“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a
Palavra era Deus.” – João
1:1, tradução da CNBB, 2.ª edição, 2002.
Um trinitarista
alegou que o verbo “era”, na frase “no princípio
era a Palavra”, indica eternidade passada; ou seja, que a “Palavra”
(Jesus Cristo em sua existência pré-humana) já existe desde a eternidade. Diante
disso, alguns pesquisadores cristãos compuseram uma refutação a tal argumento,
a qual segue abaixo.
Contribuído.
O imperfeito do verbo εἰμί (eimí)
De fato, o imperfeito do verbo εἰμί [“ser”, “estar”] denota
uma ação contínua iniciada no passado, mas sem se preocupar quando esta ação se
iniciou exatamente ou terminou. A ideia de continuidade não implica,
necessariamente, eternidade passada ou futura. Por isso, não dá para sugerir
eternidade de Jesus, enquanto logos de Deus a partir do verbo ali empregado,
pois o próprio texto localiza a ação no tempo, ao dizer “no princípio” e não “na
eternidade passada”. Por mais longínquo que possa estar o “princípio”, a
estadia do Logos com Deus, no texto, não vai além do princípio. A ideia de
continuidade do imperfeito é, frequentemente, limitada pelo contexto, como por
exemplo:
Mateus 27:54: λέγοντες· Ἀληθῶς
⸂θεοῦ υἱὸς⸃ ἦν οὗτος (“dizendo: Verdadeiramente
este era filho de Deus”). Só faz sentido, pelo contexto, entender o “ἦν” [“era”] a partir do
ponto de vista do soldado romano. O imperfeito aí, para o militar, retrata que
Jesus, enquanto vivo, era reconhecido como o Filho de Deus. Será que para o
soldado romano o que morreu era o ETERNO filho de Deus, ou aquele que foi
nascido filho de Deus e que acabara de morrer? Não faz sentido sugerir que o
que morreu era eterno. Tal ideia não cabe no contexto.
Marcos 11:13: οὐ γὰρ ἦν καιρὸς σύκων (“não era tempo de
figos”). É evidente que o imperfeito do verbo εἰμί [(eimí) por si só não determina, ou mesmo sugere,
eternidade de alguma coisa. Não era tempo de fico desde quando? Claro que desde
a última estação de figos, e até a próxima estação. Então, o ἦν é verdadeiro no tempo
delimitado pelo contexto.
João 1:39: ὥρα δὲ ἦν ὡς δεκάτη (“e era quase a hora décima”).
Perceba que o verbo foi usado no imperfeito, como em João. 1:1, mas nota-se
claramente que não se impõe qualquer ideia de eternidade. Portanto, é preciso
entender o texto, sem colocar ideias próprias dentro dele.
O verbo “ser” em grego é o mesmo
para o verbo “estar”. Nesse sentido temos:
Mateus. 2:9: οὗ ἦν τὸ παιδίον (“onde estava a criança”)
Estava desde quando e até quando? Desde sempre? Claro que não.
Mateus. 26:71: Καὶ οὗτος ἦν μετὰ Ἰησοῦ τοῦ Ναζωραίου (“E este estava com Jesus,
o Nazareno”). Estava desde quando? Desde toda a eternidade? Claro que não.
Estava em todo o período em que pode estar.
Há muitas ocorrências em que se
pode exemplificar que não é o imperfeito do verbo εἰμί que determina o
entendimento de eternidade, mas, apenas, um ato contínuo, porém dentro de um
escopo determinado. E não podemos dizer que alguém, como Joao, usa a palavra
“princípio” para sugerir eternidade de alguém. “No princípio” é no princípio,
nada mais, nada menos.
Conclusão: Este é um problema com
a análise dele, o erro lógico por causa da teologia, visto que o imperfeito não
impõe eternidade e em João 1:1 está circunscrito ao princípio.
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Comentários
"Por mais longínquo que possa estar o 'princípio', a estadia do Logos com Deus, no texto, não vai além do princípio. "
Esta frase está errada. A estadia do Logos com Deus é anterior ao "princípio". O termo "princípio" é uma referência a Gênesis 1:1, quando Deus, não o Logos, criou o céu e a Terra. ANTES desse princípio, o Logos estava com Deus. Isso, entretanto, não implica ETERNIDADE, apenas mostra que antes de Deus criar o mundo físico, o Logos já existia.
João 1:1 poderia ser parafraseado assim:
"No princípio [Gn 1:1] o Logos já existia. . . "
Ele já existia porque por meio dele todas as OUTRAS coisas foram criadas.