilidade de sua natureza e vontade, e com a certeza infalível da sua palavra e promessas. E isso, diz ele, que acreditava-se por Abraão, Isaac e Jacob, no entanto, não foi experimentalmente conhecido por eles, pois eles só viram as promessas de longe: “Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas; mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra.” (Hb 11:13). – Negrito acrescentado.[2]

José Felix Rocco, da Segunda Igreja do Evangelho Quadrangular, fez o seguinte comentário:

6.3 PELO MEU NOME, JEOVÁ, NÃO LHES FUI PERFEITAMENTE CONHECIDO. O Senhor não se revelou a Abraão, Isaque e Jacó pelo nome JEOVÁ (hb. Iavé). (1) Isso não significa que os patriarcas não conheciam esse nome, mas sim que não receberam a plena revelação do significado desse nome. Realmente tinham ouvido o nome de Deus como Iavé, e tinham usado esse nome, mas na sua experiência eles conheciam a Deus mais como o Deus Todo-poderoso, nome este que releva o seu poder para realizar ou cumprir aquilo que Ele prometera. (2) Iavé é o nome de Deus como fiador do concerto, e voltado especialmente para a redenção (v. 6). Abraão não chegou a ver o cumprimento do concerto estabelecido em Gênesis 15, mas certamente experimentou o poder de Deus.[3]

Esequias Soares, em sua obra “Manual de Apologética Cristã: Defendendo os Fundamentos da Autêntica Fé Bíblica”, também expõe:

119 O termo Shadday aparece com frequência na era patriarcal; só no livro de Jó esse nome ocorre 31 vezes. Êxodo 6.3 nos diz que Deus era conhecido pelos patriarcas por esse nome: “Eu apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, como o Deus Todo-poderoso, mas pelo meu nome, o SENHOR, não lhes fui perfeitamente conhecido”. O próprio Deus diz aqui que se revelou aos patriarcas como o El Shadday; veja que Deus não tem apenas um nome. Isso também não significa que os patriarcas nunca pronunciassem o nome Yahweh, pois que eles conheceram Deus pelo seu nome de Yahweh, mas não por seu caráter de Yahweh. – Negrito acrescentado. [4]




O Dicionário Bíblico Unger (verbete “SENHOR, O”, p. 1190) também explica:

Revelação. A observação apresentada em Êx 6.3 (“Mas pelo meu nome, o senhor, não diz foi conhecido”) não significa que os patriarcas não tinham nenhuma ideia da existência e do uso do nome de Deus, mas que não tinham conhecimento experiencial dessa redenção antes do livramento da servidão do Egito, vindo a experimentá-la apenas sob a liderança de Moisés, por meio do qual o poder redentor de Deus adquiriu caráter real para eles e lhes foi revelado o nome redentor de Deus. – Negrito acrescentado.



A obra Estudo Perspicaz das Escrituras (volume 2, pp. 500-501, verbete “Jeová”) explicou:

Uma vez que o nome Jeová foi usado muitas vezes por esses antepassados patriarcais de Moisés, é evidente que Deus queria dizer que Ele se manifestara a eles na qualidade de Jeová apenas de forma limitada. Para ilustrar isto, dificilmente se poderia dizer que aqueles que conheciam o homem Abrão realmente o conheciam como Abraão (que significa “Pai Duma Multidão”) enquanto ele só tinha um filho, Ismael. Quando nasceram Isaque e outros filhos, e eles começaram a ter descendentes, o nome Abraão assumiu maior significado ou importância. Assim, também, o nome Jeová assumiria então um significado ampliado para os israelitas. – Negrito acrescentado.[5]




Podemos ver o uso de “conhecer” num sentido mais profundo lendo o Salmo 9:10, que declara: “Os que conhecem o teu nome confiarão em ti; nunca abandonarás os que te buscam, ó Jeová.” É evidente que não basta conhecer o nome “Jeová” para confiar no Deus que leva este Nome. Tal confiança é alicerçada no conhecimento do que tal Nome significa – dos valores abarcados por este Nome. Por isso, a paráfrase conhecida como “O Livro” verte assim o Salmo 9:10: “Em ti confiarão todos os que conhecem a força do teu nome; pois tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam.”

Jeová significa “Ele Causa Que Venha a Ser”, indicando o Deus Cumpridor de promessas, que pode realizar tudo o que se propuser a fazer. Os patriarcas anteriores a Moisés viram o cumprimento de algumas promessas. Porém, foram Moisés e os demais israelitas contemporâneos a ele que vivenciaram mais plenamente o significado do nome divino.

Como bem salienta a obra Estudo Perspicaz das Escrituras (volume 3, p. 723, verbete “Todo-Poderoso”):

Jeová usou este título “Deus Todo-poderoso” (ʼEl Shad·daí) ao fazer sua promessa a Abraão a respeito do nascimento de Isaque.
              
