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Quais práticas sexuais são proibidas aos casais cristãos?


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Contribuído por Cristão Antitípico.

Muitos casais cristãos se questionam sobre quais práticas sexuais são permitidas dentro do arranjo marital. As Testemunhas de Jeová (TJs) recebem do Corpo Governante (CG) regras claras até mesmo sobre a intimidade marital, e isso é mais uma evidência de que a autoridade do CG é ilimitada e petulante, algo que tenho exposto nesta página.

O presente artigo está dividido em duas seções:

1.   O que o CG já disse, desdisse e redisse sobre este assunto?

2.  O que de fato a Bíblia diz sobre isso e quais bases temos para definir o que os casais podem ou não fazer?[1]


1974-1978: O Corpo Governante e a ‘porneía dentro do casamento’

         Em 1974 (ano do lançamento em inglês) os membros do CG desejaram controlar a intimidade dos casais cristãos. A palavra porneía significa “fornicação/sexo ilícito/imoralidade sexual”, e ela se refere na Bíblia apenas a 3 tipos de práticas sexuais:

1.   Adultério (Mateus 5:32);

2.  Relação sexual entre solteiros (1 Coríntios 7:1, 2);

3.  Relação sexual desnatural, isto é, homossexualismo (Judas 7);

O CG a cada década que passa inventa novos sentidos para porneía. A façanha mais recente do magistério foi a invenção de ‘porneía sem sexo’; isto é, o CG atualmente ensina que duas pessoas plenamente vestidas cujas partes íntimas se aproximaram uma da outra sob a roupa cometeram porneía. Por exemplo, se dois namorados se deram uns “amassos fogosos”, mesmo que que não tenham feito sexo, eles cometeram porneía segundo o CG e serão desassociados por “sexo ilícito” mesmo sem terem feito sexo. Isso é obviamente uma invenção sem pé nem cabeça.

As invenções sobre os sentidos de porneía não são de agora. Entre os anos de 1974-1978 (em inglês), o CG inventou que o coito anal e/ou oral entre marido e mulher equivalia a ‘porneía dentro do casamento’. A revista A Sentinela de 1º de maio de 1975 (em português), página 287 disse na seção “Perguntas dos Leitores”:

Há ocasiões em que práticas lascivas dentro do arranjo marital proveriam o motivo para um divórcio bíblico. . .

. . . o termo “fornicação” é porneía, que designa todas as formas de relações sexuais imorais, perversões e práticas lascivas tais como talvez sejam praticadas num prostíbulo, inclusive o coito oral e anal.

Quanto às declarações de Jesus a respeito do divórcio, não especificam com quem é praticada a “fornicação” ou porneía. Isto deixa a questão aberta. Que porneía pode corretamente ser considerada como incluindo as perversões dentro do arranjo marital é visto em que o homem que obriga sua esposa a ter com ele relações sexuais desnaturais virtualmente a “prostitui” ou “corrompe”. Isto o torna culpado de porneía, porque o verbo grego relacionado, porneúo, significa “prostituir, corromper”.

Ou seja, o CG passou a ensinar que se marido e mulher fizessem alguma prática que o CG julgava “impura”, como o coito anal e/ou oral, eles seriam desassociados da congregação. O resultado disso foi que anciãos em todo o mundo passaram a investigar a intimidade dos casais cristãos, e caso achassem que os casais cristãos cometiam alguma prática lasciva, marido e mulher seriam desassociados por porneía. Não apenas isso, se a esposa cristã alegasse perante os anciãos que fora coagida pelo marido a praticar sexo oral e/ou anal, ela poderia se divorciar dele e se casar novamente.

