Comentários adicionais sobre o artigo “Qual a diferença entre apostasia, heresia e cisma?” (Parte 1)
Contribuído.
Eu gostaria de
responder a algumas perguntas sobre as definições bíblicas que eu apresentei no
artigo supracitado. (Para ler tal artigo, clique aqui.) As perguntas foram ótimas e merecem resposta respeitosa.
Certo leitor perguntou:
Caro apologista, o texto disse: “Contudo, se aquele que alega ter sido escolhido por Deus
não puder provar isso com sinais nos moldes já citados, não há motivo algum
para que o cristão seja forçado a aceitar tal pessoa como autoridade legítima
colocada por Deus e aprovada por Ele.” Mas nos dias de hoje nenhum
cristão tem os dons milagrosos do espírito, então ninguém pode provar que tem o
apoio de Deus por meio de sinais sobrenaturais.
Realmente, prezado. Concordo que atualmente ninguém demonstre
ter os dons do espírito. Porém, quanto à questão de sinais sobrenaturais, estes
não têm relação unicamente com os dons do espírito, que ocorreram somente no primeiro
século da Era Cristã. Antes do primeiro século, havia sinais sobrenaturais,
embora não existissem os dons do espírito.
O mesmo leitor ainda comentou:
Mas se há outras evidências de que a pessoa ou grupo tem o
apoio e a direção divina, creio que seria um pecado sério caso alguém
rejeitasse deliberadamente tais evidências apenas sob a alegação de que a
pessoa ou grupo não faz milagres.
Isso é plausível, mas
teríamos de saber quais evidências seriam estas e teríamos de analisar as bases
bíblicas para elas também. Também teríamos de avaliar todas as evidências.
Teríamos de avaliar atos que um líder escolhido deve fazer e atos que ele não
deveria fazer e talvez faça. Sem uma possibilidade concreta, torna-se difícil dissertar
sobre o que seriam tais evidências. Vejamos algumas falsas evidências que às
vezes são tidas como verdadeiras.
1. Crescimento
religioso;
o fato de uma religião ou igreja crescer não prova em nada que seus líderes
foram designados por Deus ou que a igreja tenha apoio divino. Prova disso é que
as igrejas que mais crescem são as neopentecostais;
2. Obra
de pregação do Reino; eu
concordo que esperamos que Deus abençoe nosso ministério e que ele cresça. Mas
isso não prova que alguém específico foi designado por Deus para liderar;
3. O
amor entre os crentes;
eu concordo que o amor entre os crentes seja evidência do verdadeiro
cristianismo, mas isso não prova que uma pessoa específica foi escolhida por
Deus para liderar ou para ter uma posição de destaque.
Em resumo, para que alguém, tal como o Papa, prove que foi
escolhido por Deus, não basta usar coisas positivas que ocorrem na Igreja Católica.
Por exemplo, nenhuma igreja construiu tantos orfanatos quanto a Igreja Católica.
Isso é ótimo, pois cuidar “dos órfãos e das viúvas” é a “forma de adoração que
é pura e imaculada do ponto de vista do nosso Deus”. (Tiago
1:27) Mas isso não prova que o Papa foi um líder
escolhido por Deus e também não prova que Deus esteja usando o Papa. Tampouco
prova que a Igreja Católica seja a igreja de Cristo. Uma coisa não tem nada que
ver com a outra. Então, precisaríamos ter algo inegável em mente como um sinal
de que alguém específico foi o líder escolhido por Deus. Em adição a isso, não
poderíamos ter nada que invalidasse essa conclusão. Do contrário, é a palavra
dele apenas e o Senhor não poderia condenar alguém por não crer em uma pessoa
específica.
Se alguém acha que foi escolhido por Deus
para ter uma posição semelhante à de Moisés, é de no mínimo esperar que tal
pessoa dê sinais semelhantes aos de Moisés. Ademais, um grupo ter a aprovação
de Deus não significa que o líder de tal grupo tenha a aprovação de Deus ou que
seja ungido por Deus. Por exemplo, Deus estava usando a Davi e abençoava muitos
esforços na guerra tanto por Davi quanto por Saul. Ainda assim, Saul, que havia
sido escolhido por Deus, foi mais tarde rejeitado; mas Israel ainda era o povo
de Deus, embora o Soberano rejeitasse a Saul.
Todos os casos em que Deus esperou que seu
povo aceitasse um líder como ungido Dele foram atos públicos, jamais privados.
