Fonte da ilustração:
http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/402014122
A PRESENÇA DE CRISTO É INVISÍVEL
Jesus disse
que “o reino de Deus não vem de modo impressionantemente observável”. (Lucas
17:20) Diria que um ser em forma humana sentado num trono, com anjos em forma
humana em volta tocando trombetas não seria algo “impressionantemente
observável”? Outra evidência de que a presença de Cristo seria invisível é o
fato de que, de início, apenas os observadores bem atentos, de figurativos
olhos de águia, o notariam. (Lucas 17:37) Como, então, podemos determinar
quando estaria próximo o Reino?
A resposta a
esta pergunta nos leva a outra razão pela qual a presença de Cristo seria
invisível: ele forneceu um sinal visível. Pense nisso: se a pa·rou·sí·a fosse
literalmente visível aos olhos humanos, por que Jesus despendeu tanto tempo
dando a seus seguidores um sinal para ajudá-los a discernir
essa presença? Ter-se dado um sinal da presença indica que ela é secreta. Não
precisamos de um sinal que nos informe a presença daquilo que vemos.
Jesus permaneceria invisível,
mesmo ao manifestar sua presença executando a sentença contra os iníquos. Jesus
disse a seus discípulos: “Mais um pouco, e o mundo não me observará mais” [“não
me verá mais”, Als]. (João 14:19) A palavra usada é theoreís,
derivada de theoréo (θεωρέω, “ver, olhar, observar”; G. D.).
Seus discípulos o observariam porque, no devido tempo, eles seriam
ressuscitados para juntar-se a ele nos céus e ‘observar a glória que seu Pai
lhe dera’. (João 17:24; 1 João 3:2) Que uma pa·rou·sí·a pode
também ser invisível é indicado pelo uso que Paulo fez da forma verbal
aparentada (pá·rei·mi; declinada como parón) ao falar
de estar “presente em espírito” (parón toi pneúmati), embora ausente em
corpo (apón toi sómati). (1 Coríntios 5:3) Também a Bíblia fala da
“manifestação de sua presença” (epifâneiai tes parousias autoû)
e relaciona isso com o tempo em que Jesus executará os iníquos. (2
Tessalonicenses 2:8) Uma vez que a presença de Cristo terá de ser manifestada, revelada,
isso indica que ela é obviamente invisível.
Que Jesus
não voltará num corpo físico é claro pelo testemunho das Escrituras. (João
6:51) Tendo renunciado à sua vida carnal a favor da vida do mundo, ele não
podia tomá-la novamente de volta. Caso tivesse tomado de volta o corpo humano
que sacrificara, a humanidade não mais seria resgatada e nem ele poderia
retornar ao céu. (1 Coríntios 15:50; 1 Pedro 3:18; 2 Coríntios 5:16) Ademais,
se Cristo retomasse seu corpo carnal, ele teria de oferecê-lo novamente, para
pagar nossos pecados. No entanto, Hebreus 10:10 torna claro que a “oferta do
corpo de Jesus Cristo” foi feita “uma vez para sempre”. A
respeito do glorificado e imortal Senhor Jesus Cristo, 1 Timóteo 6:16 afirma
que ele é alguém que “mora em luz inacessível, a quem nenhum dos homens tem
visto nem pode ver”. Sendo esse o caso, Jesus nunca assumirá de novo um corpo
corruptível de carne a fim de ser visto pelos humanos que são frágeis demais
para suportar a visão de seu corpo espiritual glorificado. Esse não é o
propósito de Deus para seu Filho. Como disse o inspirado apóstolo Paulo em
certa ocasião: “[Deus] o ressuscitou dentre os mortos, destinado a nunca mais voltar à corrupção.”
— Atos 13:34.
Ter Jesus
simplesmente assumido forma humana após sua ressurreição explica por que, em
várias ocasiões, não foi sempre reconhecido de imediato e também por que podia
surgir de súbito no meio de seus apóstolos, mesmo a portas fechadas. – João
20:19, 26.
Depois que
ascendeu ao céu, Jesus tornou-se “a representação exata” do próprio ser de
Deus. (He 1:2, 3) Assim, ele se tornou um ser espiritual, assim como “Deus
é Espírito”. (João 4:24) Nenhum homem poderia ver a face gloriosa de Deus e
ainda assim viver. (Êxodo 33:20) E a presença de Deus não se dava de forma
visível. (Êxodo 19:9, 11, 18, 20; 25:22) Do mesmo modo, os humanos não podem na
Terra ver o glorificado Senhor Jesus Cristo. É por isso que, quando Saulo de
Tarso (a caminho de perseguir os cristãos em Damasco) encontrou Jesus Cristo,
não viu nenhuma forma ou corpo, mas apenas uma luz tão brilhante que o cegou.
