Contribuído por Cristão Antitípico.
Antes de ler o presente artigo, queira ler também:
· PARTE 1 – O “pacto para um Reino” versus o “Novo Pacto”;
· PARTE 2 – O “Novo Pacto” contrastado com o Antigo Pacto;
· PARTE 3 – O “Novo Pacto” e o perdão de pecados para a grande multidão;
· PARTE 4: A argumentação circular e confusa da Torre de Vigia sobre os dois pactos de Lucas 22;
Resumo No presente artigo, disserto sobre como o residente forasteiro do antigo Israel, entendido pela Torre de Vigia como um tipo profético da grande multidão, comia a Páscoa, que prefigurava o Novo Pacto que se concretiza na Ceia do Senhor. Isso prova que a grande multidão deve participar do Novo Pacto. |
O residente forasteiro como tipo da grande multidão
A Bíblia ensina que a Lei contém uma sombra das boas coisas futuras. (Hebreus 10:1) Em outras palavras, os detalhes da Lei apontam para realidades em Cristo e na congregação. A quem o “residente forasteiro”, um personagem profético que recebe nobre atenção na Lei mosaica, representava? Ezequiel profetizou sobre o residente forasteiro:
(Ezequiel 47:21-23) 21 “Vocês devem repartir essa terra entre si, entre as 12 tribos de Israel. 22 Vocês devem distribuí-la como herança entre si e entre os estrangeiros que moram com vocês, os que tiveram filhos no seu meio; eles serão para vocês iguais aos israelitas de nascimento. Eles receberão uma herança junto com vocês entre as tribos de Israel. 23 Vocês devem dar ao residente estrangeiro uma herança no território da tribo em que ele tiver estabelecido residência”, diz o Soberano Senhor Jeová.
Em harmonia com essa profecia, a revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 1982, p.19 explicou:
Quando os israelitas entraram na Terra da Promessa, esses tornaram-se o “residente forasteiro que está dentro dos teus portões”. (Êxodo 20:10; Números 35:15; Levítico 19:9, 10) Essa antiga vasta mistura de gente retratava a “grande multidão” de “outras ovelhas” do Pastor Excelente, Jesus Cristo, da atualidade. — João 10:14, 16; Revelação 7:9-17.[1]
Portanto, a Torre de Vigia corretamente ensinou que o residente forasteiro representa a grande multidão.[2]
Sendo que o residente forasteiro representa a grande multidão, surge uma pergunta: será que ele participava da Páscoa?
(Números 9:14) 14 “‘E, se um residente estrangeiro estiver morando entre vocês, ele também deve preparar o sacrifício pascoal para Jeová. Deve fazer isso segundo a lei referente à Páscoa e o procedimento estabelecido. Deve haver uma só lei para vocês, tanto para o residente estrangeiro como para o israelita de nascimento.’”
O residente forasteiro estava debaixo da lei de Jeová e estava pactuado com Jeová assim como um israelita natural. Ele também tinha de cumprir a lei e comer a Páscoa. Da mesma forma, o antitípico forasteiro, a grande multidão, deve participar do novo pacto por comer do pão e beber do vinho na mesa do Senhor.
Essa participação nos alimentos servidos na Páscoa não tinha absolutamente nenhuma relação com a pessoa vir a se tornar sacerdote ou rei em Israel. O objetivo era comemorar a libertação do cativeiro no Egito.
A perda do sentido
Imagine que você, seus pais, seus filhos e amigos achegados sejam convidados para um banquete na casa de alguém muito importante. Esse anfitrião prepara comida e bebida para os convidados. Então, todos os convidados se sentam à mesa, e o anfitrião pega um prato de comida, faz uma prece em agradecimento e dá apenas para seu irmão beber. Os outros convidados ficam apenas olhando. O anfitrião faz a mesma coisa com a bebida. Os demais convidados apenas olham, oram em agradecimento pela comida e bebida, mas não comem nem bebem. Então o anfitrião os manda embora. Essa é uma ceia muito, muito estranha, para dizer o mínimo.
Uma alternativa bem mais coerente seria o anfitrião convidar todos para comer a ceia e, depois que todos participaram dela, alguns dos convidados vão para os aposentos da casa e os demais retornam às suas casas.
Com isso em mente, leia com atenção a passagem a seguir:
(Mateus 22:1-14) 22 Jesus lhes falou novamente com ilustrações, dizendo: 2 “O Reino dos céus pode ser comparado a um rei [Jeová] que fez uma festa de casamento para o seu filho. [Jesus] 3 Ele mandou seus escravos [os profetas] chamar os convidados à festa de casamento, mas estes não quiseram ir. 4 Mandou novamente outros escravos, dizendo: ‘Digam aos convidados: [os judeus carnais] “Já preparei o banquete; meus touros e meus animais gordos já foram abatidos e tudo está pronto. Venham à festa de casamento.”’ 5 Mas os convidados, [judeus carnais] indiferentes, foram embora, um para seu próprio campo, outro para seu negócio; 6 e os outros agarraram os escravos dele, os maltrataram e os mataram.