Em adição a isso, o CG ainda defendeu que tal entendimento fazia parte da “purificação progressiva” que Jeová dava às congregações, e o magistério atribuiu tal entendimento a Deus.[2]

O problema nisso é que em parte alguma a palavra porneía na Bíblia é aplicada a tais práticas dentro do arranjo marital. Em vista disso, em 1978, os membros do Corpo Governante voltaram atrás nessa definição inventada de porneía. A revista A Sentinela de 1 de agosto de 1978, pp. 29-30, disse:

Um cuidadoso exame adicional deste assunto, porém, convence-nos de que, em vista da ausência de claras instruções bíblicas, trata-se de assuntos pelos quais o casal tem de levar a responsabilidade perante Deus, e que essas intimidades maritais não são da competência dos anciãos congregacionais, para tentar controlá-las ou promover a desassociação.

Ao invés de pedir perdão pelo erro, os membros do CG jogaram a culpa nos anciãos congregacionais porque estes investigavam a vida sexual dos casais cristãos, agindo como “policiais”. Então, em 1978 o CG anulou o ensino de 1974 (em inglês) que determinava que coito anal e oral dentro do arranjo marital era ‘porneía dentro do casamento’; o resultado foi que se os casais decidissem praticar os referidos atos, eles não seriam desassociados por porneía.

Entretanto, o artigo de 1978 disse que caso um dos cônjuges concluísse que o outro cônjuge tinha práticas lascivas dentro do casamento, e caso o cônjuge definisse que tal prática é porneía, poderia se divorciar. Ou seja, o CG disse que porneía seria definida pela opinião pessoal de um dos cônjuges. Isso é descabido.

1983: sexo anal e oral são de novo pecados de desassociação para o CG

         No ano de 1983 o CG já não mais entendia o sexo anal e/ou oral entre marido e esposa como ‘porneía dentro do casamento’. Entretanto, o CG nesse ano decidiu transformar tais práticas novamente em pecados de desassociação. O magistério disse em A Sentinela de 15 de setembro de 1983, p.31:

Assim, o cônjuge forçar atos pervertidos, tais como o sexo oral ou anal, dentro do casamento, não constituiria base bíblica para um divórcio que livraria um ou outro para se casar novamente. . .

Como já foi mencionado, não cabe aos anciãos “policiar” os assuntos conjugais particulares dos casais da congregação. Entretanto, se se tornar conhecido que um membro da congregação pratica ou defende abertamente as relações sexuais pervertidas dentro do vínculo do casamento, este certamente deixaria de ser irrepreensível. . . Tal prática e promoção poderiam levar até mesmo à expulsão da congregação.

Não há nada na Bíblia que relacione o sexo anal e/ou oral dentro do casamento com quaisquer pecados de desassociação.[3]

Vimos que o CG se intromete tanto na liberdade individual dos irmãos que até mesmo a intimidade marital é regulada pelo magistério. Isso nos mostra que não podemos confiar no CG “sem pensar duas vezes”.

O que de fato a Bíblia diz sobre sexo anal e oral?

         Certamente, se pessoas do mesmo sexo ou solteiros tiverem essas práticas, isso constitui uma relação sexual ilícita, a saber, porneía. Se um homem abusar sexualmente de uma criança com tais práticas, isso constitui estupro, que é uma forma de porneía onde apenas uma das partes envolvidas é culpada. (Deuteronômio 22:25) Entretanto, dentro do casamento essas práticas não são descritas na Bíblia como sendo porneía.

         Além disso, a Bíblia não menciona nem o sexo anal nem o sexo oral em parte alguma – e isso é tudo. Assim sendo, não cabe a ninguém regulamentar a intimidade dos casais.

         Significa isso que os casais estão livres para fazer quaisquer práticas? Significa isso que não há problema algum em um casal praticar sexo anal, por exemplo? Essas são questões que o casal terá de considerar. Visto que o assunto não pode ser regulamentado de uma perspectiva teológica, conhecer o que os estudos científicos dizem sobre o assunto pode lançar luz sobre o assunto. A seguir, listo possíveis/prováveis efeitos do sexo anal:

1.   Lesões e traumas: O revestimento do ânus é sensível e pode ser facilmente ferido durante o sexo anal. Isso pode resultar em lesões, cortes ou traumas na região anal, o que pode levar a dor e sangramento.