(Atos 9:3-9, 17, 27; 22:6-9, 11; 26:13, 16) A Bíblia diz que Deus é o “Pai das
luzes celestiais”. (Tiago 1:17) De modo similar, o ressuscitado Jesus “mora em
luz inacessível, a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver”. – 1 Timóteo
6:14-16.
Mas que
dizer de Apocalipse 1:7? Este texto declara: “Eis que ele vem com as nuvens e
todo olho o verá, e aqueles que o traspassaram; e todas as tribos da terra
baterão em si mesmas de pesar por causa dele.” Devemos tomar isso literalmente?
O livro de Apocalipse é apresentado “em sinais”, ou símbolos. (Apocalipse 1:1)
Podemos notar a linguagem simbólica por observar que o texto diz que Cristo
será ‘visto’ até mesmo por “aqueles que o traspassaram”. Literalmente, foram os
soldados romanos que traspassaram Jesus. (João 19:23, 32-34) Como poderiam
“aqueles que o traspassaram” ver Cristo retornar? Já estão mortos há quase 20
séculos! E a Bíblia apresenta a ressurreição no Reinado milenar de Cristo, após a
vinda de Cristo para destruir os ímpios. (Apocalipse 20:1-3, 12) Portanto,
estas palavras devem ter algum outro significado. O próprio Jesus forneceu a
pista na sua parábola das ‘ovelhas e dos cabritos’, quando disse: “Ao ponto que
o fizestes a um dos mínimos destes meus irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus
25:31-46) Portanto, “aqueles que o traspassaram” representam os que hoje
maltratam ou ‘traspassam’, por assim dizer, os discípulos de Cristo na Terra.
Uma vez que ‘os que o traspassaram’ são um símbolo, isto é, representam os
atuais perseguidores dos cristãos, ‘ver’ Cristo vindo nas nuvens também é
simbólico. Ademais, a Bíblia associa “nuvens” com invisibilidade, visto que
nuvens não contribuem para a visibilidade, como qualquer piloto de avião ou
controlador de tráfego aéreo bem o sabe. (Jó 22:14; Êxodo 19:9; Isaías 19:1) O
fato de a presença de Cristo ser associada ao uso de nuvens em diversos textos
ajuda-nos a entender que sua presença tem de ser invisível.
Se Cristo
viesse em forma humana, como é que todo olho poderá vê-lo? Se ele for visível
na Austrália, então certamente não será simultaneamente visível na Europa e em
muitas outras partes da Terra, não importa a que altitude. No entanto, a Bíblia
indica que a presença de Cristo terá uma abrangência mundial, será reconhecida
mundialmente, e não apenas neste ou naquele local geográfico. – Mateus 24:23-25.
Há mais de
uma maneira de “ver” algo ou alguém. Numa palestra, quando certo ponto se torna
claro, a pessoa talvez diga: “agora eu vejo o ponto”, querendo dizer,
“compreendo”. Na Bíblia, ‘ver’ pode referir-se à visão figurativa, à percepção
mental e de coração. A palavra grega o’pso.mai (futuro
indicativo médio do verbo defectivo ho.ra’o, que significa
“ver, notar, perceber” [G. D.]) usado no texto de Apocalipse 1:7, tem esse como
um de seus vários significados. Romanos 1:20, onde ocorre uma forma de ho.ra’o, mostra
que algo invisível pode ser ‘visto’ [kathorãtai] por ser ‘percebido’ [nooúmena]
pelos olhos mentais. Diversos textos falam da visão e dos olhos em sentido
figurado. Na Bíblia, “olho” e “olhos” e “visão” são usados também no sentido de
compreensão mental e espiritual. (Gênesis 3:7; Eclesiastes 2:14; Efésios 1:18;
Isaías 17:7; Isaías 44:18; João 12:40; Jó 42:5; Salmo 119:18; Lucas 19:42; Romanos
11:8-10; Mateus 6:22, 23;13:16; Salmo 123:2; Provérbios 4:20, 21; João 9:38-41;
Josué 3:3; Isaías 51:1, 2; Jeremias 5:21; 3 João 11; Atos 8:23; Tiago 2:24) As
palavras “cego” (hebr.: ‛iw·wér e gr.: ty·flós) e
“cegueira” são também usadas em sentido figurado. (Mateus 23:16; Êxodo
23:8; Deuteronômio 16:19; João 9:39-41; 3:19, 20; Apocalipse 3:17; 1 João
2:11; 2 Pedro 1:5-9; 2 Coríntios 4:4) A Bíblia fala de ‘ver’ coisas abstratas,
como a salvação (Als) e a vida. (o’pso.mai; Lucas 3:6; João
3:36) Também, “olho” no singular (hebr.: ‛á·yin; gr.: ofthalmós)
tem o mesmo sentido de “olhos”, no plural. (Números 24:3, 15; Deuteronômio
7:16; 28:54; Esdras 5:5; Jó 7:8; 14:3; Salmo 92:11; 116:8) Assim, o simples
fato de que a Bíblia declara que os homens “verão” Jesus quando ele voltar não
significa, em si, que o verão com sua visão física, e que ele aparecerá num
corpo físico. Pois, como o próprio Jesus disse, “o mundo não me verá mais”. –
João 14:19, Als.
