Fonte: jw.org
“Uma só é a
Divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo; igual a glória, coeterna a
majestade. . . . Igualmente onipotente é o Pai, onipotente o Filho,
onipotente o Espírito Santo . . . Assim, o Pai é Deus, o Filho é
Deus, o Espírito Santo é Deus. E, no entanto, não são três deuses, mas Deus é
um só. . . . E nesta Trindade nada é primeiro ou posterior; nada
maior ou menor; mas todas as três Pessoas são a si coeternas e coiguais.”[2]
A fórmula
proposta para a Trindade inclui basicamente dois fundamentos, que caracterizam
tal doutrina:
1 – A
existência de três pessoas distintas que constituem Deus.
2 – Coigualdade em
glória, eternidade, poder e conhecimento.[3]
Este artigo
analisará a pergunta proposta pelo tema acima à luz do que dizem as Escrituras Hebraicas
– o chamado “Velho Testamento”.
Os
“desprivilegiados” judeus
“Adorais o
que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação se origina
dos judeus.” – João 4:22.
As palavras
acima foram proferidas por Jesus Cristo a uma mulher samaritana. Elas tornam
claro que os judeus conheciam a quem adoravam. Isto levanta a
importante pergunta: as Escrituras Hebraicas tornaram claro para os judeus que
Deus era uma Trindade?
Lemos em
Gênesis 1:26: “E Deus prosseguiu, dizendo: “Façamos
o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança.” O texto menciona Deus
falando a outra pessoa, que participa na ação de fazer o homem. No entanto, não
é possível entender do texto a existência de três pessoas; no máximo, duas.
Segundo, não há nenhuma menção de que aquele a quem Deus fala seja também parte
de Deus. Ao contrário, Deus é mencionado à parte, convidando outro a fazer
junto com ele o homem.[4] O contexto do Velho Testamento apresenta apenas
mais um ser como participando com Deus no período da criação. – Provérbios 8:22-30.[5]
A visita de
três anjos a Abraão também não evidencia nenhuma Trindade, nem de forma
implícita. (Gênesis 18:1) Pois, se supormos que a visita de três anjos revela
que no céu há três pessoas em um só Deus, teríamos de concluir que a visita de
um único anjo indicaria que no céu há uma só pessoa como Deus, e que o
aparecimento de uma “multidão do exército celestial” indicaria que Deus é uma
multiplicidade de pessoas. (Lucas 2:13; 1 Reis 19:5) Isso mostra que não há
nenhuma relação entre a quantidade de anjos enviados por Deus com quem é Deus
nessa questão de quantidade de pessoas.
Na
realidade, o envio de três criaturas espirituais para representar a Deus está
em harmonia com um princípio da justiça divina exposto posteriormente na Lei
mosaica e também no cristianismo, de que “todo assunto tem de ser estabelecido
pela boca de duas ou três testemunhas.” (2 Coríntios 13:1; Deuteronômio 19:15) Os
anjos vieram para contar a Abraão que ele e Sara teriam um filho. Ambos já eram
idosos. (Gênesis 18:10) Abraão dirigiu-se a eles como a “Jeová” por reconhecer
que os anjos representam a Jeová. Contudo, os próprios anjos tornaram claro que
não eram Jeová, mas sim enviados dele, quando disseram a Ló: “Jeová nos enviou
para arruinar a cidade.” – Gênesis 19:13.
Em Êxodo 3:6
Deus se revela desse modo a Moisés: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó.” Quando Moisés inquiriu sobre que
nome ele deveria anunciar aos israelitas escravizados no Egito, Deus respondeu:
“Isto é o que deves dizer aos filhos de Israel: ‘Jeová, o Deus de vossos
antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó enviou-me a
vós.’ Este é o meu nome por tempo indefinido e esta é a recordação de mim por
geração após geração.” (Êxodo 3:15) Será que Moisés – bem como os demais
israelitas – poderiam entender dessas palavras que Deus era uma Trindade? Deus
não disse a Moisés: ‘Eu sou Deus – Pai, Filho e Espírito Santo.’ Não há nada
nas palavras de Deus que levasse os israelitas a concluir que Deus é tal qual
exposto na fórmula trinitária.
Em nenhuma
parte das Escrituras Hebraicas encontramos qualquer indicação de que Deus seja
uma Trindade. A menção do Filho na sua vida celestial é rara e implícita.
(Provérbios 8:22-30; 30:4) E as referências ao espírito santo o colocam como
sendo algo, não uma pessoa. (Salmo 51:11) Embora o espírito santo seja
personificado em Isaías 63:10, o versículo seguinte fala de o espírito ser ‘posto’
ou colocado em pessoas.[6] (Isaías 63:11) Outras passagens descrevem o espírito
santo como ‘enchendo’ pessoas (Êxodo 31:3; 35:31), como sendo parcelado entre
várias pessoas (Números 11:17, 25, 29), como ‘vindo sobre’ e ‘caindo sobre’
pessoas (Juízes 11:29; Ezequiel 11:5), como ‘tornando-se ativo em’ alguém
(Juízes 14:6, 19), e como sendo ‘derramado’ e ‘despejado do alto’. (Ezequiel
39:29; Joel 2:28, 29; Isaías 32:15) A natureza impessoal do espírito santo pode
ser vista na comparação de tal espírito com o “fôlego” de Deus. (Jó 33:4; veja
também Salmo 33:6.) Ademais, ele está associado a coisas impessoais. (Isaías
11:1, 2; 44:3) É evidente que as Escrituras Hebraicas não apresentam o espírito
santo como sendo uma pessoa espiritual, muito menos como sendo parte de um Deus
trino.