2.  Infecções: A prática do sexo anal também pode aumentar o risco de infecções, pois o ânus é uma área que contém bactérias; a introdução de corpos estranhos durante o sexo anal pode causar perturbações na flora bacteriana normal do ânus, o que pode levar a infecções bacterianas ou fúngicas.

3.  Incontinência fecal: O sexo anal pode causar danos aos músculos e nervos do esfíncter anal, o que pode levar a problemas de controle fecal, como incontinência fecal, ou seja, a incapacidade de controlar a passagem de fezes.

4.  Outros efeitos adversos: Além disso, o sexo anal também pode estar associado a outros efeitos adversos, como hemorroidas, fissuras anais (feridas na mucosa do ânus), dor anal crônica, dentre outros.

         Voltando para a análise teológica, o que podemos afirmar é que o respeito e o amor devem prevalecer entre o casal; assim, seria desamoroso e, portanto, pecaminoso, que o marido coagisse a esposa a fazer algo que ela julga impróprio em sua consciência; e ele deve evitar práticas sexuais que prejudiquem a saúde de sua esposa e vice-versa. (Romanos 12:1)

         Podemos afirmar também que assistir a filmes eróticos, mesmo que os cônjuges estejam de acordo, é uma violação de princípios bíblicos. (Mateus 5:28; 1 Tessalonicenses 4:4, 5)

         O fato de a Bíblia não mencionar essas práticas não significa que sejam puras; mas de fato significa que ninguém poderá regulamentar a intimidade dos outros.

Contato: oapologistadaverdade@gmail.com

Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org



[1] Ao ler este estudo, tenha em mente que não trato aqui de qualquer intimidade entre solteiros; este estudo trata apenas de prática sexuais dentro do arranjo matrimonial.

 [2] Veja A Sentinela de 15 de agosto de 1976, p. 506.

 [3] Certamente, se um cristão promover que cristãos devem fazer sexo anal e/ou oral e for um propagandista disso, isso poderá se tornar promoção de seita, que é um pecado de desassociação. (Tito 3:10)

Comentários

Anônimo disse…
Cristão atípico, o que aconteceu com você? Há alguns anos atrás você era um verdadeiro apologista, mas hoje em dia mudou totalmente? Você ainda é TJ ou deixou de ser? Poderia me responder?
Anônimo disse…
No passado os atos homossexuais e a pratica da bestialidade não eram vistos pelo CG como porneía e portanto os casados não poderiam separar-se do conjuge infiel.

w72 15/5 p. 319 Perguntas dos Leitores: Constituem atos homossexuais da parte duma pessoa casada um motivo bíblico para o divórcio, livrando o cônjuge inocente para um novo casamento?
Anônimo disse…
Achei bem simples e prático como deveria ser! Imagine o constrangimento ao tocar nesse assuntos diante dos outros.
Tony disse…
Mais um artigo claro e que não deixa dúvidas: questões relacionadas a práticas sexuais dos casais cristãos não dizem respeito aos anciãos ou CG. Eu já havia feito um estudo profundo sobre esse assunto, usando exatamente esses mesmos artigos. E a conclusão que eu havia chegado foi exatamente a mesma, apesar de a visão do CG ter mudado ao longo do tempo. E tem um ponto sobre isso que posso estar enganado, mas acredito que a visão do CG pode até ser essa (a do artigo), porém, de forma velada, visto que não veio matérias recentes tratando especificamente do assunto para trazer um "ajuste". Mas, ao explicar o que é imoralidade sexual, o magistério costuma incluir na definição que "também inclui sexo oral, sexo anal e a estimulação intencional dos órgãos sexuais entre pessoas que não estão casadas entre si." Parece que, de forma indireta, reconhecem que tais práticas só são imorais se forem feitas fora do casamento. Mas, nunca admitiram de forma aberta que erraram sobre o assunto. Imagina naquele tempo, quantos casamentos e famílias foram desfeitas, filhos que passaram a não ter mais a presença do pai ou mãe por conta de um erro grave de entendimento que foi colocado como lei? Nunca houve um pedido honesto de desculpa por isso. E até hoje, muitos anciãos criam regras relacionadas a esse assunto.
Cristão Antitípico disse…
O codinome é "Cristão Antitípico", não "Atípico".