Entretanto,
quando Cristo vier para destruir o sistema mundial de Satanás, a realidade de
Sua presença ficará sobrepujantemente manifesta a todos. Será então que “todo
olho [do entendimento] o verá”. Mesmo os opositores de Jesus poderão discernir,
para seu desalento, que o reinado de Cristo é real. Em sua ‘Apocalipse’, as
palavras de Jesus em Mateus 24:30 se cumprirão. Não só os seguidores fiéis de
Jesus, mas “todas as tribos da terra” ficarão cônscias do que estará
acontecendo então. Observe que não verão o corpo humano do Filho do homem, mas
um “sinal”. Um sinal é uma evidência visível de algo invisível. Isto significa
que verão evidência visível de que Jesus Cristo deveras exerce autoridade como
Rei e que isto significará destruição para aqueles que deixaram de aceitar as
“boas novas” que lhes foram declaradas. — 2 Tessalonicenses 1:6-8;
2:8; Apocalipse 1:5, 6.
A explicação
acima elucida textos tais como Hebreus 9:28, que fala da “segunda vez que ele
aparecer” (ὀφθήσεται [ofthésetai], derivado de ὁράω [ho.ra’o]). Outra
derivação de horáo (ὤφθη [ófthe]) é encontrada em
1 Coríntios 15:8, onde Paulo declara que Jesus “apareceu” a ele. Mas, como a
Bíblia mostra, Paulo não viu nenhuma figura definida. Apenas viu uma forte luz.
A mesma derivação (ὤφθη [ófthe]) é usada em Atos 7:2, que declara:
“O Deus da glória apareceu (ὤφθη [ófthe]) a nosso antepassado
Abraão.” Mas, conforme a Palavra de Deus torna claro, “nenhum homem jamais
viu a Deus”. (Jo 1:18a) Assim, o que Abraão deve ter tido foi
uma “visão” de Deus. — Gênesis 15:1.
O que indica
o texto de Atos 1:9-11? Os anjos disseram que Cristo voltaria “da mesma
maneira” como partiu. Note que a volta de Jesus seria “da mesma maneira” (gr.: tró·pos, não mor·fé, “forma”).
Bem, como foi que ele partiu? À vista de milhões de pessoas? Não, mas sem
demonstração pública, discernida apenas por alguns de seus fiéis seguidores. E
quando os anjos lhes falaram, estavam os apóstolos literalmente observando a
inteira jornada de Cristo até o céu? Não, uma nuvem havia ocultado Jesus da
visão. Algum tempo depois, ele deve ter entrado nos céus espirituais como ser
espiritual, invisível a olhos humanos. (1 Coríntios 15:50) Portanto, quando
muito, os apóstolos viram apenas o começo da jornada de Jesus; não poderiam ver
o fim, seu retorno à presença celestial de seu Pai, Jeová. Isso eles poderiam
discernir apenas com os olhos da fé. — João 20:17.
