Filósofo grego Aristóteles
Fonte: jw.org
O artigo anterior analisou alguns
argumentos do trinitarista Willian Lane Craig
com base na filosofia à luz do que a Bíblia diz. Este artigo dará
prosseguimento ao assunto, trazendo a lume outros argumentos filosóficos de
Craig em comparação com a Palavra de Deus.
Os termos bíblicos
“Pai” e “Filho” para explicar a relação entre Deus e Jesus Cristo
Craig
tenta explicar assim porque a Bíblia fala de “Pai” e “Filho” na relação entre Deus
e Jesus Cristo:
De acordo
com a doutrina clássica da Trindade promulgada no Concílio de Niceia, Deus o
Pai eternamente gera Deus o Filho. Esta relação é às vezes chamado de filiação,
para que haja uma relação filial intrínseca entre a primeira e segunda pessoa
da Trindade. Por isso, é impossível para aquelas pessoas se relacionarem como
meros amigos, companheiros, colegas ou irmãos.[1]
Na realidade, as expressões “Pai” e “Filho”, usadas
na Bíblia para explicar a relação entre o Deus Criador e Jesus Cristo,
claramente indicam a desigualdade entre ambos no que diz respeito ao poder,
autoridade e tempo de existência. Pois, se a Bíblia quisesse que entendêssemos
Deus e Jesus como sendo coiguais, ela usaria o termo “irmãos” para explicar a
relação entre ambos.
Lembre-se
de que a Bíblia explica coisas espirituais nos moldes humanos, para que
possamos entendê-los. Assim, ela menciona Jeová, o Deus Todo-Poderoso, como
sendo “um ancião de dias”, com cabelos brancos “como a pura lã”. (Daniel 7:9, ACF) Sabemos que os cabelos brancos são
uma consequência do pecado, que causou o envelhecimento. Mesmo assim, a Bíblia
usa essa figura teofânica de Deus tendo em vista nossa experiência de vida após
o surgimento do pecado, na qual existem cabelos brancos, e estes representam a
longa experiência de vida.
De
modo similar, a Bíblia usa outros termos que nos sejam compreensíveis para
explicar certas capacidades e atuações de Deus. Por exemplo, ela fala dos
“olhos”, “ouvidos”, e da “boca” de Deus, para ilustrar sua visão, audição e
comunicação. (Veja 1 Pedro 3:12.) Tais usos antropomórficos visam nos dar uma
compreensão de Deus nos nossos termos.
Por
isso, o uso das expressões “Pai” e “Filho” para descrever a relação entre Jeová
e Jesus Cristo é relevante. Mostra a superioridade de Jeová em relação a Jesus
Cristo. Por outro lado, a expressão desenvolvida pelos trinitários – “Filho
eterno” – está totalmente contra a lógica. Pois, a própria ideia de “filho” já
pressupõe um início de vida.[2]
O problema das
supostas “duas naturezas” do Filho
Para
desviar-se da contradição matemática da afirmação de que Jesus é cem por cento
Deus e cem por cento homem, Craig
propõe que:
Jesus era
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; ele tinha todas as
propriedades essenciais da humanidade e todas as propriedades essenciais da
divindade.[3]
Contudo, essa proposição choca-se frontalmente com
a doutrina da Redenção, ou Resgate. Pois Jesus, como “último Adão”, não poderia
jamais ser um Deus-Homem, do mesmo modo que o primeiro homem, Adão, não era um
Deus-Homem. (1 Coríntios 15:45; veja os artigos “A Cristandade e a Doutrina da Redenção” e “Artigo especial: Por que Jesus teve de sofrer e morrer?”.)
Jesus morreu inteiramente ou apenas uma parte dele?
Com base na doutrina não-bíblica das “duas
naturezas” de Jesus Cristo, Craig tenta explicar a morte de Jesus Cristo da
seguinte maneira:
Então,
quando Jesus morreu na cruz, sua natureza humana morreu. Não sua natureza
divina. Ele morreu como um homem.
A morte
humana é a separação da alma do corpo e isso é o que aconteceu quando Jesus
Cristo expirou na cruz, sua alma foi separada do seu corpo, o que fez com que
seu corpo ficasse sem vida e fosse deixado no túmulo, e então, como nós
cristãos cremos, ressuscitasse entre os mortos.
Então é
considerado que a natureza divina, a pessoa divina de Cristo, não foi de forma
alguma extinta na morte da natureza humana de Cristo na cruz.[4]
Primeiro de tudo, vale ressaltar que, ao tornar-se
humano, Cristo deixou para trás sua natureza divina. “Sendo ele de condição divina” (Filipenses 2:6, AM), abriu mão dessa condição, “esvaziou-se a si mesmo, tomando a
forma de servo, tornando-se semelhante aos homens” (Filipenses 2:7, ARIB). “E, achado na forma de homem [não
de Deus-Homem], humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte”
(Filipenses 2:8, ACF). Observe a
clareza de tais palavras! Jesus Cristo, na Terra, era plenamente homem, um
homem perfeito, assim como Adão havia sido antes de pecar.
Além disso, não foi seu corpo, mas
sua alma, que foi ao Seol (palavra
hebraica para sepultura comum da humanidade). Lemos no Salmo 16:10: “Pois não deixarás a minha alma no Seol.” (ARIB) O
apóstolo Pedro falou sobre o cumprimento dessa profecia, conforme relatou Lucas
em Atos 2:31, onde lemos: “Nesta previsão, [Davi] disse da ressurreição de
Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades [equivalente grego do hebraico
Seol].” – ARC.