Não entendi sua decepção comigo, eu sou um verdadeiro apologista da verdade, não importa se a verdade dói para alguns.

Poderia me apontar, dentre tudo que eu disse, qual informação é falsa? Qual informação que está no artigo é antibíblica? Qual carece de fonte segura? Qual está em desarmonia com os fatos?

Você não está desapontado comigo, mas com a verdade, pois eu só escrevi verdades. Se o que eu escrevi neste artigo te desapontou, então deveria rever teus valores e fazer uma autoavaliação de tua fé,
Cristão Antitípico disse…
Sim, exatamente. Bem lembrado. Houve uma época em que o homossexualismo e a bestialidade, embora vistos como pecados de desassociação, não eram encaixados no conceito de 𝘱𝘰𝘳𝘯𝘦í𝘢. Tudo isso graças ao Corpo Governante.
Anônimo disse…
Exato! Famílias inteiras foram destruídas, e ainda são!
Anônimo disse…
Perdão, coloquei "atípico" por erro de digitação. Mas não entendo se você é TJ ou não?
Cristão Antitípico disse…
Sem problemas quanto ao erro de digitação.

Sobre se eu sou ou não TJ, qual é a relevância disso no que tange à veracidade das informações?

Eu não sou contra as TJs. Tenho muito apreço pelas TJs e por tudo que me ensinaram. Eu amo as TJs e para mim todos esses são meus irmãos de fé.

Entretanto, creio que você deveria estar focado em entender se o que foi dito aqui é VERDADE ou MENTIRA ao invés de estar focado em descobrir se eu sou TJ ou não. Cristãos verdadeiros se interessam pela verdade, pela informação em si, não por quem disse.

De qual das informações aqui apresentadas você discorda e por quê? Qual dessas informações é contra o ensino da Bíblia? Qual delas é falsa? São essas as perguntas mais relevantes a serem feitas. Não importa se eu sou TJ ou não.
Anônimo disse…
Estive vendo aqui essa sessão: 'Pergunta dos Leitores' no meu CD ROOM - tem muita coisa ali passível de estudo diligente, pesquisa e etc. Excelente artigo.

Duas coisas bem levantadas no meu entender:
- A questão do ato em si:
- e o legalismo (farisaico) de querer controlar tal assunto, invadindo a esfera de privacidade dos irmãos.

parabéns pela abordagem
Anônimo disse…
É nítida a deserção do apologista, em vez de atacar o CG deveria se lembrar que no passado alguns ensinos também foram revistos (Circuncisão como exemplo).
Esqueceu do principio de Provérbios 4:18, ajustes sim foram feitos e outros devem ser feitos se esses forem necessários para agradar aquele a quem servimos. Quando a Circuncisão foi abolida entre os cristãos que ousaria em dizer que a adoração dos apóstolos era falsa ou não tinha apoio do Espirito Santo?
A você gostaria de lembrar o Texto de Apocalipse 2:5.
Em breve estará falando em trindade, Cruz, Arrebatamento, Inferno e Fogo etc, rsrs.
Cristão Antitípico disse…
Prezado, queira ler este artigo onde respondi às mesmas objeções que você propôs: https://www.oapologistadaverdade.org/2022/10/revelacao-gradual-versus-autoritarismo.html

E também esta resposta que dei a um leitor que fez as mesmas objeções que você: https://www.oapologistadaverdade.org/2022/07/consideracoes-adicionais-sobre-o.html

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