Como podemos
harmonizar o que já foi explicado acima com o texto de 1 Tessalonicenses 4:16,
que descreve Jesus como ‘descendo do céu com uma chamada dominante [“alarido”, Al],
com voz de arcanjo e com a trombeta de Deus’? A expressão “chamada
dominante” é tradução do grego κελεύσματι (keleúsmati),
que só ocorre nesse texto, e que é derivado de κελεύω (keleúo),
que significa “mandar, comandar, ordenar, urgir”. (G. D.; Mt 8:18;14:19, 28;
18:25; 27:58; Lucas 18:40; Atos 12:19; 25:23) Em harmonia com o sentido
original, algumas traduções vertem keleúsmati por “palavra de
ordem” (ALA), “ordem de comando” (BLH). Não são corretas
traduções como “alarido” (AL) e “grande brado” (IBB), visto que
palavras como “grito”. “gritaria”, “clamor” e “brado” são traduções da palavra κραυγή (kraugé),
encontrada na sua totalidade em Mateus 25:6; Lucas 1:42; Atos 23:9; Efésios
4:31; Hebreus 5:7; Apocalipse 21:4. Ademais, o verbo gritar, clamar (em alta
voz) é tradução de κραυγάζω (kraugázo) e de κράζω (krázo).
Exemplos de kraugázo são encontrados na totalidade em Mateus
12:19; Lucas 4:41; João 11:43; 12:13; 18:40; 19:6, 12, 15; Atos 22:23; e de krázo em
Mateus 14:26; 27:50; Marcos 15:14. Mesmo tais verbos têm também sentido
figurado. Por exemplo, Tiago 5:4 fala dos salários que foram retidos como
estando “clamando” [krázei], o que obviamente não ocorre de modo
audível.
A menção de
“trombeta” (σάλπιγξ), não pressupõe aqui a realidade de um som literal
ouvido na Terra toda. O ressuscitado Jesus Cristo apresentou-se ao apóstolo
João na ilha de Patmos com “forte voz, semelhante à duma trombeta”, mas isso
não foi percebido no mundo todo, nem mesmo a outros que pudessem estar com João
na ilha de Patmos. (Apocalipse 1:10) Nos tempos bíblicos, a trombeta era
um instrumento usado para dar toques para convocação de pessoas. (Números
10:3-7) Portanto, no contexto de 1 Tessalonicenses capítulo 4, significa a
convocação dos “mortos em união com Cristo” pela ressurreição. – 1
Coríntios 15:51, 52.
Mateus
24:23-27 também não argumenta a favor de uma presença visível. A comparação é
com relação ao alcance ou abrangência da presença invisível de Cristo e não com
claridade. Podemos notar isso pelo contraste feito com os falsos cristos. No
caso deles usam-se os advérbios “aqui” e “ali”, mostrando que a influência
deles é apenas local, restrita. Jesus, na sua presença, não estaria nem aqui
nem ali, nem em qualquer lugar específico na Terra, o que mostra que Jesus não
viria com corpo e forma humanos. Não estaria num lugar isolado, “no deserto”,
um lugar em que os seguidores dele pudessem treinar sob a sua liderança, preparando
um golpe político e empossando-o como Governante messiânico do mundo. Tampouco
se ocultaria em “aposentos interiores”, para poder conspirar e elaborar planos
secretos com cúmplices para derrubar os governos do mundo e ser ungido como o
prometido Messias. Uma vez que o reinado de Jesus inclui a Terra toda, sua
presença é global. Jesus mostrou que sua presença não seria mantida em sigilo.
Não haveria nada a esconder quanto a Jesus estar atuando como Rei, no começo da
sua presença régia. Conforme Jesus predisse, lampejos da verdade bíblica
continuam a raiar sobre grandes regiões em todo o globo, do Oriente ao
Ocidente. Portanto, Jesus indica que da mesma forma como o relâmpago abrange
uma vasta área, a evidência de sua presença no poder do Reino será claramente
discernível a todos os que desejam observá-la. Com relação ao verbo “brilhar”
(φαίνεται [faínetai] derivado de φαίνω [faíno]),
tem também o sentido de algo que é discernido, como mostra o parágrafo abaixo.
Mas a ênfase não está no ‘brilho’ ou clarão do relâmpago, e sim no espaço
abrangente que ele percorre, em contraste com a localização limitada e restrita
dos falsos cristos.