Os três ‘eus’
de Deus, segundo Craig
Observe
outra explicação dada por Craig: “Assim como eu possuo consciência da minha
pessoa, Deus é um ser com três consciências, três ‘Eus’. Em outras palavras,
três pessoas.”[5] No
entanto, isso colide frontalmente com os usos por Deus dos pronomes na primeira
pessoa do singular. Veja os exemplos abaixo:
“Deus
disse a Noé: ‘Chegou o fim de toda a carne diante de mim.’” – Gênesis 6:13.
“Depois
disso, Jeová disse a Noé: ‘Entre na arca, você e todos os da sua casa, porque
você é quem eu vi ser justo diante de
mim no meio desta geração.’” – Gênesis 7:1.
“Quando
Abrão tinha 99 anos, Jeová apareceu a Abrão e lhe disse: ‘Eu sou o Deus
Todo-Poderoso. Ande diante de mim e
mostre-se íntegro.’” – Gênesis 17:1.
“Eu
sou Jeová, seu Deus, que o tirou da terra do Egito, a terra da escravidão. Não
tenha outros deuses além de mim.” -
Êxodo 20:2, 3.
“Jeová
disse então a Moisés: ‘Lavre duas tábuas de pedra iguais às primeiras, e eu escreverei nas tábuas as palavras
que estavam nas primeiras tábuas, que você despedaçou. Esteja pronto pela
manhã, visto que de manhã você subirá ao monte Sinai e se apresentará diante de mim, lá no cume do monte.’” – Êxodo
34:1, 2.
“Jeová
me disse: ‘Reúna o povo diante de mim
para que ouçam as minhas palavras, a
fim de que aprendam a me temer todos
os dias em que viverem sobre a terra e para que ensinem os seus filhos.’” –
Deuteronômio 4:10.
“‘Assim
é este povo, e assim é esta nação diante de
mim’, diz Jeová.” – Ageu 2:14.
Tendo em vista que, na expressiva maioria dos
casos, Deus fala na primeira pessoa do singular, é óbvio que, nas raríssimas
vezes em que ele usa o plural, não está falando consigo mesmo, nem com outra
pessoa que seja parte dele mesmo, mas com outra pessoa, não apenas distinta
dele como pessoa, mas também que não é o mesmo Deus que ele. Prova disso é o
seguinte: Quando Deus usa verbos que expressam atividades que não são
exclusivas dele, ele às vezes usou o pronome e o verbo no plural (“façamos”,
Gênesis 1:26; “desçamos”, Gênesis 11:7). Porém, quando Deus se refere a
atividades exclusivas dele, como o ato de criar, o verbo está no singular, a
exemplo de Gênesis 1:27, que declara: “Deus
criou o homem à sua imagem, à imagem
de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Veja o artigo “Diferença entre ‘criar’ e ‘fazer’”.)
Os
nobres esforços de Willian Lane Craig em defender a existência de Deus diante
de ateístas e evolucionistas proeminentes merecem elogios. Por outro lado,
tentar sustentar uma doutrina pagã – a doutrina da Santíssima Trindade – e
ainda pelo uso da filosofia não condiz com o que Jesus disse a seu Deus e Pai
em João 17:17: “A tua palavra é a verdade.”
Notas:
[1] CRAIG, William Lane. Por que Deus o Pai e Deus o Filho? Reasonable Faith. Disponível
em: <https://www.reasonablefaith.org/translations/dutch/question-answer/por-que-deus-o-pai-e-deus-o-filho/>.
[2] Sobre a comparação trinitária da geração do Filho com a luz gerada pelo fogo, veja o artigo “Análise da analogia trinitária do fogo”.
[3] ______. Reasonable Faith, Defenders 2 Class: Doctrine
of Christ (part 1), disponível em:
<http://www.reasonablefaith.org/defenders-2-podcast/transcript/s6-1#_ftn5>.
Apud “A Verdade Que Existe”, de Felipe Soares Forti. São Paulo. Clube dos
Autores. 2018. Disponível em: https://books.google.com.br/books>.
[4] ______. Deus esteve morto por três dias? 23 out 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vJYbSb3VP9E>.
[4] ______. Deus esteve morto por três dias? 23 out 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vJYbSb3VP9E>.
[5] CRAIG, William Lane. The Doctrine of the Trinity 1 (A Doutrina
da Trindade), Série de Preleções Defenders. Apud “Espaço
dos diretores”. 17 maio de 2011. Disponível em: <https://directors.tfionline.com/>.
Explicação das siglas usadas:
ACF: Almeida Corrigida Fiel.
AM: Bíblia Ave Maria.
ARC: Almeida Revista e Corrigida.
ARIB: Almeida Revisada Imprensa Bíblica.
Referências:
Bíblia Online.
Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/dn/7>.
Deus esteve morto por tres dias? Disponível
em: <https://felipealvesm.wordpress.com/2015/04/03/deus-esteve-morto-por-tres-dias-william-lane-craig/
Qual seria uma boa analogia para a Trindade? - William Lane Craig.
Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=_NzQ5FS1KSY
Resonable
Faith. A trindade é alucinante? Disponível
em: <https://pt.reasonablefaith.org/artigos/pergunta-da-semana/a-trindade-e-alucinante/>.
______. Doutrina de Cristo. Disponível
em: <https://www.reasonablefaith.org/podcasts/defenders-podcast-series-2/s2-doctrine-of-christ/doctrine-of-christ-part-1/#_ftnref5>.
______. Por que Deus o Pai e Deus o Filho? Disponível
em: <https://www.reasonablefaith.org/translations/dutch/question-answer/por-que-deus-o-pai-e-deus-o-filho/>.
Sociedade
Bíblica do Brasil. Disponível em: <http://www.sbb.org.br/conteudo-interativo/pesquisa-da-biblia/>.
A
menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do
Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
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