Eles foram feitos por aqueles que eram profetas reconhecidos, ou de outra forma
pública. O próprio Jesus Cristo teve um testemunho público:
(Mateus
3:17) “Eis que também houve uma voz dos céus, que disse:
‘Este é meu Filho, o amado, a quem tenho aprovado.’”
Fonte da figura: jw.org
Quando Maria foi escolhida para ser mãe de
Jesus, ela contou isso a José. José não acreditou em Maria, e ele tinha toda a
razão de duvidar disso. (Lucas 1:35; Mateus 1:19, 20) Ele era um sujeito
bondoso demais e amava sua noiva. Por causa disso, ele não quis expô-la publicamente,
isto é, não quis levá-la até as autoridades civis para que ela fosse condenada
à morte. Por isso, ele decidiu se divorciar dela, o que faria com que ela não
fosse acusada de adultério. Jeová jamais poderia punir um homem por não
acreditar em sua noiva diante dessas circunstâncias. (Qual homem não teria
feito o mesmo?) Por isso, o próprio Jeová enviou um anjo que testemunhou a José
a gravidez de Maria por espírito santo.
Embora Maria não tenha sido escolhida para governar, o relato segue o mesmo padrão dos demais casos de escolha especial por Deus. A única pessoa que devia crer na escolha de Maria para ser a mãe do Messias era José, e Deus testemunhou também a José.
O leitor prossegue:
Um outro ponto do texto diz assim: “Quando
alguns dizem: ‘Temos de ser submissos, mesmo que não concordemos muito com um
novo entendimento’, surge a pergunta: isso vale para todas as religiões ou só
para a minha? Porque se vale só para a minha, então eu sou um fanático; mas se
vale para todas, vale também para a igreja católica; e todos nós deveríamos nos
converter ao catolicismo e ser submissos ao papa.’” Segundo o que pude
entender, esta parte quer dizer que, se a organização tiver um ajuste de
entendimento e alguém não concordar, ele deveria manifestar isso. Lógico, isso
pode acontecer. Mas o ponto é que tal pessoa pode discordar e talvez ela estar
errada. Então, gostaria de saber o que tens a dizer sobre isso.
Prezado, eu não foquei este comentário em uma organização
específica. Eu também não quis dizer que, se alguém não se identifica ou não
pensa ser um herege, logo a pessoa não é um herege. Não foi isso que eu disse
no texto. Obviamente, todo o herege dirá que não é um herege. Mas há casos
também nos quais alguém poderá ser acusado de heresia sem ser um herege. Os
dois casos podem ocorrer. A mensagem principal no meu texto é que os
presbíteros (anciãos, bispos, pastores etc.) não devem julgar como “heresia” aquilo
que destoa do pensamento da maioria ou que foi determinado por outrem como
heresia; não é esta a base sólida. O que define a heresia são os 3 pontos
mencionados por Paulo na carta a Tito 3:9, conforme apresentei no artigo a que
nos referimos. Os presbíteros devem analisar profundamente quaisquer acusações
de heresia para saber se as alegações do potencial herege são de fato heresia
ou apenas verdades impopulares.
Somente quando um ensino proposto por um potencial herege
contradiz clara e diretamente um ensino bíblico a heresia pode ser confirmada e
o herege expulso. A via de exemplo, a liderança das Testemunhas de Jeová (assim como das
demais religiões) mudou seus pontos de vistas sobre assuntos específicos
desde que surgiram em 1879, logo após o rompimento entre Russell e Barbour. Na
verdade, muita coisa mudou. Todas as religiões mudaram também. Contudo, os
ensinos doutrinais centrais, a espinha dorsal, continua a mesma. Por que alguns
ensinos e entendimentos mudaram? Por vários motivos:
1)
Ninguém
sabe tudo e é natural aprender com o tempo;
2)
As
pessoas são errantes e alteram coisas que não deviam, depois voltam atrás;
3)
As
pessoas se apegam a tradições que levam tempo para serem mudadas;
4)
Algumas
pessoas desejam mais poder e por isso criam regras extrabíblicas;
5)
A
profecia só pode ser plenamente entendida quando Deus a revela;
Enfim, os motivos podem ser muitos. Mas o ponto mais relevante
nisso tudo é que alguns ensinos bíblicos não são tão claros. Por exemplo, desde
sempre se entendeu que a fornicação e a idolatria são pecados sérios. Mas o
ensino sobre quem são os gafanhotos da profecia de Joel que agem antes do Dia
de Jeová é algo menos claro, visto que se trata de uma profecia alegórica. No
passado, a liderança das Testemunhas de Jeová ensinava que os gafanhotos eram o povo de
Deus; atualmente esta crença foi abandonada. Se um cristão defende que o
entendimento atual está errado e que o entendimento anterior estava correto,
ele não pode ser taxado em hipótese alguma de “herege”, porque aí teríamos de
concluir que o entendimento anterior era uma heresia, e Deus não poderia ter
abençoado uma heresia. Se esse cristão se negar a aceitar o novo ensino, ele
pode até ser acusado de cisma, mas não de heresia; o cisma não é pecado de
desassociação, apenas a heresia é. Portanto, ele não poderá ser desassociado. É
muito importante sermos precisos nos termos para que pessoas não sejam
injustamente acusadas de coisas que não fizeram.
