Fonte: jw.org
A respeito do artigo “A forma do instrumento da morte de Cristo é um assunto irrelevante?”, um leitor teceu o seguinte comentário:
A sua explicação: João 3:14: “E, assim como Moisés ergueu a serpente no
deserto, assim será erguido o Filho do Homem.” Essa é uma profecia que fala a
respeito da forma como Jesus seria pregado. Como é uma profecia, sabemos que as
profecias se cumprem de acordo com o que é profetizado.
Sentinela 01/07/1960, Pg.408: Jeová Deus conhece o coração do homem,
que é traiçoeiro e desesperado. Sabe que está inclinado a adorar a criatura
mais do que ao Criador; um exemplo flagrante disso foi dado pelos israelitas
quando adoraram a serpente de cobre que Moisés fizera no deserto.
Resposta:
A Bíblia não menciona como a
serpente de cobre foi pendurada, nem se foi fixada com pregos. E isto não é
relevante para o assunto em questão. O que é relevante é que ela foi pendurada em um poste (“haste”, Almeida Corrigida Fiel), ou seja, em um
único pedaço de pau, e não em dois paus cruzados. E as Escrituras são claras em
afirmar que do mesmo modo Jesus seria
erguido em uma estaca, um único
poste, não em uma cruz de duas vigas. Acrescente-se a isso que o sentido
etimológico da palavra usada para o instrumento de execução de Cristo – staurós – significa “estaca”, “poste
reto”, e não uma cruz de duas vigas.
Com relação à referida maldição
dada no jardim do Éden, vejamos o que diz Gênesis 3:14: “Então Jeová Deus disse
à serpente: ‘Por ter feito isso, você é maldita entre todos os animais
domésticos e todos os animais selvagens. Sobre o seu ventre você rastejará, e
comerá pó todos os dias da sua vida.’” Esta maldição suscita algumas perguntas:
Será que Deus falaria com um animal irracional, o qual não teria condições de
entender o que Deus estava falando? Deus culparia um animal irracional, que não
teria condições de ter realizado a argumentação sedutora feita com Eva? Afinal, qual
foi o verdadeiro alvo dessa maldição?
Lemos em Apocalipse 12:9: “Assim,
foi lançado para baixo o grande dragão, a serpente original [ “a antiga
serpente”, Bíblia Pastoral] , o
chamado Diabo e Satanás, que está enganando toda a terra habitada. Ele foi
lançado para baixo, à terra, e os seus anjos foram lançados para baixo junto
com ele.” A revista A Sentinela (15/06/2007,
p. 31) comentou sobre isso:
[…]
o verdadeiro alvo da condenação de Jeová era Satanás — o espírito
invisível que fez mau uso daquele animal inferior. A Bíblia chama Satanás de
“pai da mentira” e “serpente original”. Essas expressões pelo visto se referem
ao fato de Satanás ter usado um animal visível, a serpente, como seu porta-voz
para induzir Eva a desobedecer à ordem de Deus. — João 8:44; Revelação
(Apocalipse) 20:2.
[…]
Então, por que Deus falou do rebaixamento físico da serpente? O comportamento típico da serpente no seu ambiente natural, rastejando em seu ventre e agitando a língua como se fosse lamber o pó, simbolizava muito bem a condição rebaixada de Satanás.
Portanto, quando a Bíblia relata
que “ela [a serpente] disse à mulher”, está na verdade descrevendo o uso que o
anjo mau fez da serpente, quando ele falou usando-a como um instrumento
visível. Logo, foi tal anjo quem foi amaldiçoado por Deus. Não seria justo que
um animal irracional fosse penalizado por algo que não queria nem seria capaz de
realizar. Como comentou o periódico acima citado:
Não se pode culpar a serpente irracional que falou com Eva. Aquele animal não tinha condições de saber que Satanás o manipulava ou de entender o julgamento de Jeová contra os desobedientes. – 15/06/2007, p. 31.
Quanto a Deus ter usado uma
serpente de cobre para restaurar a saúde física dos israelitas no deserto,
considere o contexto desta ação, em Números 21:5-9, que reza: “E o povo falava
contra Deus e Moisés: ‘Por que vocês nos tiraram do Egito para morrermos no
deserto? Aqui não há comida nem água, e nós odiamos este pão desprezível.’ Então
Jeová enviou serpentes venenosas contra o povo e elas os picaram, de modo que
muitos israelitas morreram. O povo foi então a Moisés e disse: ‘Pecamos ao
falar contra Jeová e contra o senhor. Interceda junto a Jeová para que tire as
serpentes do nosso meio.’ E Moisés intercedeu pelo povo. Jeová disse então
a Moisés: ‘Faça uma imitação de uma cobra venenosa e coloque-a num poste.