Que dizer da manifestação,
ou epifania, de Cristo? Essa palavra ocorre em 2 Tessalonicenses 2:8; 1 Timóteo
6:14; 2 Timóteo 1:10; 4:1, 8; Tito 2:13. A palavra ἐπιφάνεια (epifáneia) significa
uma exposição, ou evidência discernível. Ela está relacionada com o verbo ἐπιφαίνω (epifaíno),
que ocorre 4 vezes, 2 das quais no sentido de algo tornar-se discernível. (Lucas
1:79; Tito 2:11; 3:4) Epifaíno é derivado de φαίνω (faíno)
que significa “brilhar, iluminar, aparecer, ser ou tornar-se visível, ser
revelado”. (G. D.) Também tem o sentido figurado de tornar-se discernível à
mente. (Romanos 7:13; Marcos 14:64) Outro verbo relacionado é φανερόω (faneróo), que significa
“revelar, mostrar, fazer conhecido” (G.D.), também ‘manifestar, tornar
manifesto ou patente, fazer sentir, descobrir’. (Taylor) Aplica-se também a
coisas abstratas sendo manifestadas: “o segredo sagrado” (Colossenses 1:26), “a
justiça de Deus” (Romanos 3:21), o “nome” de Deus (João 17:6), “os conselhos
dos corações” (1 Coríntios 4:5), os
“justos decretos” de Deus (Apocalipse 15:4). Destas palavras se origina a
palavra “fenômeno”, que é definida como “tudo o que é percebido pelos sentidos
ou pela consciência”. (Aurélio; grifo acrescentado) O que é
percebido pela consciência é algo discernível pela mente.[1]
Cristo já
teve sua manifestação visível quando veio como humano na Terra, e esta
manifestação ocorreu “uma vez para sempre” (Hebreus 9:26), ou seja, ele nunca
mais terá uma manifestação visível, visto que hoje Jesus não é mais humano, mas
uma poderosa pessoa espiritual no céu.
NÃO VOLTARÁ LITERALMENTE À
TERRA
A Bíblia
documenta que Cristo iria ao céu “assegurar-se poder régio e [depois] voltar”.
(Lucas 19:11-15, 27; ὑποστρέψαι [hipostrépsai], de ὑποστρέφω [hipostréfo] = retornar, voltar.) No entanto, sua vinda ou volta
não significa uma movimento topográfico do céu espiritual em direção à
atmosfera terrestre.
A Bíblia
fala duma vinda conjunta tanto de Jeová como de Jesus Cristo. (Lucas 9:26; Malaquias
3:1; João 8:29; Isaías 26:21; 40:10; Apocalipse 6:16) Jeová não virá
literalmente à atmosfera do planeta Terra. Sobre ele, a Bíblia diz: “Os
próprios céus, sim, o céu dos céus, não te podem conter”. (1 Reis 8:27) Se nem
o Universo físico pode comportar a presença de Jeová em pessoa, muito menos
nosso minúsculo planeta! Outro fator a considerar é que Cristo fala de “vir”
mesmo antes do tempo do fim, no sentido de voltar sua atenção para uma
determinada situação. Apocalipse 2:5, 16 fala de Jesus ‘vir’ à “congregação em
Éfeso” para resolver problemas existentes naquela congregação da Ásia Menor. É
evidente que ele não faria isso de modo visível nem se deslocaria de sua
posição no céu para fazer isso. – Salmo 110:1; Hebreus 10:13.
Então, qual
é o sentido de 1 Tessalonicenses 4:16, que declara que “o próprio Senhor descerá do
céu”? Desde sua ressurreição e ascensão ao céu, Cristo é “o reflexo da glória
[de Deus] e a representação exata do seu próprio ser.” (Hebreus 1:3) Por
exemplo, as Escrituras falam frequentemente de Deus descer à Terra para fazer
uma inspeção, como por ocasião da construção da torre de Babel, ou para observar
o que as pessoas de Sodoma e Gomorra estavam fazendo. (Gênesis 11:5-7; 18:21;
Êxodo 19:10, 11; Isaías 31:4; Miqueias 1:3; 2 Samuel 22:10) Lemos também que
ele ‘visitou’ seu povo Israel e observou a aflição deles enquanto estavam em
escravidão no Egito. “Descer”, “visitar” e “vir” estão relacionados. (Êxodo
3:8, 16; 4:31; Salmo 59:5; 80:14; Oseias 6:3 [“virá”, Al, IBB;
“descerá”, ALA]; 10:12 [“ele venha”, ALA]; Lamentações
1:22; 4:22 [‘visitar’, Als].) Mas, acha que era preciso que Jeová
Deus realmente deixasse seu trono celestial para fazer uma inspeção ou para
tomar ação? De forma alguma! Antes, ele observou, fixou a sua atenção nas
coisas da Terra e agiu. – Jó 7:18, 19.