7 “O rei ficou furioso e enviou seus exércitos, matou aqueles assassinos e queimou a cidade deles. [A destruição de Jerusalém] 8 Depois disse aos seus escravos: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados [judeus carnais] não eram dignos. 9 Portanto, vão às estradas que saem da cidade e convidem para a festa de casamento a qualquer um que encontrarem.’ [gentios] 10 Então, esses escravos foram às estradas e reuniram todos os que encontraram, tanto maus como bons, e a sala para a cerimônia do casamento ficou cheia de convidados.
11 “Quando o rei entrou para verificar os convidados, viu um homem que não estava usando roupa de casamento. 12 Disse-lhe, portanto: ‘Amigo, como você entrou aqui sem roupa de casamento?’ [cristãos de imitação, a cristandade apóstata] Ele ficou sem fala. 13 O rei disse então aos seus servos: ‘Amarrem as mãos e os pés dele, e lancem-no na escuridão lá fora. Ali é que haverá o seu choro e o ranger dos seus dentes.’ 14 “Porque há muitos convidados, mas poucos escolhidos.”
Essa passagem não possui relação alguma em sentido teológico com a Ceia do Senhor. Ainda assim, a lógica do evento é transferível: a grande multidão não possui razão alguma para atender ao inventado “memorial do novo pacto” se não participar dos emblemas. Imagine se os convidados para a festa de casamento apenas se sentassem, vissem a cerimônia, mas não participassem do banquete. Não seria isso muito estranho? Contudo, todos são convidados e naturalmente comem do banquete, mas apenas alguns são escolhidos para o “pacto para um Reino”. Isso sim dá sentido pleno à Ceia do Senhor.
A participação no comer e beber é algo intrínseco à Ceia do Senhor e sem isso ela perde o sentido. Eu confesso que desde a primeira vez que atendi à Ceia do Senhor, quando ainda era estudante da Bíblia não batizado, eu nunca entendi a razão de estarmos presentes em uma ceia da qual não participamos – a liderança das Testemunhas de Jeová (TJs) transformou a Ceia do Senhor em uma exposição culinária.
A forma como a ceia é feita pelas TJs desde a década de 1930 é certamente algo que precisa ser colocado sobre a mesa e reanalisado. Não há razão alguma para os membros da grande multidão, com esperança terrestre, atenderem à ceia do Senhor nos moldes atuais.
A revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 1985, páginas 17, 18 tentou refutar esse fortíssimo argumento da seguinte forma:
9 Há algo mais que não deve ser despercebido. Jesus considerou com seus discípulos dois pactos relacionados, “o novo pacto” e ‘um pacto para um reino’. (Lucas 22:20, 28-30) Ambos os pactos tinham que ver com os participantes se tornarem compartilhadores com Cristo Jesus quais sacerdotes e reis. Mas em Israel, nenhum residente forasteiro circunciso jamais podia tornar-se sacerdote ou rei. Neste respeito, também, encontramos uma diferença entre a festividade da Páscoa, em Israel, e a Refeição Noturna do Senhor.
Em primeiro lugar, não é verdade que o “novo pacto” estivesse relacionado com os seguidores de Jesus se tornarem “sacerdotes e reis”; antes, esse pacto estava relacionado com o perdão de pecados e também com a relação especial com Jeová. O argumento apresentado acima não faz sentido algum, pois basicamente diz que o novo pacto e o pacto para um Reino são dois pactos diferentes com exatamente a mesma finalidade. Isso é sem sentido algum. Se há dois pactos distintos, conforme defende a Torre de Vigia (e eu concordo), estes devem ser diferentes em essência e em finalidade. Do contrário, não há necessidade de haver dois pactos.
Em
segundo lugar, é verdade que “nenhum residente forasteiro circunciso jamais
podia tornar-se sacerdote ou rei”; ainda assim, esse é um argumento falacioso
para concluir que o residente forasteiro não aponta para a grande multidão como
participante do novo pacto. A verdade é que ninguém poderia se tornar rei ou
sacerdote sem que fosse da tribo de Judá ou de Levi. Portanto, o argumento não
se sustenta e deve ser ignorado. Na verdade, esse ponto aponta justamente para
a direção oposta: o residente forasteiro jamais viria a ser rei ou sacerdote e
ainda assim participava da Páscoa; da mesma forma, mesmo que os membros da grande multidão não esperem se tornar reis e sacerdotes, devem tomar da Páscoa antitípica - a ceia do Senhor.
A revista supracitada conclui:
10 Portanto, a que conclusão nos leva isso? O fato de que o residente forasteiro circunciso comia o pão não levedado, as ervas amargas e o cordeiro da Páscoa não determina hoje que os que são das “outras ovelhas” do Senhor e que estão presentes à Comemoração devam tomar o pão e o vinho.
Essa conclusão é falsa, pois os argumentos usados para se chegar a ela são errados e falaciosos. Minha conclusão é de que o residente forasteiro participante da Páscoa é uma excelente evidência da participação da grande multidão na ceia do Senhor.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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[1] Leia também A Sentinela de 15 de junho de 1982, p. 28 par. 13; e a edição de 15 junho de 1987, p. 17 par. 8.
[2] Esse ensino foi abandonado em 2015 com a mudança sobre tipos e antítipos; mas visto que eu creio que cada palavra na Escritura seja inspirada por Deus, retenho o entendimento anterior e aceito que a Lei possua uma sombra das coisas futuras.
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