                              […]

De fato, no livro de Gênesis, que relata a vida dos patriarcas, a palavra “Todo-poderoso” ocorre apenas 6 vezes, ao passo que o nome pessoal Jeová foi escrito 172 vezes no texto hebraico original. Contudo, embora estes patriarcas viessem a reconhecer por experiência pessoal o direito e as qualificações de Deus para o título de “o Todo-poderoso”, não haviam tido a oportunidade de reconhecer o pleno significado do seu nome pessoal, Jeová, e o que este envolve. Neste respeito, O Novo Dicionário da Bíblia (Vol. 1, p. 411) comenta: “A revelação anterior, aos patriarcas, dizia respeito às promessas referentes a um futuro distante e por isso mesmo haveria a necessidade de assegurá-los que Ele, Yahweh, era um Deus (ʼel) tal que era competente (shadday) para cumprir tais promessas. A revelação na sarça ardente, entretanto, foi maior e mais íntima, pois o poder e a presença imediata e contínua de Deus entre eles foram envolvidos no nome familiar de Yahweh.” — Editado por J. D. Douglas, 1966.

Em razão de todas as explicações acima, há traduções que procuram ressaltar o significado mais amplo do verbo “conhecer” em Êxodo 6:3, a exemplo das versões abaixo:

“Pelo meu nome, o Senhor, não lhes fui perfeitamente conhecido.” - ACF, ARC.

“E acrescentou o Senhor: Eu sou Jeová, o Deus que tem todo o poder, que apareceu a Abraão, a Isaque e a Jacob, ainda que não tenha revelado a eles toda a força do meu nome de Jeová.” – Êxodo 6:2, O Livro.

Portanto, os patriarcas anteriores a Moisés usaram o nome divino e receberam promessas de Jeová. Mas não conheceram o pleno significado do nome “Jeová” por não terem presenciado Jeová agindo como Cumpridor das suas promessas.


Notas:

[1] Bible Hub. Disponível em: <https://www.studylight.org/lexicons/hebrew/03045.html>.

[2] SANTOS, Robert. AS ESCRITURAS. ESTUDO SOBRE AS SUPOSTAS “CONTRADIÇÕES BÍBLICAS”. Deus foi conhecido por SENHOR antes ou depois de Abraão? Disponível em: <https://asescrituras.wordpress.com/2012/10/23/deus-foi-conhecido-por-senhor-antes-ou-depois-de-abraao/>.

[3] ROCCO, José Felix. IEADI. Estudos bíblicosComentários Bíblicos. Disponível em: <http://www.apazdosenhor.org.br/site/estudos/comentarios-biblicos/exodo-6>.

[4] SOARES, Esequias. Manual de Apologética Cristã: Defendendo os Fundamentos da Autêntica Fé Bíblica. Disponível em: < https://books.google.com.br/>.

[5] Produzida pelas Testemunhas de Jeová.


Siglas das traduções usadas:

ACF: Almeida Corrigida Fiel.
ARC: Almeida Revista e Corrigida.
ASV: American Standard Version.
NM: Tradução do Novo Mundo Revisada.
SBB: Sociedade Bíblica Britânica.
TB: Tradução Brasileira.
VW: Voice in the Wilderness Bible (Bíblia Voz no Deserto), edição de 2006.


Referências:

Brown; Driver; Briggs. Hebrew and English Lexicon. Bible Hub. Disponível em: <https://www.studylight.org/lexicons/hebrew/03045.html>.

Knowing Jesus. A Bíblia em Português. Disponível em: <https://bible.knowing-jesus.com/Portuguese/words/Conhecido>.

Lo. Bíblia Paralela. Disponível em: <https://bibliaparalela.com/hebrew/3808.htm>.

nō·w·a‘·tî. Bible Hub. Disponível em: <https://biblehub.com/hebrew/nodati_3045.htm>.

Soares, Esequias. Manual de Apologética Cristã: Defendendo os Fundamentos da Autêntica Fé Bíblica. Disponível em: < https://books.google.com.br/>.

Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de. © 2002 Sociedade Bíblica do Brasil. Av. Ceci, 706 – Tamboré Barueri, SP – CEP 06460-120 Cx. Postal 330 – CEP 06453-970. Site: http://www.sbb.org.br

Unger Merril F.; Harrison, R. K. Dicionário Bíblico Unger; tradução Vanderlei Ortigoza e Paulo Sérgio Gomes. Barueri, São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil. Título em Inglês: The New Unger's Bible Dictionary.

Yada. Concordância de Strong. Disponível em: <https://biblehub.com/hebrew/3045.htm>.




A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada pelas Testemunhas de Jeová.




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