De modo
correspondente, nas Escrituras Gregas Cristãs, fala-se de Deus “visitar” no
sentido de voltar a sua atenção. Por isso, quando lemos, em Atos 15:14, que
“Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” (Al),
significa simplesmente que “voltou a sua atenção” para os gentios. (NM) A
tradução An American Translation traduz
por dizer que “Deus, pela primeira vez, mostrou interesse”. Outras traduções
dizem: “começou a olhar para” (CBC); “cuidou de” (Ne; So); ou
como diz a Tradução do Novo Mundo: “Deus,
pela primeira vez, voltou a sua atenção para
as nações, a fim de tirar delas um povo para o seu nome.” A palavra episképtomai (ἐπισκέπτομαι)
significa literalmente “visitar”. (Mateus 25:36; Atos 7:23; 15:36) Uma
vez que está relacionada com epískopos (superintendente), espiskopéo (cuidar
de, providenciar, suprir) e espiskopé (visitação para
inspecionar), episképtomai tem o sentido de visitar para
cuidar de, ou para dar atenção à pessoa ou às pessoas visitadas. E, quando
usada com relação a Deus, tem o sentido de “voltar a atenção”. (É declinada na
forma epesképsato [ἐπεσκέψατο] em Lucas 1:68; 7:16; Atos 15:14.)
Correspondentemente,
a Bíblia usa a palavra “retornar” no sentido de voltar a atenção, produzindo
uma mudança de condição, sem envolver um movimento geográfico. (Malaquias 3:7;
Gênesis 18:14; Jó 33:25; 1 Samuel 30:12 [“voltou-lhe o ânimo”, IBB];
Mateus 23:35.) O Dicionário Aurélio define tal palavra nesta acepção como
“ocupar-se ou tratar de novo dum assunto”. Este é o sentido da expressão
“voltar ao assunto”. Tem também o sentido de aplicar, dirigir ou encaminhar
esforços num determinado assunto ou problema: “voltar o pensamento para
determinada situação”. É interessante que Lucas 15:17 usa a expressão “caiu em
si”, que literalmente é ‘veio em si’, sendo que a palavra “veio” (élthon)
é particípio aoristo de érkhomai. João 18:4 fala das ‘coisas que
haviam de vir [erkhómena] sobre Jesus’. – Al, ALA.
Epistréfo (ἐπιστρέφω) em grego significa “voltar”, e tem
sentido tanto literal como figurado. Neste último, significa uma mudança de
condição ou atitude. (Lucas 1:16; Tiago 5:20) A palavra epistrofé (ἐπιστροφή) – ”retorno”
em grego – é usada em Atos 15:3 no sentido de “conversão”. (Als) Um
verbo relacionado, stréfo (στρέφω), que também significa
“voltar”, é igualmente usado no sentido figurado. Atos 7:39 fala sobre os
israelitas que saíram do Egito e estavam no ermo: “Nos seus corações voltaram-se
[ἐστράφησαν; stráfesan] para o Egito.” Não voltaram literalmente ao
Egito, mas no coração. Quer dizer, voltaram todos os seus
interesses, objetivos e aspirações em direção ao Egito. (Veja também Mateus
18:3; e João 12:40, que usam stréfo no sentido de “mudar
interiormente, ser convertido”, G. D.; Gingrich e Danker citam
João 12:40 tanto sob o verbete epistréfo como sob o verbete stréfo,
mostrando que tais verbos significam basicamente a mesma coisa.) De fato, a
Bíblia usa diversas expressões figuradas que não sugerem um movimento
geográfico. Por exemplo, ela exorta a não se “desviar” das leis de Deus (Deuteronômio
17:11); fala do ‘coração voltar atrás’ (1 Reis 18:37); ‘fazer um recuo’
(“convertei-vos”, Als; Ezequiel 18:32); de ‘ser enviado’ sem sair
do lugar (1 Reis 14:6, Al, IBB; ALA: “estou
encarregado”); do coração ‘ir com’ alguém sem que a pessoa saia do lugar (2Rs
5:26); de Deus ‘lançar o proceder’ do iníquo sobre a cabeça do próprio iníquo
(2 Crônicas 6:23, Al; ALA, IBB: “fazendo recair”); de
Deus ‘lançar para longe de diante da sua face o Templo no sentido de repudiá-lo
ou desprezá-lo. – 2 Crônicas 7:20.