Portanto, as
Escrituras Hebraicas não descrevem a Deus como sendo uma Trindade, mas como
sendo uma única Pessoa, cujo nome é Jeová. (Salmo 83:18; Deuteronômio 6:4) Este
é o Deus que os judeus conheceram, o Deus que se apresentou a eles. Se Deus
fosse uma Trindade, os judeus teriam sido grandemente desprivilegiados; pois,
por um período de mais de quinze séculos, teriam adorado apenas uma terça parte
de Deus. A declaração de Jesus, em João 4:22, de que os judeus conheciam a quem
adoravam, ficaria inválida. Afinal, conhecer apenas uma pessoa de um Deus trino
não é realmente conhecer a Deus, é conhecer apenas parte dele.
Assim, o chamado
“Velho Testamento” não ensina a doutrina da Trindade. Não declara que há outras
duas pessoas que formem com Jeová um só Deus. Não coloca o Filho nem o espírito
santo como tendo coigualdade com Jeová em glória, eternidade, poder e
conhecimento.
No próximo
artigo analisaremos a questão: Será que o Novo Testamento ensina a Trindade?
Entretanto, vale ressaltar que essa pergunta, se respondida afirmativamente,
levantaria outras importantes questões: Por que Deus omitiu parte de sua
identidade aos judeus para revelá-la plenamente aos cristãos? Por que Abraão,
um homem descrito como “amigo de Jeová”, e exemplo de fé para os cristãos, não
conheceu realmente a Deus? (Tiago 2:23) Como pôde Deus reconhecer alguém como
sendo seu amigo e não ter se revelado claramente a ele?
Notas:
[1] Dogma é
definido como “ponto ou princípio de fé definido
pela Igreja”, e “proposição apresentada como incontestável e indiscutível”.
– Dicionário Michaelis.
[2] Citação
do Credo Atanasiano, extraído de A Sentinela de 1.º de agosto
de 1984, p. 4.
[3] Assim
sendo, tal doutrina não admite o subordinatismo, a doutrina que defende que o
Logos é subordinado ou inferior ao
Pai.
[4] O
verbo “fazer” (em hebraico: ‘asah) é diferente do verbo “criar” (em
hebraico: bará), atribuído apenas a Deus. (Gênesis 1:1, 27) O próprio
Jesus Cristo reconheceu que o Criador é apenas uma única Pessoa, quando disse,
no singular: “Aquele que os criou.” – Mateus 19:4.
[5] Considerações
sobre Provérbios 8:22-30 foram feitas nos seguintes artigos: Como
deve ser traduzido Provérbios 8:23?, Provérbios
8:22 – “me possuiu” (Almeida) ou “me produziu” (TNM)? e A
identidade de Jesus Cristo (Parte final).
[6] Veja
o artigo: Personificação
prova personalidade?
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser
citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Postar um comentário
𝐄𝐒𝐓𝐄 É 𝐔𝐌 𝐒𝐈𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐍Í𝐕𝐄𝐋 𝐀𝐂𝐀𝐃Ê𝐌𝐈𝐂𝐎. 𝐀𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓𝐀𝐑, 𝐔𝐒𝐄 𝐋𝐈𝐍𝐆𝐔𝐀𝐆𝐄𝐌 𝐀𝐂𝐀𝐃Ê𝐌𝐈𝐂𝐀, 𝐒𝐄𝐌 𝐈𝐍𝐒𝐔𝐋𝐓𝐎𝐒, 𝐒𝐄𝐌 𝐏𝐀𝐋𝐀𝐕𝐑𝐀𝐒 𝐃𝐄 𝐁𝐀𝐈𝐗𝐎 𝐂𝐀𝐋Ã𝐎. 𝐍Ã𝐎 𝐑𝐄𝐏𝐈𝐓𝐀 𝐎𝐒 𝐀𝐑𝐆𝐔𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐁𝐀𝐓𝐈𝐃𝐎𝐒, 𝐍Ã𝐎 𝐃𝐄𝐒𝐕𝐈𝐄 𝐃𝐎 𝐀𝐒𝐒𝐔𝐍𝐓𝐎. 𝐒𝐄 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐒 𝐑𝐄𝐆𝐑𝐀𝐒 𝐍Ã𝐎 𝐅𝐎𝐑𝐄𝐌 𝐂𝐔𝐌𝐏𝐑𝐈𝐃𝐀𝐒, 𝐒𝐄𝐔 𝐂𝐎𝐌𝐄𝐍𝐓Á𝐑𝐈𝐎 𝐒𝐄𝐑Á 𝐑𝐄𝐏𝐑𝐎𝐕𝐀𝐃𝐎.