Quando alguém for picado, terá de olhar para ela para ficar vivo.’ Moisés
fez imediatamente uma serpente de cobre e a colocou num poste; e, sempre que
uma serpente picava um homem e ele olhava para a serpente de cobre, continuava
vivo.”
Deus usou serpentes, que são
animais comuns nos desertos, para punir os israelitas resmungadores. Quando o
povo se arrependeu, Jeová orientou Moisés a fazer “uma imitação de uma cobra
venenosa”, que deveria ser olhada pelos que fossem picados pelas serpentes, a
fim de que se recuperassem das picadas. Tendo em vista que Jesus se referiu a
este evento para ilustrar tanto o modo como ele seria erguido na estaca como o
modo em que as pessoas seriam salvas por meio dele, uma explicação que parece
coerente com o contexto bíblico seria a seguinte:
O instrumento de salvação da
humanidade precisaria ser equivalente ao instrumento que levou à humanidade ao
pecado e à morte. Ou seja, foi um homem perfeito – Adão – que condenou a
humanidade. Correspondentemente, teria de ser outro homem perfeito – Jesus Cristo
– o salvador da raça humana. Romanos 5:15 declara: “Pois, se pela falha de um
só homem [Adão] muitos morreram, quanto mais a bondade imerecida de Deus e a
sua dádiva por meio da bondade imerecida de um só homem, Jesus Cristo, transbordaram
para muitos!” No cristianismo, tal verdade recebeu o nome de doutrina da
Redenção, da Remissão, ou do Resgate. “Cristo Jesus … se entregou como resgate correspondente por todos.” – 1 Timóteo
2:5, 6; veja o artigo “A Cristandade e a Doutrina da Redenção”.
Diante do exposto acima, parece
mui razoável e coerente que Deus usasse como instrumento da restauração física
dos israelitas algo que lembrasse o que trouxe a doença deles. Óbvio que nem todos
os elementos em Números, capítulo 21, se adequam aos elementos da doutrina do
Resgate. Para entender isso, veja o paralelo que Jesus traçou entre ele e o
profeta Jonas, quando Jesus declarou: “Porque,
assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do enorme peixe,
assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra.” (Mateus
12:40) Contudo, nem todos os aspectos envolvendo Jonas se aplicam a Jesus
Cristo. Jonas a princípio fugiu de sua designação; e, após tê-la cumprido,
reclamou pelo fato de as coisas não terem acontecido conforme ele esperava.
(Veja Jonas 1:3; capítulo 4) Nada disso ocorreu com o Filho de Deus. Portanto,
um paralelo bíblico precisa ser entendido dentro do contexto em que é
mencionado. No caso do relato de Números, capítulo 21, o paralelo foi o
mencionado por Jesus: o modo como ele seria erguido, e o fato de que, assim
como a serpente de cobre serviu de salvação para os demonstraram fé e foram
obedientes, do mesmo modo Jesus servirá de salvação para os obedientes com
fé.
No caso da serpente de cobre,
ela não era um ídolo. Deus não ordenou que os israelitas fizessem dela um
objeto de adoração. A própria Lei mosaica era estritamente contra a idolatria. O
segundo dos Dez Mandamentos condenava fazer uma imagem para ser objeto de
adoração. (Êxodo 20:4, 5) Assim, quando os israelitas, agindo contrário à Lei
de Deus, tornaram tal serpente um ídolo, Deus providenciou que o bom Rei
Ezequias a destruísse, conforme lemos em 2 Reis 18:4: “Foi ele quem removeu os
altos sagrados, despedaçou as colunas sagradas e derrubou o poste sagrado.
Também triturou a serpente de cobre que Moisés tinha feito, pois até aquela
época o povo de Israel fazia fumaça sacrificial a ela; e eles a chamavam de
ídolo-serpente de cobre.”
Portanto, não há nenhuma
incoerência em Deus ter usado uma serpente de cobre como instrumento da
restauração física do seu povo.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada pelas Testemunhas de Jeová.
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