Outro fator
a considerar é que Cristo prometeu estar com seus verdadeiros seguidores “todos
os dias, até à terminação do sistema de coisas”. (Mateus 28:20) Uma vez que
Jesus Cristo já está conosco, como poderia ele ainda vir até
nós? Jesus está ‘conosco’ em especial mediante a orientação dos anjos e a
proteção na obra de pregação, porque os versículos anteriores falam da comissão
que Jesus deu a seus seguidores de ‘fazer discípulos, batizando-os e
ensinando-os’. (Mateus 28:19, 20) Assim como estar ele conosco não implica em
sua presença corpórea ao nosso lado, do mesmo modo sua vinda não
significa deixar seu domínio celestial para descer ao redor de nosso planeta.
Assim,
Cristo estaria ativo qual Rei e “presente” no sentido de voltar sua atenção
para a Terra e exercer poder régio para com ela. Cristo não volta em pessoa à
vizinhança da Terra (nem mesmo invisivelmente), mas volta a sua atenção à Terra
como Rei reinante. Jesus não precisa deixar o céu e vir literalmente à Terra
para realizar o propósito de Deus. Mesmo quando na Terra, Jesus Cristo
conseguia curar pessoas à distância, como se estivesse pessoalmente presente no
local. — Mateus 8:5-13; João 4:46-53.
EVENTOS DURANTE A PRESENÇA
DE CRISTO
A presença
do Messias começa com um evento que cumpre um tema frequente das profecias
messiânicas: ele é coroado Rei no céu. O próprio Jesus mostrou que a sua
presença teria ligação com o seu reinado. Em várias ilustrações, ele se
assemelhou a um amo que deixa sua casa e seus escravos e parte para uma longa
ausência num “país distante” onde recebe “poder régio”. Jesus fez uma dessas
ilustrações como parte de sua resposta à pergunta de seus apóstolos sobre
quando começaria a sua pa·rou·sí·a; outra ele fez porque
“estavam imaginando que o reino de Deus ia apresentar-se instantaneamente”. –
Lucas 19:11, 12, 15; Mateus 24:3; 25:14, 19.
A revista A
Sentinela, de 1.º de outubro de 1992 (pp. 17-18, §§ 11-13), tece o seguinte
comentário perspicaz:
Alguns se perguntam, porém: ‘Por que tanta
tribulação no mundo se o Messias está reinando no céu? É ineficaz o seu
governo?’ Uma ilustração talvez ajude. Digamos que um país esteja sendo
governado por um mau presidente. Ele estabeleceu um sistema de corrupção com
ramificações em todo o país. Mas, realiza-se uma eleição; um homem bom vence. O
que acontecerá então? Como se dá em certos países democráticos, há um período
de transição de alguns meses antes da posse do novo presidente. Como agiriam
esses dois homens durante tal período? Será que o homem bom imediatamente
atacaria e eliminaria todos os males que seu antecessor causou em todo o país?
Em vez disso, não se concentraria primeiro na capital, formando um novo
gabinete e rompendo relações com os auxiliares e comparsas corruptos do
ex-presidente? Assim, ao assumir a plena autoridade, ele pode operar a partir
de uma cadeira de comando limpa e eficiente. Quanto ao presidente corrupto, não
se aproveitaria ele do curto período restante para arrancar do país o máximo
possível de ganhos ilícitos antes de deixar o poder?
Re 12:7-12 mostra que quando Cristo foi coroado Rei
no céu, ele primeiro expulsou Satanás e os demônios de lá, limpando assim o
local de seu governo. Tendo sofrido essa há muito aguardada derrota, como age
Satanás no “curto período de tempo” antes de Cristo exercer sua plena
autoridade aqui na Terra? Como o presidente corrupto, ele tenta extorquir tudo
o que pode deste velho sistema. Não está atrás de dinheiro; está atrás de vidas
humanas. Deseja alienar de Jeová e de Seu Rei reinante tantas pessoas quantas
puder.
Portanto, não é de admirar que o começo do governo
do Messias signifique um tempo de “ai da terra”. (Re 12:12) Similarmente, o Sal
110:1, 2, 6 mostra que o Messias começa seu domínio ‘no meio de seus
inimigos’. Só mais tarde fará com que “as nações”, junto com todas as facetas
do sistema corrupto de Satanás, sejam totalmente relegadas ao esquecimento!
Por décadas,
Jesus vem cumprindo Isaías 11:10: “Naquele dia terá de acontecer que haverá a
raiz de Jessé posta de pé qual sinal de aviso para os povos. A ele é que irão
consultar as nações, e seu lugar de descanso terá de tornar-se glorioso.”