Portanto, em pontos menos claros e onde há possibilidades não tão
objetivas, não é possível classificar alguém como herege só porque ele discorda
do entendimento oficial da religião e da maioria. É um direito dele, de
defender sua posição. É claro que, se temos compromisso com a verdade,
naturalmente devemos rejeitar o que é absurdo. Não seria admissível permitir
que um membro da igreja defendesse a Trindade ou o Unicismo. Mas o ponto é que
uma heresia só pode ser confirmada em ensinos claros e imutáveis. Por exemplo,
se um cristão disser que a ressurreição já aconteceu, como no caso de Himeneu e
Fileto, isso é uma heresia, pois contradiz o claro ensino de Jesus de que a
ressurreição é futura. (João 5:28, 29) É muito fácil de provar a heresia. Se um
cristão disser que Jesus é o mesmo ser que o Pai, isso é uma heresia, pois
contradiz o ensino bíblico claro de que o Pai e Filho são seres distintos.
(Colossenses 1:15, Hebreus 1:3; Apocalipse 3:14) Mas se o cristão disser que os
gafanhotos de Joel são a igreja/congregação, isso não poderá ser comprovado
como heresia, mesmo pelo fato de que a própria liderança das Testemunhas de Jeová já ensinou isso e porque a própria Bíblia diz que os gafanhotos são o ‘exército de Jeová’.
(Leia Joel 2:11) Em outras palavras, a heresia tem de ser um falso ensino que
pode ser claramente exposto como tal.
Espero ter respondido suas questões. Um abraço.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou
republicados, desde que seja citada a fonte: o site
www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Não há relação entre excomunhão e salvação, conforme expliquei já neste artigo: http://www.oapologistadaverdade.org/2022/07/resposta-um-leitor-sobre-os-motivos.html
Isso fica claro pelo fato de que o ciúme e a inveja são pecados que anulam a salvação, mas ninguém será desassociado por esses sentimentos.
Pode parecer lógico que alguém que não será salvo deva ser também excomungado/desassociado, mas a Bíblia não diz isso, e você concorda que devemos nos deter somente ao que está escrito. (1 Cor 4:6) O que percebo em seu posicionamento, prezado irmão, é que você tem certo desejo por ADICIONAR IDEIAS E CONCEITOS ao que a Bíblia diz. Você pode até estar bem tencionado, mas isso é prejudicial.
Não faça isso, meu irmão. Se aqueles que se autointitulam "instrutores da congregação" quiserem fazer isso, é problema deles, não nosso. Eles criaram o Talmud moderno deles. Não se contamine com essas ideias. Ou melhor, purifique-se delas.
Um grande abraço.
If you had asked any JW during those years: "Why do you think JW are the true religion?"; they would have responded to you straightforwardly: "Because we accept Jehovah and Jesus as the 'Higher Powers' in Romans chapter 13." Then, in 1962, the greatest change that has already happened in the Watch Tower Society took place, and one of their most unique and relevant teachings was annulled. As a result, many of the anointed were so upset that they left the society.
Who caused this division? The leadership of the organization. Why? Because they had defamed people for over 30 years, calling them "the class of Judas", "betrayers of Christ", because some thought the understanding on the "Higher Powers" was wrong. And guess what - they were right. But you don't seem to care about divisions when it's caused by the organization, do you?
So, if you care so much about divisions, the first thing you should do is blame the organization for all the division it has caused in families and in congregations. If you don't do this, then shut your mouth towards my right to speak the truth. I stand the moral ground here, not you nor the organization.