Pessoas de todas as nações estão se voltando para o Messias. Por quê? Porque
desde que começou a reinar, ele está ‘posto de pé qual sinal’. Tem tornado
conhecida a sua presença no mundo todo por meio de um vasto programa
educacional ministrado pelas Testemunhas de Jeová. De fato, Jesus predisse que
uma obra de pregação global seria um sinal destacado de sua presença antes do
fim deste velho sistema. — Mateus 24:14.
Lucas
17:31-37 fala de pessoas serem ‘levadas junto’ para a salvação na vinda de
Cristo. Ser “levado junto” não significa necessariamente ir para o céu. O verbo
grego παραλαμβάνω (paralambáno), que significa “tomar (para si
mesmo)”, “tomar consigo”, “receber”, é também usado em sentido figurado, no
sentido de “tomar (para si mesmo)” coisas abstratas como “tradições”,
instruções, o “ministério” cristão, e o “reino” de Deus. (Marcos 7:4; 1
Coríntios 11:23; Colossenses 4:17; Hebreus 12:28) Instruções podem ser ‘tomadas
para si’ ou ‘levadas junto’ no sentido de serem assimiladas na mente e aceitas
no coração. ‘Tomar para si’ o Reino não pode ser literal. Afinal, não é o Reino
que será trazido até a pessoa, mas a pessoa é que será levada até o Reino, que
é celestial. Logo, a pessoa só pode “tomar (para si mesmo)”, “tomar consigo”,
ou “receber” o Reino por aceitar o papel que irá desempenhar no Reino de Deus.
Vimos assim que paralambáno não tem um sentido restrito de um
movimento geográfico em direção a uma pessoa ou coisa, e sim também um sentido
de aceitação mental. De modo que os ‘levados junto’ são os que são aceitos por
Cristo como sendo dignos de serem preservados com vida quando
ele ‘vier’ para executar os iníquos.
Estas
pessoas são as que têm vista espiritual aguda, semelhantes às águias, que se
ajuntam àquele de quem discernem ser o Messias, para o banquete espiritual que
Jeová provê no seu lugar de segurança. Ajuntam-se às congregações de Deus na
terra, sob o Seu verdadeiro Messias. Os ‘abandonados’ são os que não se mantêm
espiritualmente despertos e que, consequentemente, são absorvidos pelo modo de
vida egoísta, assim como as pessoas nos dias de Noé. Tais são ‘abandonados’ à
destruição junto com o sistema mundial de coisas no qual estão envolvidos.
Resumindo: a parousía de
Cristo significa a sua “presença” como Rei do Reino de Deus, e abrange um
período de tempo desde a sua entronização – período este caracterizado como
“terminação do sistema de coisas” (“tempo do fim”) e “últimos dias”. (Daniel
7:13, 14; Mateus 24:3; Daniel 12:4; 2 Timóteo 3:1) A parousía (presença)
de Cristo é invisível aos olhos literais, mas é discernida com os ‘olhos do
entendimento’. (Efésios 1:18, ACRF) Não significa um retorno
literal de Cristo à Terra, mas sim que ele ‘volta sua atenção’ – ou passa a
agir – como Rei reinante, dirigindo a maior campanha de evangelização das boas
novas do Reino de Deus de todos os tempos! (Mateus 24:14) Você está se
beneficiando dessa campanha educacional que salva vidas? Poderá fazer isso por
aceitar um estudo bíblico gratuito providenciado pelas Testemunhas de Jeová e
viver à altura das normas da Bíblia. – João 17:3.
Abreviaturas
usadas neste artigo:
Al – Almeida
Revista e Corrigida.
ALA –
Almeida Atualizada.
Als –
Almeida Revista e Corrigida, Almeida Atualizada e Almeida da Imprensa Bíblica
Brasileira.
BLH – Bíblia
na Linguagem de Hoje.
G. D. –
Léxico do Novo Testamento Grego/Português de Gingrich e Danker, ed. 1993.
IBB –
Almeida da Imprensa Bíblica Brasileira.
NM –
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada pelas Testemunhas de
Jeová.
Nota:
Referência:
Revista A Sentinela de 1.º de
outubro de 1992, pp. 14-19 (publicada pelas Testemunhas de Jeová), sob o tema:
“A presença do Messias e seu governo.”
A
menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do
Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a
fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
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